Cuidados com o coração do atleta | Revista Médica Ed. 3 - 2015

A prática de atividade física vem se tornando cada vez mais comum.

A prática de atividade física vem se tornando cada vez mais comum. Segundo dados de 2013 da pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), o percentual de brasileiros que se exercitam de forma suficiente (≥30 minutos/dia de atividade de intensidade leve ou moderada por ≥5 dias por semana ou ≥20 minutos/dia de atividade de intensidade vigorosa por ≥3 dias por semana) durante o tempo livre aumentou 11% nos últimos cinco anos (de 30,3% para 33,8%). Além disso, há de se considerar um contingente importante de pessoas que se dedicam profissionalmente ao esporte.

A Associação Americana do Coração (AHA) e a Sociedade Europeia de Cardiologia recomendam o screening cardiovascular pré-participação esportiva como um procedimento sistemático antes do início da atividade física, feito com o propósito de identificar anormalidades que possam provocar a progressão de doenças cardiovasculares preexistentes ou mesmo morte súbita, que, apesar de rara, tem grande impacto familiar e social.

Independentemente da idade do indivíduo, a avaliação clínica deve considerar a história médica e o exame físico próprios da área, além dos antecedentes familiares suspeitos, a exemplo de morte prematura ou incapacidade por doença cardíaca em parente próximo com menos de 40 anos, assim como casos de arritmias severas, síndrome de Marfan, cardiomiopatia hipertrófica, cardiopatia dilatada, síndrome do QT longo e outras doenças congênitas dos canais de íons.

A indicação de testes complementares é ainda controversa sobretudo porque, em vista da baixa prevalência de morte súbita, estamos falando de rastrear muitas pessoas para encontrar um grupo de risco realmente pequeno. Diante disso, a AHA preconiza que a investigação seja aprofundada apenas quando houver indícios de anormalidades identificadas pela avaliação clínica, com o uso de eletrocardiograma (ECG) de repouso, teste ergométrico, ecodopplercardiograma e outros exames de maior complexidade.

Por outro lado, um grupo de pesquisadores italianos criou um programa de screening para jovens atletas competitivos que combina, à anamnese e ao exame físico, o ECG já na investigação inicial. Esse modelo, que conta com o endosso de várias entidades esportivas e médicas, tem eficácia comprovada apenas para identificar cardiomiopatias, mas não anomalias congênitas coronarianas e doença aterosclerótica prematura, que afetam em maior proporção os jovens atletas. Entre as duas correntes, portanto, vale o bom senso e um cuidado redobrado com a avaliação clínica, que, mais uma vez, se mostra soberana.

Metabolismo basal e limite físico

De qualquer modo, alguns exames complementares podem ser bastante úteis para acompanhar indivíduos que praticam ou pretendem praticar atividade física. O teste de metabolismo de repouso, que calcula a taxa metabólica de acordo com dados clínicos e a análise dos gases respiratórios, ajuda a planejar uma rotina de alimentação para pessoas que precisam seguir uma dieta diferenciada, combinada a um programa de exercícios. Já o teste cardiopulmonar contribui para o médico fazer prescrições de exercícios personalizadas, visto que discrimina a intensidade de atividade aeróbica segura para cada indivíduo e ainda oferece uma série de detalhes fisiológicos importantes para o seguimento da evolução do paciente, como o gasto energético durante a atividade física, sem contar sua grande utilidade na avaliação e no acompanhamento de portadores de doenças cardiovasculares e pulmonares.


*Antonio Sérgio Tebexreni
é assessor médico do Fleury em Cardiologia.
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