Dilemas na interpretação do FAN | Revista Médica Ed. 5 - 2008

A triagem desvinculada de sintomas aumenta a chance de resultados positivos em pessoas sem doença auto-imune aparente.

A triagem desvinculada de sintomas aumenta a chance de resultados positivos em pessoas sem doença auto-imune aparente.

A pesquisa de auto-anticorpos contra antígenos celulares, também conhecida como fator antinúcleo ou FAN, tem grande utilidade na investigação de doenças auto-imunes. No entanto, com o advento de metodologias progressivamente mais sensíveis, houve um aumento na detecção de padrões anormais que podem carecer de especificidade diagnóstica. Estima-se que a freqüência de testes positivos de FAN em pessoas sem evidências clínicas de processos de auto-imunidade varie entre 10% e 15%. O fato é que a chance de um resultado “positivo” sem significado clínico se eleva em triagens realizadas em indivíduos que não apresentam sintomatologia compatível. De qualquer modo, a valorização de um resultado positivo de FAN depende do padrão observado e dos títulos detectados.



Aparelho de Golgi

Centromérico



Pontilhado fino denso

Pontilhado fino simples

Enquanto alguns deles são bastante característicos de determinadas doenças auto-imunes, outros têm pouca especificidade e podem estar presentes em pessoas sadias ou em portadores de condições clínicas não relacionadas com auto-imunidade. Um estudo feito no Fleury com 30.728 amostras analisadas para FAN mostrou que a grande maioria das 13.641 pesquisas positivas apresentava padrões em geral não associados a doenças auto-imunes sistêmicas (veja quadro), especialmente o pontilhado fino simples em títulos baixos (até 1/160) e o pontilhado fino denso em qualquer título. Em contrapartida, o encontro de um FAN em título moderado ou alto, com padrão homogêneo, pontilhado grosso, nucleolar ou centromérico, remete a uma maior possibilidade de doença auto-imune manifesta ou incipiente, implicando a monitoração judiciosa do paciente. A presença concomitante de alterações laboratoriais sugestivas de processo auto-imune também contribui para a valorização do achado do FAN, a exemplo de auto-anticorpos específicos (anti-DNA nativo, anti-Sm, anti-Scl-70, etc.), níveis anormais de complemento sérico, indícios de citopenias hematológicas e nefrite. Embora todas essas recomendações sejam indispensáveis para a interpretação do FAN, o contexto clínico deve vir em primeiro lugar para a definição da relevância de um eventual resultado anormal.

Assessoria Médica
Dr. Luis Eduardo C. Andrade: [email protected]