O botulismo é uma doença que se caracteriza por paralisia muscular e tem, como causa, a toxina produzida pelo Clostridium botulinum, uma bactéria encontrada no solo, em alimentos e em fezes de animais sob a forma de esporos, ou seja, de estruturas resistentes que se formam em condições desfavoráveis. Por isso mesmo, esse microrganismo acha nas conservas de carnes, vegetais e frutas o local ideal – sem oxigênio – para dar origem à toxina botulínica, que, uma vez ingerida, se comporta como um veneno biológico no corpo humano. Depois que ganha a corrente sangüínea, ela atinge o sistema nervoso central e interfere na comunicação entre as células nervosas, impedindo a contração muscular. A maior ameaça desta paralisia é a severa dificuldade respiratória que ela provoca, podendo culminar com parada cardiorespiratória e morte. Graças à melhoria das práticas e dos processos de fabricação de alimentos em conserva no mundo todo, o botulismo é hoje uma doença de baixa incidência. De 1999 a 2005, o Estado de São Paulo, por exemplo, teve 22 casos confirmados dessa moléstia, que é capaz de afetar pessoas de todas as idades, bebês inclusive. |
"Nos adultos, o botulismo se apresenta com paralisia progressiva, na ausência de febre. Os sintomas se iniciam de 12 a 36 horas após a ingestão de alimento contaminado. Pálpebra caída, visão embaçada ou dupla, sensação de boca seca, dificuldade para engolir, para fazer movimentos e para respirar, fala arrastada e fraqueza muscular nos membros inferiores compõem os sintomas mais importantes. Por sua vez, os bebês infectados pelo Clostridium botulinumtêm prisão de ventre, recusam-se a comer, choram de maneira fraca e mostram-se extremamente apáticos. A causa da doença é a toxina do Clostridium botulinum, que o homem adquire principalmente pela ingestão de alimentos contaminados com o tal veneno biológico, como as conservas, especialmente as feitas em casa. Dentro de latas e vidros, os esporos da bactéria, não destruídos durante o processo de fabricação do alimento, produzem a toxina. Existe também uma forma de botulismo infantil, decorrente da ingestão de produtos alimentícios contaminados com esses esporos, a exemplo do mel. Em tais casos, porém, o agente infeccioso fabrica a toxina no intestino do bebê, razão pela qual o surgimento dos sintomas pode demorar de 3 a 30 dias após o contágio. A bactéria também pode penetrar no organismo humano por ferimentos e ali encontrar as condições adequadas para dar origem à toxina, como sangue e tecidos mortos, da mesma forma que no tétano. Nessas situações, as manifestações costumam aparecer de 4 a 14 dias após a ocorrência do ferimento. Não há possibilidade de adquirir botulismo em tratamentos estéticos e terapêuticos que utilizam a toxina botulínica, uma vez que a dose utilizada da substância é infinitamente menor que a liberada pela bactéria. Vale esclarecer, ainda, que a doença não é transmitida de uma pessoa para outra."
"A suspeita de botulismo fica muito evidente para o médico diante do conjunto de sintomas, da avaliação neurológica e da história alimentar ou de ferimento recente. No entanto, como existem outras doenças neurológicas e infecciosas que cursam com sintomas semelhantes, é preciso realizar exames específicos para pesquisar, no sangue da pessoa, a presença da toxina botulínica. Esse teste, porém, precisa ser feito rapidamente porque, após oito dias de doença, os tecidos orgânicos absorvem totalmente a substância tóxica, que, portanto, deixa de circular pela corrente sangüínea. Em tais casos, há necessidade de fazer a pesquisa da toxina nas fezes e no conteúdo estomacal para esclarecer o diagnóstico. Nos bebês e nos indivíduos que se contaminaram por ferimentos, a investigação pode contar com a ajuda do exame de cultura, no qual amostras de material biológico são postas em meios próprios para o crescimento da bactéria em questão, permitindo, assim, seu isolamento. Qualquer caso suspeito de botulismo precisa ser imediatamente notificado ao Serviço de Vigilância Epidemiológica local, de forma que esse órgão possa tomar as providências necessárias para evitar novos casos, como tirar das prateleiras o produto que possa estar envolvido com a contaminação ou suspender as atividades de um estabelecimento que tenha vendido comida contaminada com a toxina."
"Independentemente da forma de transmissão da doença, o portador do botulismo precisa ser submetido a tratamento hospitalar em unidade de terapia intensiva por várias semanas para a manutenção de suas funções vitais, para a eliminação da toxina contida no organismo e para o restabelecimento de sua respiração normal por meio de respiradores artificiais. Adultos que têm diagnóstico precoce, ou seja, quando a toxina ainda está na circulação, recebem também o soro antibotulínico, que bloqueia a ação da substância venenosa e impede a piora do quadro, embora não possa reverter a paralisia já instaurada. O soro não é recomendado para crianças, uma vez que a toxina se concentra inicialmente em seu intestino – o melhor, portanto, é estimular sua eliminação. Qualquer que seja o caso a recuperação do doente é lenta, pois o veneno biológico instalado entre as células nervosas precisa ser destruído pelo próprio sistema imunológico. Após a alta hospitalar, o indivíduo precisa permanecer com acompanhamento médico e fisioterápico para recuperar ou reaprender funções como respirar, falar, andar, escrever, etc. O botulismo pode ser evitado com alguns cuidados bem simples de seguir. Nenhum produto enlatado ou em conserva que esteja estufado ou que apresente má apresentação deve ser consumido, ainda que esteja dentro da data de validade. Recomenda-se também ferver por dez minutos os alimentos em conserva não industrializados antes de comê-los, visto que o calor destrói a toxina eventualmente presente no preparado. Quem gosta de fazer conservas caseiras precisa conhecer as técnicas corretas de preparo e, no mínimo, ferver os alimentos crus em panela de pressão para matar os esporos do Clostridium botulinum – se eles não forem eliminados durante o processo de cozimento, fatalmente produzirão a toxina ao serem armazenados sem oxigênio. Em relação ao botulismo infantil, a melhor medida preventiva é não usar mel na alimentação de lactentes durante o primeiro ano de vida, quando sua flora intestinal ainda não é capaz de combater naturalmente os inimigos. Já os ferimentos devem ser lavados com água e sabão imediatamente após o trauma e tratados com a aplicação local de anti-séptico. Convém acrescentar que essa medida também contribui para evitar o tétano em pessoas não vacinadas."