O aneurisma é uma dilatação localizada e permanente em uma parede arterial, que, a princípio, pode ocorrer em qualquer vaso sangüíneo de maior calibre, mas que afeta mais freqüentemente a aorta abdominal, a maior artéria do organismo. Essa saliência geralmente ocorre na parte da aorta situada entre as artérias renais e sua bifurcação para as artérias ilíacas, acima da virilha, podendo causar várias complicações, de trombose venosa profunda nos vasos dos membros inferiores até compressão de estruturas vizinhas, como nervos e órgãos. A mais temida, porém, é o rompimento da parede da aorta, que resulta em sangramento intenso. Tal probabilidade varia conforme o diâmetro do aneurisma: quanto maior sua extensão, maior o risco de ruptura. O fato é que a suspeita de rompimento da artéria ou mesmo o rompimento propriamente dito constituem emergências médicas. Felizmente, é possível tratar a condição antes de chegar a esse extremo, desde que, evidentemente, se saiba de sua existência. Estima-se que de 2% a 5% da população masculina com mais de 60 anos seja portadora dessa dilatação, embora a maioria a desconheça |
"Em geral, o aneurisma da aorta abdominal cursa em silêncio e acaba sendo percebido casualmente, em um check-up de rotina, por exames não-invasivos de imagem, como a ultra-sonografia, ou mesmo durante um exame físico, no consultório, já que, dependendo de seu diâmetro, a dilatação pode ser palpada. Os sintomas começam a surgir à medida que a saliência aumenta, manifestando-se como um desconforto abdominal mal definido, por causa da pressão exercida sobre estruturas vizinhas, ou, ainda, como uma pulsação no abdome, como se fosse um coração batendo na barriga. A presença de dor abdominal de início súbito e de forte intensidade, acompanhada de pressão arterial muito baixa, pode indicar que o aneurisma se encontra em processo de rompimento, demandando a necessidade de atenção médica imediata. Qualquer tipo de alteração da parede da aorta que provoque seu enfraquecimento ou que comprometa sua resistência pode se constituir na causa da dilatação. Na maioria dos casos, a alteração está relacionada com a doença aterosclerótica, ou seja, com a formação de placas de gordura – os ateromas – na parede interna dessa artéria e com a conseqüente degeneração de seus tecidos. Na prática, portanto, as paredes arteriais se enrijecem e perdem sua elasticidade tanto em decorrência do processo aterosclerótico quanto do processo degenerativo, ficando mais suscetíveis a se alongar, a se distender e, por fim, a se dilatar. Diferentemente do mecanismo que leva à formação de um coágulo, fato que possui um componente inflamatório, a dilatação leva anos para ocorrer e é pouco conhecida. Sabe-se, porém, que a hipertensão arterial contribui diretamente com esse evento. Outros fatores de risco ainda incluem tabagismo, traumatismos, doenças inflamatórias da aorta, distúrbios hereditários do tecido conjuntivo que forma parte das paredes arteriais, e a sífilis. Como sempre, parece haver igualmente envolvimento genético no surgimento do aneurisma da aorta, uma vez que sua prevalência é maior em famílias que já receberam esse diagnóstico."
"O diagnóstico de aneurisma da aorta pode ser feito ao exame clínico, tanto casualmente quanto diante de alguma queixa de desconforto ou pulsação no abdome. Ainda assim, é imprescindível a realização de algum método de imagem para confirmar o achado e fornecer a localização, o tamanho e a extensão do aneurisma, ou seja, se atinge também as artérias ilíacas, assim como o estado da parede da aorta e a existência de trombos em seu interior. Os recursos usados para essa finalidade vão da ultra-sonografia à ressonância magnética abdominal, passando pela angiografia, que visualiza o fluxo da aorta com o uso de contraste. De qualquer forma, o mais comum é que a dilatação seja encontrada por acaso durante algum exame complementar para a pesquisa de alguma outra doença."
"Quando o aneurisma tem pequenas dimensões, a velocidade de seu crescimento pode ser acompanhada por exames de imagem periódicos, sem necessidade de nenhuma intervenção. De modo geral, devem ser tratadas cirurgicamente as saliências com mais de 5 cm de diâmetro e também as que apresentarem uma evolução muito rápida, a não ser que as condições clínicas da pessoa não permitam operação. A cirurgia convencional consiste na retirada do aneurisma e no restabelecimento do fluxo sangüíneo dentro da artéria, com o uso de uma prótese. Mais recentemente, tem-se adotado igualmente a técnica endovascular, na qual a prótese, introduzida na aorta através de uma pequena incisão na virilha, substitui o segmento dilatado sem removê-lo, ou seja, apenas revestindo-o. Se, por um lado, esse método é mais simples e permite uma recuperação mais rápida do indivíduo, por outro, só se aplica ao tratamento de aneurismas com determinadas características anatômicas. A prevenção dos aneurismas da aorta abdominal passa necessariamente pelo controle da pressão arterial, de modo que permaneça em níveis aceitáveis, abaixo de 13 por 8,5 mmHg, e pela manutenção de índices sanguíneos adequados de colesterol e triglicérides, o que implica fazer uma alimentação saudável, à base de vegetais, frutas, fibras e carnes magras, praticar exercícios físicos regularmente – tomando sempre o cuidado de evitar traumas violentos no abdome – e não fumar."