O que esperar das vacinas antimeningocócicas | Revista Médica Ed. 1 - 2010

Em nosso meio, a mais indicada é a que protege contra o meningococo C, o agente atualmente mais envolvido nos casos de doença meningocócica

Em nosso meio, a mais indicada é a que protege contra o meningococo C, o agente atualmente mais envolvido nos casos de doença meningocócica

Há, no Brasil, dois tipos de vacina contra a bactéria causadora da doença meningocócica, a Neisseria meningitidis, também conhecida por meningococo: a polissacarídica, que protege contra os sorogrupos A e C, e as conjugadas, que evitam a infecção pelo meningococo C. A primeira é recomendada para pessoas que vão se expor a esse agente durante viagens à região subsaariana, onde grandes epidemias da doença foram relatadas nos últimos anos. Apesar de ser bastante eficaz quando aplicada após os 2 anos de idade, a vacina não apresenta boa resposta imunogênica em crianças mais novas. Além disso, confere imunidade por um período limitado e requer reforço após três anos diante de nova exposição. Tais fatos limitam seu uso, especialmente porque faz vários anos que não se registram casos do meningococo A em nosso país, o que restringe a indicação desse produto ao grupo de viajantes. A principal proteção contra a doença meningocócica em nosso meio é mesmo a vacina conjugada contra a N. meningitidis do grupo C, atualmente o mais frequente por aqui. Em São Paulo, por exemplo, esse sorogrupo vem prevalecendo nos últimos anos, segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica, a ponto de ter sido o responsável por quase 80% dos casos dessa doença no Estado em 2009.

Existem algumas formulações licenciadas da vacina conjugada no Brasil, todas com eficácia elevada, que produzem imunidade de longa duração contra o meningococo C, mesmo em crianças pequenas. Essa versão começou a ser usada no calendário vacinal do Reino Unido, em 1999, quando o país experimentou surtos de doença meningocócica em crianças e adolescentes. Após a introdução do imunizante, houve queda substancial no número de casos da infecção, que passou a ser considerada controlada. Outras nações europeias seguiram o exemplo britânico e hoje essa opção faz parte do calendário vacinal de vários países. No Brasil, a vacina conjugada ainda está restrita aos serviços privados, mas atualmente uma campanha de vacinação pública tem sido realizada na Bahia, devido ao registro de elevação dos casos locais de doença meningocócica. Convém lembrar que, embora seja altamente eficaz, tal formulação não protege contra todas as variantes da N. meningitidis que circulam em nosso país. O sorogrupo B, contra o qual nem existem vacinas de eficácia adequada, foi o segundo mais diagnosticado nos últimos anos. Houve também registros de infecções causadas pelo W135 e pelo Y, embora estes já contem com imunizantes liberados em outros países, porém ainda não disponíveis por aqui. Aguarda-se, com expectativa, a chegada ao Brasil da vacina quadrivalente conjugada (A, C, Y e W135), que oferecerá uma boa proteção especialmente para quem pretende viajar para países e áreas de risco elevado.

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Tome nota: indicações, doses e efeitos da vacina conjugada

Em princípio, todos os que desejam proteção contra a Neisseria meningitidis podem ser imunizados. É possível usar a vacina contra o meningococo C em qualquer faixa etária, a partir dos 2 meses de vida. Crianças com menos de um 1 ano precisam de duas doses, com intervalo de dois meses entre elas, além de um reforço após completarem 12 meses de idade. Já crianças com mais de 1 ano, adolescentes e adultos recebem apenas uma dose. O imunizante é bem tolerado, mas pode resultar em alguns efeitos adversos, como ocorre com qualquer tipo de vacina. Dor, vermelhidão e um discreto edema no local da aplicação costumam ser as queixas mais comuns. Eventualmente, há também relatos de febre, náuseas e vômitos, mais frequentes na população pediátrica.

Por que se diz vacina conjugada?
O termo ‘conjugado’ quer dizer que partículas polissacarídicas, em geral fracamente imunogênicas em crianças pequenas, estão ligadas – ou conjugadas – a proteínas carreadoras, que são usualmente toxinas atenuadas de outras bactérias. Dessa maneira, uma partícula que antes despertava uma resposta imunológica ineficiente e de curta duração passa a ter um maior poder imunogênico, ou seja, ativa a produção de anticorpos de forma eficaz e duradoura.