Coração do atleta pode apresentar diferenças estruturais | Revista Médica Ed. 7 - 2009

Para o médico, o desafio é saber quando as alterações resultam de uma adaptação ao exercício e quando significam risco de morte súbita.

Para o médico, o desafio é saber quando as alterações resultam de uma adaptação ao exercício e quando significam risco de morte súbita.

Não é raro o atleta de elite evidenciar uma adaptação do sistema cardiovascular como resultado do treinamento intensivo a que se submete. Essas mudanças incluem principalmente o aumento do diâmetro diastólico e da espessura das paredes do ventrículo esquerdo, com consequente elevação de seu índice de massa, como já demonstrado por alguns estudos. A combinação de uma espessura ventricular aumentada com diâmetro diastólico normal ou levemente maior pode caracterizar o padrão geométrico conhecido como hipertrofia ventricular concêntrica, se o índice de massa estiver elevado, ou o padrão de adaptação concêntrica, se esse índice estiver dentro da normalidade. Na maioria das vezes, porém, as adaptações cardíacas regridem algumas semanas após a interrupção do treinamento físico. Há, entretanto, uma “zona cinzenta”, na qual tais alterações costumam gerar dúvidas quanto à sua etiologia – se adaptativas da prática do esporte, se decorrentes de alguma doença –, constituindo uma fonte de preocupação para os médicos, uma vez que a morte súbita em atletas, apesar de rara, tem grande impacto familiar e social, além de repercussão na mídia. É fundamental, portanto, identificar e diferenciar os pacientes que se encontram nessa faixa duvidosa, missão em que o ecocardiograma bidimensional possui um importante papel. Evidentemente, essa diferenciação precisa ser complementada com outros dados, como história de cardiomiopatia hipertrófica ou de morte súbita na família, presença de alterações ao eletrocardiograma e grau de tolerância ao exercício. O diagnóstico correto pode, por um lado, prevenir alguns atletas da morte súbita e, por outro, liberar a maioria para a prática esportiva – o que, no entanto, não significa que se deva solicitar ecocardiograma para todos os atletas competitivos. Conforme estabelecido pela Sociedade Europeia de Cardiologia e pelo Comitê Olímpico Internacional, o eletrocardiograma de repouso, a história clínica do paciente e seus antecedentes familiares, assim como um bom exame físico, são suficientes para identificar quem apresenta maior risco e, portanto, tem indicação de realizar a avaliação ecocardiográfica e outros exames complementares.

O coração do atleta ao ecocardiograma

Indivíduo saudável com adaptação ao exercício
Portador de cardiomiopatia hipertrófica
- Hipertrofia excêntrica
- Espessura da parede menor que 15 milímetros
- Cavidade ventricular normal ou discretamente aumentada
- Funções sistólica e diastólica sempre normais
- Relação espessura septal/parede posterior usualmente normal
- Ausência de movimento sistólico anterior da valva mitral
- Cavidade possivelmente normal ou até mesmo diminuída
- Septo interventricular maior que 15 milímetros
- Relação septo/parede posterior maior que 1,3 (hipertrofia assimétrica)
- Função diastólica com frequência alterada
- Função sistólica normal ou aumentada
- Possível aumento do átrio esquerdo
- Eventual obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo pela hipertrofia septal assimétrica, associada ao movimento anterior sistólico da valva mitral


Assessoria Médica
Dr. Jorge Luiz Mello Sampaio: [email protected]
Dr. Jorge Luiz Mello Sampaio: [email protected]


Leia mais sobre as alterações no coração do atleta aqui.