Manejo de pacientes com câncer de próstata de baixo risco | Revista Médica Ed. 5 - 2016

É possível ter segurança no acompanhamento clínico ativo?

É possível ter segurança no acompanhamento clínico ativo?


Dra. Mônica Stiepcich*


O rastreamento do câncer de próstata por meio da avaliação dos níveis séricos de PSA levou ao aumento do diagnóstico precoce dessa neoplasia. Na maioria dos pacientes, contudo, o tumor é indolente e permanece restrito à glândula por longos períodos ou anos. Dados de diversos trabalhos que avaliaram o grau histológico e o potencial de agressividade da doença pelo estudo histológico completo da próstata mostram que, em apenas uma pequena parcela dos casos – de 3% a 15% -, o câncer pode ocasionar risco significativo de progressão e de eventual morte. 


Apesar das altas taxas de cura da cirurgia radical, os efeitos colaterais decorrentes dos procedimentos para tratar a neoplasia prostática, como incontinência urinária, alterações na fertilidade e disfunção intestinal e erétil, costumam ter impacto importante na qualidade de vida desses indivíduos. 


Uma das opções para os homens com câncer de próstata de baixo risco clínico, ou seja, com neoplasia grau 6 (3+3) ou 7 (3+4) em até quatro locais diferentes biopsiados, com comprometimento de menos de 50% da extensão dos fragmentos e com nível de PSA inferior a 20 ng/mL, é o acompanhamento clínico ativo (active surveillance). Nesse tipo de seguimento, o paciente realiza dosagens sequenciais de PSA para avaliar a dinâmica do marcador sérico, além de repetir a biópsia transretal de próstata. A cirurgia radical ou, eventualmente, outras opções de tratamento podem, assim, ser postergadas por um ou mais anos. A possibilidade de evolução da doença, entretanto, acaba sendo uma preocupação constante nessa situação. 


Com o aval da biologia molecular


Atualmente, o avanço das técnicas biomoleculares tem permitido o estudo do potencial comportamento biológico de diversas neoplasias. No câncer de próstata, o Oncotype DX® Genomic Prostate Score (GPS) fornece informações detalhadas da eventual agressividade local e do risco de extensão extraprostática do tumor. 


Feito em material de biópsias transretais dos últimos seis meses, incluído em parafina de forma convencional, o teste utiliza a reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR) para determinar a expressão de 17 genes, no tecido tumoral, relacionados às características do estroma, à organização e à proliferação celular e à expressão de andrógenos. Com base nos resultados do estudo desses genes, calcula-se, então, o GPS, cuja pontuação varia de 0 a 100. Quanto menor esse escore, menor o risco de o paciente ter uma neoplasia biologicamente mais agressiva.


O fato é que, com essa análise, a opção de adiar o procedimento cirúrgico ou o tratamento definitivo pode ser embasada em uma avaliação objetiva e individualizada do tumor em cada paciente, proporcionando maior segurança à decisão clínica.


  

*Mônica Stiepcich é assessora médica do Fleury em Patologia.

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