Quem precisa do método molecular na abordagem das alergias? | Revista Médica Ed. 4 - 2014

Apesar de todo o seu potencial diagnóstico, o teste baseado em microarray precisa ser muito bem indicado.

Apesar de todo o seu potencial diagnóstico, o teste baseado em microarray precisa ser muito bem indicado


A reatividade contra moléculas distintas de um mesmo alérgeno tem implicações diagnósticas e prognósticas, com importantes repercussões práticas. Em tempos de ascensão dos métodos moleculares na Medicina Diagnóstica, surgiu daí o conceito de component-resolved diagnosis, ou seja, a identificação do componente molecular específico do alérgeno envolvido na sensibilização do paciente.


Esse é justamente o destaque do ImmunoCAP® Isac, do inglês Immuno Solid Phase Allergen Chip, um teste in vitro que permite determinar, no soro ou no plasma humano, em uma única reação e de forma semiquantitativa, a presença de anticorpos específicos da classe IgE (sIgE) contra nada menos que 112 componentes moleculares alergênicos, de 51 fontes.


Enquanto a maioria dos exames usados na rotina para avaliação diagnóstica das alergias, como os testes cutâneos e a dosagem de IgE específica, utiliza extratos proteicos obtidos de fontes alergênicas naturais, que contêm grande diversidade de elementos orgânicos, o método molecular dispõe de componentes alergênicos naturais purificados ou recombinantes. Se os primeiros identificam a fonte provável da alergia, o último detecta a molécula exata que desencadeia os sintomas.


Indicação certeira


Evidentemente, o desempenho diagnóstico e a utilidade desse teste múltiplo baseado em microarray dependem de sua indicação adequada. Numa população sintomática, um resultado positivo aumenta a probabilidade de o paciente ser alérgico. Entretanto, quando utilizado em indivíduos não selecionados, pode haver resultados falso-negativos e falso-positivos. 


Quando bem indicado, portanto, o ImmunoCAP® Isac tem muitas vantagens. Na prática, é recomendado especialmente em suspeitas de múltiplas sensibilizações ou diante de sintomas desencadeados por reações cruzadas entre alérgenos. Também pode ser útil em alguns casos de dermatite atópica, anafilaxia idiopática e ausência de resposta à exclusão de um alimento sabidamente implicado na alergia do paciente. Contudo, não deve ser usado como triagem sem uma indicação clínica específica, tampouco se preconiza sua realização em indivíduos monossensibilizados.


Convém ponderar ainda que, assim como os outros testes alérgicos, o método molecular evidencia uma sensibilização, o que não corresponde, necessariamente, a uma alergia clínica, razão pela qual sempre precisa ser interpretado à luz de uma história detalhada.




Luis Eduardo Coelho Andrade

é professor-associado livre-docente da Disciplina de Reumatologia

da Unifesp e assessor médico do Setor de Imunologia do Fleury

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