Nem todo paroxismo tem origem epiléptica | Revista Médica Ed. 3 - 2010

Uma das maiores dificuldades para o clínico que é confrontado com fenômenos paroxísticos de curta duração está no fato de que raramente ele presencia esses eventos.

Uma das maiores dificuldades para o clínico que é confrontado com fenômenos paroxísticos de curta duração está no fato de que raramente ele presencia esses eventos. Para uma tentativa de caracterização clínica mais detalhada, o médico depende do relato, nem sempre imparcial, do paciente e do acompanhante, em episódios com perda de consciência. É claro que existem evidências, obtidas por meio de exames de neuroimagem e do eletroencefalograma ambulatorial, que permitem o diagnóstico em muitos casos. Mas, em outras situações, a incerteza diagnóstica se instala por conta da falta de informações mais consistentes, dificultando as decisões terapêuticas ou, então, causando uma resposta insatisfatória do paciente ao tratamento medicamentoso. Nesses casos, o videoeletroencefalograma (vídeo-EEG) também oferece uma grande contribuição.

Contudo, o diagnóstico diferencial entre a epilepsia e os eventos não epilépticos, fisiológicos ou psicogênicos, não se limita a observar a presença ou constatar a ausência de anormalidades epileptiformes ao EEG durante o evento paroxístico. Embora estejam presentes em todas as crises tônico-clônicas generalizadas e em mais de 90% das crises parciais complexas, as descargas epileptiformes são encontradas em apenas cerca de 30% das crises parciais simples. Em outras situações, o traçado eletroencefalográfico pode ainda ser encoberto por artefatos musculares e de movimento, o que dificulta a interpretação do exame. Na ausência de um nítido correlato eletrográfico durante a crise, há necessidade de recorrer a outros dados para definir se o evento em questão tem mesmo origem epiléptica, como a natureza estereotipada (ou não) do episódio, o estágio fisiológico em que ele ocorre – crises não epilépticas psicogênicas tipicamente não são verificadas no período do sono – e a fenomenologia clínica.

Os eventos não epilépticos de ordem fisiológica requerem o diagnóstico diferencial com a epilepsia, particularmente na infância. Afinal, diversos deles se manifestam de forma paroxística, cursando com ou sem perda de consciência, o que pode levar a uma conclusão errônea e, por conseguinte, a um tratamento desnecessário. A anamnese cuidadosa, com a descrição precisa das características que ocorrem antes, durante e após o fenômeno, a faixa etária, a presença de doença neurológica preexistente, de paralisia cerebral ou de deficiência mental e a ocorrência dos episódios em certas ocasiões, incluindo o estado de vigília ou sono, apontam a definição diagnóstica na maioria dos casos. O EEG de rotina e, em determinadas situações, a polissonografia permitem esclarecer o quadro em alguns desses pacientes. Em outros, o vídeo-EEG também é necessário para a melhor caracterização da condição e, consequentemente, o diagnóstico de certeza.

Assessoria Médica
Dr. Luiz Henrique M. Castro: [email protected]
Dra. Carmen Lisa Jorge: [email protected]
Dra. Marcília Lima Martyn: [email protected]