Sou ginecologista e recebo, com alguma frequência, pacientes que realizaram, previamente à minha consulta, o fator antinúcleo e tiveram resultado positivo.
A maioria dos casos compreende mulheres saudáveis, sem suspeita clínica de doenças autoimunes. Há parâmetros estabelecidos que podem nos ajudar a melhor interpretar o teste nesses contextos?
O teste de imunofluorescência indireta em células HEp-2 (IFI/HEp-2), ou fator antinúcleo (FAN), é largamente empregado para rastreamento de anticorpos contra antígenos
celulares em pacientes com suspeita de doenças autoimunes sistêmicas. Embora seja uma característica de várias dessas afecções, a positividade no exame pode ocorrer em doenças não autoimunes e mesmo em indivíduos sadios.
Originalmente, o exame era usado na investigação de lúpus eritematoso sistêmico (LES) por reumatologistas, nefrologistas e dermatologistas. Por serem afeitos ao manejo de pacientes com LES, esses especialistas quase sempre estavam diante de situações de alta probabilidade pré-teste. Portanto, a chance de que um resultado positivo representasse um caso dessa doença costumava ser relativamente alta.
Ao longo das décadas, ficou demonstrado que o FAN também tem utilidade para rastrear várias enfermidades autoimunes sistêmicas em diversas especialidades médicas. Com isso, o teste tornou-se muito popular e hoje é solicitado com frequência por uma vasta gama de especialistas.
Em muitos casos, o quadro clínico se mostra pouco específico, não tão característico de autoimunidade. Assim, a probabilidade pré-teste do IFI/HEp-2 em um laboratório
geral caiu acentuadamente e a chance de um teste positivo representar uma condição autoimune ficou menor. E um resultado positivo, em contexto clínico inadequado, configura-se, de fato, como um problema considerável, visto que pode gerar apreensão nos pacientes e confundir o raciocínio clínico.
Olho no padrão e na titulação
O teste IFI/HEp-2 positivo em pacientes autoimunes apresenta várias características intrínsecas distintas das vistas em indivíduos sem autoimunidade, o que ajuda a interpretar o resultado. Uma delas é o padrão de imunofluorescência. Os principais padrões do exame, com suas relevâncias clínicas, estão explicitados nos sites do Consenso Brasileiro de FAN (https://www.hep-2.com.br/padroes) e do International Consensus on ANA Patterns (Icap) (www.anapatterns.org). Mais recentemente, observou-se que o título do teste também pode contribuir de forma substancial nesse sentido, sobretudo
quando em diluições iguais ou superiores a 1/2.560, titulação que confere especificidade acima de 98% para doença reumática autoimune (DRAI). Vale ponderar que esse
conceito não se aplica ao padrão nuclear pontilhado fino denso (AC-2), que não tem especificidade para doenças autoimunes sistêmicas mesmo quando ocorre em títulos muito altos (≥1/2.560).
Por essa razão, o Fleury estende a diluição das amostras de FAN positivas para até 1/2.560. As análises são feitas em, pelo menos, duas marcas diferentes de lâminas HEp-2 e examinadas por dois profissionais certificados pelo Icap, seguindo todas as recomendações do Consenso Brasileiro de FAN e do próprio Icap, com supervisão dos consultores médicos em casos com alguma peculiaridade identificada pelos analistas.
Sensibilidade e especificidade para DRAI contra indivíduos sadios e pacientes não autoimunes de acordo com o título do teste de IFI/HEp-2
Título | ≥1:80 | ≥1:160 | ≥1:320 | ≥1:640 | ≥1:1.280 | ≥1:2.560 |
Sensibilidade para DRAI | 87,6% | 84,5% | 81,4% | 70,1% | 60,3% | 44,8% |
Especificidade para DRAI | 85,8% | 89,9% | 92,3% | 95,4% | 97,6% | 98,6% |
Fonte: Agustinelli RA, Rodrigues SH, Mariz HA, Prado MS, Andrade LEC. Distinctive features of positive anti-cell antibody tests (indirect immunofluorescence on HEp-2 cells) in patients with non-autoimmune diseases. Lupus. 2019; 28:629-634. doi: 10.1177/0961203319838348.
Consultoria Médica
Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade
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