A doença de Chagas é uma moléstia infecciosa causada pelo protozoárioTrypanosoma cruzi, transmitido ao homem por um inseto de nome triatoma. Este inseto é muito conhecido das populações rurais de várias regiões do Brasil. De tamanho relativamente grande, geralmente preto ou acinzentado, tem hábitos noturnos e se alimenta somente de sangue, por isto é chamado “hematófago”. Vive nas frestas das casas de pau-a-pique, em ninhos de pássaros, em tocas de animais, em cascas de troncos de árvores e costumam picar as pessoas quase sempre no rosto, durante o sono, razão pela qual é conhecido como barbeiro. Outros nomes populares do triatoma são: chupão, chupança, bicudo, fincão ou procotó. A doença de Chagas recebeu este nome em homenagem ao brilhante médico e cientista brasileiro Carlos Chagas, que desvendou todo o complexo ciclo da doença. O maior problema do mal de Chagas está no risco de a infecção se tornar crônica, o que ocorre em um terço dos infectados, afetando silenciosamente o coração, o intestino grosso e o esôfago, que ficam com dimensões aumentadas e, por conta disso, têm suas funções seriamente comprometidas. Estima-se que existam de 10 a 12 milhões de pessoas com o mal de Chagas nas Américas do Sul e Central, dos quais metade estão no Brasil, onde o maior número de casos se concentra em Minas Ginais e na Bahia. |
"A infecção aguda cursa com febre, mal-estar, gânglios aumentados e dolorosos, vermelhidão, inchaço nos olhos e aumento do fígado e do baço. Nas pessoas com o sistema imunológico debilitado por doenças ou por tratamentos, o parasita pode conseguir chegar ao sistema nervoso, dando origem a inflamações como a meningite e encefalite. A infecção aguda pelo T. cruzi pode ser bastante grave em crianças. Já nos adultos, não é raro passar despercebida ou mesmo ser confundida com uma mera gripe ou “virose”. Assim, a pessoa só fica sabendo que teve a moléstia ao fazer exame de sangue específico ou ao doar sangue, pois os bancos de sangue fazem triagem para doença de Chagas. Infelizmente, outra forma de descobrir a doença é já no aparecimento das manifestações da infecção crônica, que ocorrem muitos anos depois da infecção aguda. Entre esses sinais, os mais freqüentes são a regurgitação de alimentos e a dificuldade de engolir, em decorrência do aumento do esôfago, a prisão de ventre, por conta da dilatação do intestino grosso, e os sintomas do comprometimento da função cardíaca provocados pela dilatação do coração, como fraqueza, falta de ar, inchaço nas pernas e batimentos descompassados (arritmias). A causa da doença é o Trypanosoma cruzi, que o barbeiro adquire ao sugar o sangue de pessoas ou roedores contaminados. O T. cruzi passa por uma transformação no tubo digestivo do inseto, ficando pronto para infectar outra pessoa. Quando o barbeiro pica outra vítima, defeca no local, liberando o parasita junto com suas fezes. Quando o indivíduo coça o local atacado, o Trypanosoma cruzi penetra pela picada e ganha a corrente sangüínea do ser humano. Quando aparecem, os sintomas se manifestam cerca de 5 a 14 dias após a picada. No entanto, a infecção também pode ser transmitida em transfusões de sangue e durante a gestação, da mãe para o bebê. No Brasil, há registros de aquisição da doença pela ingestão de caldo-de-cana e açaí contaminados com o parasita."
"Na fase aguda, o médico pode suspeitar do mal de Chagas diante dos sintomas e da história do indivíduo, particularmente do fato de ele viver em áreas endêmicas ou ter visitado recentemente essas regiões. De toda forma, o diagnóstico não prescinde de exames de sangue clássicos para confirmar a infecção, como o isolamento do parasita em cultura e a investigação de anticorpos característicos de doença recente, ou mesmo de testes moleculares, que pesquisam o DNA do agente infeccioso em amostras de materiais biológicos. Na fase crônica, além do teste para pesquisar anticorpos que caracterizam uma infecção remota, há necessidade de outros métodos diagnósticos para verificar o funcionamento e as dimensões dos órgãos-alvo da doença, a exemplo da radiografia do abdome e de exames cardiológicos como o ecocardiograma, um tipo de ultra-sonografia do coração, e o eletrocardiograma, que verifica a atividade elétrica cardíaca."
"Na fase aguda da doença, o tratamento é feito com medicamentos específicos, que conseguem eliminar o parasita do sangue e dos tecidos se administrados por cerca de 30 a 60 dias. Contudo, a terapêutica requer acompanhamento médico semanal ou quinzenal para a adequação da dose e o manejo dos efeitos colaterais, que são importantes. No Brasil, estão licenciadas duas drogas: o nifurtimox e o benzonidazol. Na fase crônica, como quase não há parasitas na circulação, a abordagem terapêutica costuma se voltar às manifestações da doença, com o objetivo de atenuar os sintomas e evitar mais complicações. Particularmente o coração precisa de maiores cuidados, pois o aumento de suas dimensões leva à insuficiência cardíaca. Alguns indivíduos podem precisar até mesmo de transplante desse órgão. A prevenção da doença de Chagas depende da eliminação do inseto transmissor. Para quem mora em áreas endêmicas ou visita freqüentemente essas regiões, é fundamental melhorar as habitações, usando reboco e tampando rachaduras e frestas, colocar telas em portas e janelas, evitar a permanência de animais dentro de casa, não acumular lenha, telha ou outros entulhos no interior da residência ou em seus arredores, retirar ninhos de pássaros dos beirais e manter criações de animais bem afastadas das moradias. Essas pessoas também devem ficar atentas a qualquer febre ou sintoma semelhante a uma gripe, procurando sempre um serviço médico nessas situações para descartar a infecção pelo Trypanosoma cruzi."