A ceratite consiste na inflamação da córnea, a porção externa dos olhos que refrata e transmite a luz e ainda funciona como barreira protetora da superfície do globo ocular. O processo inflamatório decorre, principalmente, pela ação de microrganismos, mas também em decorrência de traumas, de medicamentos, de exposição à luz ultravioleta – do sol e de cabines de bronzeamento – e até como complicações de outras doenças. Seja qual for sua origem, a doença progride rapidamente e, sem tratamento, provoca graves lesões na córnea, com risco de perfuração dessa porção, além de afetar outras áreas do olho. Com isso, pode levar o indivíduo a sofrer uma importante queda em sua capacidade visual e até mesmo à perda de sua visão. Ao contrário do que se pensa, a ceratite tem incidência crescente, chegando a constituir um problema de saúde pública ignorado pelas autoridades mundiais de saúde. Só em relação às inflamações da córnea de causa microbiana, estima-se que, durante os últimos 40 anos, o número de novos casos tenha aumentado quase cinco vezes. |
"As inflamações da córnea cursam com grande sensibilidade à luz, visão borrada, sensação de corpo estranho grudado nos olhos, vermelhidão decorrente do acúmulo local de sangue, lacrimejamento e, sobretudo, dor intensa, uma vez que a córnea é uma região repleta de nervos. A principal causa das ceratites é mesmo a infecciosa, proveniente da ação de vírus, bactérias, amebas e fungos. A aquisição desses microrganismos está bastante relacionada com o uso de lentes de contato e de produtos empregados para sua desinfecção, mas ocorre igualmente em estados de imunodeficiência, ou seja, da debilidade do sistema imunológico decorrente de doenças e tratamentos, e em cirurgias oftalmológicas. A inflamação da córnea também pode ser causada por outros distúrbios que afetam a superfície ocular, como a xeroftalmia, como a que ocorre nas pessoas portadoras da síndrome de Sjögren ou que por algum motivo não conseguem piscar ou fechar os olhos ao dormir. Há, ainda, a ceratite traumática, provocada por agressões externas, a exemplo do contato acidental com substâncias tóxicas, assim como a medicamentosa, que envolve alergia a medicações. A exposição desprotegida e prolongada à luz ultravioleta também é capaz de agredir e inflamar a córnea. Por fim, existe a possibilidade de o processo inflamatório estar associado a algumas doenças auto-imunes, como a artrite reumatóide, nas quais um descontrole do sistema imunológico leva as células de defesa a se voltar contra os constituintes do próprio corpo."
"O diagnóstico da ceratite costuma ser feito no consultório do oftalmologista, com base na avaliação oftalmológica, realizada com uma luz especial – a lâmpada de fenda. Contudo, a determinação da causa da inflamação geralmente demanda exames complementares, como a biomicroscopia, que visualiza a camada externa do olho com lentes especiais, permitindo a análise detalhada do aspecto da lesão, e a microscopia especular da córnea, que quantifica e estuda as células contidas no interior dos vasos sangüíneos. Algumas vezes, pode ser necessário um exame de cultura de raspado da córnea para o isolamento do agente infeccioso, de modo a permitir a diferenciação de uma ceratite de origem bacteriana de inflamações provocadas por outros patógenos importantes, como o protozoário Acanthamoeba e o vírus Herpes simplex. Os resultados da investigação inicial podem levar o médico a pedir também exames laboratoriais para pesquisar o possível envolvimento do quadro com doenças auto-imunes."
"O tratamento varia conforme o fator que originou a ceratite. As inflamações desencadeadas por bactérias, amebas e fungos requerem antimicrobianos adequados para combater o microrganismo responsável pelo quadro. As virais, como a maioria das viroses, só precisam de medidas de suporte até o que o organismo combata naturalmente o vírus. A única exceção é a infecção peloHerpes simplex, que deve ser tratada com antivirais e com outros medicamentos para auxiliar o controle da doença e evitar sua progressão. Por sua vez, a abordagem das ceratites traumáticas e medicamentosas, assim como das causadas pela exposição à luz ultravioleta, inclui estratégias como o uso de antiinflamatórios, lavagens e oclusão do olho afetado, as quais podem ser adotadas em conjunto ou isoladamente. Já o tratamento da ceratite relacionada com doenças auto-imunes requer o envolvimento de um reumatologista, pois implica a administração de medicações imunossupressoras, que reduzem a resposta do sistema imunológico contra as células da córnea. Nos pacientes com xeroftalmia, o tratamento passa pelo uso regular de colírios lubrificantes, que funcionam como lágrimas artificiais, mantendo a córnea sadia. Nos casos em que a ceratite evolui para infecções profundas com ulcerações e cicatrizes ou até mesmo perfuração da córnea, a única saída para restaurar a acuidade visual é o transplante de córnea. A principal medida preventiva em matéria de ceratites envolve o cuidado com as lentes de contato. É necessário seguir estritamente as recomendações do oftalmologista e do fabricante em relação a uso, manutenção e prazo de validade das mesmas, além de se certificar da procedência dos produtos empregados para sua limpeza e desinfecção. Lentes e piscina representam uma combinação péssima, que favorece a infecção por Acanthamoeba, já que essa ameba gosta de água. Da mesma forma, adormecer sem tirar as lentes constitui um costume pouco saudável para a córnea. Os cuidados se completam com uma visita ao oftalmologista a cada seis meses. Já quem trabalha exposto a substâncias químicas e/ou a chamas e a faíscas precisa resguardar a córnea de agressões com o uso de equipamentos de proteção individual. Por último, uma recomendação universal: nenhum colírio deve ser instilado nos olhos sem prescrição médica ou além do período recomendado."