Incontinência urinária noturna atinge 15% das crianças e pode causar constrangimento

De acordo com especialista do Fleury Medicina e Saúde, fazer xixi na cama à noite até os cinco anos é considerado normal. Exercícios, mudança de hábitos e medicamentos podem resolver parte dos casos em que o problema ocorre além dessa idade

De acordo com dados da literatura internacional, 15% das crianças no Brasil e demais países sofrem de enurese – termo médico que designa a incontinência urinária noturna. De acordo com o urologista José Carlos Truzzi, coordenador do Centro de Apoio e Reabilitação de Disfunções Urinárias do Fleury Medicina e Saúde, embora o problema não seja grave, pode causar constrangimentos às crianças quando elas dormem fora de casa ou, às vezes, incompreensão dos próprios pais.

Podem ser considerados casos de enurese noturna quando crianças a partir de cinco anos urinam na cama durante a noite. As situações mais frequentes associadas à incontinência urinária noturna são sono pesado, hiperprodução de urina ou contrações  involuntárias da bexiga. Outro fator associado à enurese infantil é o histórico de parentes de primeiro grau com o mesmo problema.

“Mas não são todas essas causas combinadas, ao mesmo tempo, que provocam a eliminação de líquido durante a noite. Pode haver predomínio de uma ou outra causa”, explica o urologista José Carlos Truzzi.

Perda de urina diurna
O mais importante, acrescenta o médico, é verificar se a perda de urina ocorre também ao longo do dia. Nesse caso, seria necessária uma investigação mais aprofundada para checar se há outras causas possíveis, como mal formação do trato urinário ou da inervação da bexiga , que podem levar a riscos maiores, como o comprometimento renal.

Se for detectada somente incontinência urinária noturna, o tratamento é baseado em terapia comportamental, treinamento do controle da bexiga - ministrado por enfermeiros e fisioterapeutas ou, com a ingestão de medicamentos, de acordo com Truzzi.

Mas, segundo Truzzi, um dos principais prejuízos causados pela enurese infantil é o estigma social ou a baixa estima. “A criança se sente constrangida quando dorme fora de casa. Há casos de pais que não compreendem a complexidade da enurese e punem a criança como se fosse apenas uma questão comportamental e não de saúde”, comenta o urologista do Fleury Medicina e Saúde.

A redução da enurese ocorre naturalmente ao longo dos anos: “Após os cinco anos de idade, a proporção de 15% das crianças com enurese vai reduzindo 1% ao ano, até que, aos 15 anos, somente 1% ou 2% dos adolescentes terão enurese”, compara o médico.

Dicas
A fisioterapeuta Luciane Marin Braghetta e a enfermeira Lúcia Satie Hamanaka, do Centro de Apoio e Reabilitação de Disfunções Urinárias do Fleury Medicina e Saúde, dão as seguintes dicas para pais de crianças que apresentam enurese:

1. Oferecer água e sucos para a criança, preferencialmente pela manhã e tarde. Opte por garrafinhas porque motiva o tratamento e controla a ingestão diária de líquidos, mantendo a boa hidratação;

2. Evite bebidas como café, chás com cafeína e refrigerantes porque podem provocar sintomas de urgência miccional;

3. Tente evitar líquidos num período de duas a três horas antes de dormir, readaptando o horário do leite;

4. Busque uma refeição rica em fibras, frutas e verduras para evitar a constipação intestinal, pois se sabe que o intestino preso pode piorar a enurese;

5. Estimule a micção antes de a criança dormir e ao levantar. Se for necessário programar intervalos específicos de micção durante o dia ou noite. Consulte um médico, fisioterapeuta ou enfermeiro especializado para mais orientações;

6. Identifique se a criança está postergando a micção e estimule-a a ir ao banheiro, evitando os episódios de perda de urina;

7. Permita que a criança tenha uma posição confortável no vaso sanitário, oferecendo assento menor e apoio para os pés, evitando que fiquem balançando no ar;

8. Estimule a paciência da criança durante a micção através de músicas ou contagem de números. É importante o esvaziamento completo da bexiga em cada micção;

9. Recompense a criança pelas noites secas e motive-a assumir a responsabilidade pelo problema em si e pelo tratamento também;

10. Não culpe ou castigue a criança pelo que está acontecendo.

“Se a enurese persistir, recursos mais específicos de terapia comportamental e de fisioterapia podem ser empregados, tais como o treinamento da musculatura do assoalho pélvico, biofeedback, que é uma técnica em que se aprende o controle voluntário de funções fisiológicas, e eletroestimulação muscular”, explica a fisioterapeuta.