A gota é uma doença que ocorre quando há elevação de ácido úrico no sangue – uma das substâncias produzidas no processo natural de destruição e renovação celular – com a conseqüente deposição de cristais de urato monossódico, derivados desse ácido, nos tecidos e nas articulações, especialmente dos joelhos e dos pés. Por sua vez, esse acúmulo de cristais pode desencadear uma reação inflamatória nas articulações, ou artrite. Os episódios de artrite são bastante dolorosos, mas se resolvem poucos dias, o que faz com que muita gente não procure ajuda médica depois de uma primeira manifestação. Ocorre que, sem nenhuma medida terapêutica para controlar o excesso de ácido úrico na circulação, as crises se tornam freqüentes e mais intensas, chegando a provocar até mesmo deformações nas regiões inflamadas. Além disso, os rins também podem ser afetados, seja com alterações em seu funcionamento, seja com o desenvolvimento de cálculos renais – as populares pedras nos rins. Estima-se que 2% da população mundial seja portadora de gota, sobretudo homens com mais de 40 anos. Nas mulheres, a doença é pouco comum e, quando aparece, surge após a menopausa. |
"As primeiras crises costumam afetar somente uma articulação, na maioria dos casos. Em geral, a inflamação começa com um inchaço abrupto do dedão do pé, acompanhado de dor forte. A pele da região fica avermelhada, brilhante e quente. Com a freqüência das crises, outras articulações podem ser atingidas, como as do dorso dos pés, dos tornozelos, dos joelhos, dos punhos, das mãos, dos cotovelos e dos ombros. A gota é uma doença geneticamente determinada em grande parte dos indivíduos. Seu portador tanto pode não possuir um mecanismo enzimático que determina a excreção renal do ácido úrico quanto pode apresentar uma produção exagerada dessa substância, também ocasionada por um defeito em uma enzima. O uso crônico de alguns medicamentos igualmente pode diminuir a capacidade renal de excretar o ácido úrico, como é o caso dos diuréticos e do ácido acetilsalicílico, presente na Aspirina® e em alguns antiinflamatórios."
"As manifestações clínicas já podem levar o médico a suspeitar de gota, mas o diagnóstico definitivo da doença exige o encontro de cristais de urato monossódico dentro de células de defesa presentes no líquido da articulação acometida – o chamado líquido sinovial –, o qual é aspirado por meio de uma simples punção feita na articulação afetada. A análise desse líquido é importante também para afastar outras causas de artrite aguda, especialmente infecção. Além disso, há outras doenças reumáticas que cursam com inflamação das juntas, a exemplo da artrite reumatóide, da artrose e da doença por depósito de pirofosfato de cálcio, outro cristal que pode se depositar na articulação e desencadear um quadro de artrite. Além da análise do líquido articular, a radiografia da área afetada e a dosagem de ácido úrico no sangue e na urina podem contribuir com a investigação diagnóstica."
"Durante uma crise, o tratamento da gota é feito com antiinflamatórios para atenuar a dor e o inchaço. A retirada do líquido inflamatório produzido na articulação também pode ser uma medida associada para aliviar os sintomas. Passada a inflamação, a terapêutica deve prosseguir com a restrição do consumo de bebidas alcoólicas e de alimentos ricos em ácido úrico – como frutos do mar, carnes vermelhas, miúdos, enlatados e outros – e com o uso de medicamentos para reduzir a taxa de ácido úrico no sangue, seja para diminuir a formação ou para aumentar a excreção dessa substância pelo rim. Esses fármacos, no entanto, devem ser prescritos de forma individualizada pelo médico que acompanha o paciente. Como os mecanismos enzimáticos mais envolvidos nas causas da gota são genéticos, não há medidas para impedir o surgimento da doença, mas as crises de artrite podem, sim, ser evitadas com a manutenção do tratamento e o controle rigoroso dos níveis de ácido úrico no sangue. Quando eles estiverem elevados, o cuidado com a alimentação e com o consumo de bebidas alcoólicas deve ser redobrado, pois qualquer excesso pode significar um episódio de inflamação. Via de regra, recomenda-se manter continuamente uma dieta saudável, com pouca gordura, sobretudo de origem animal, e aumentar bastante o consumo de água, para contribuir com a excreção do ácido úrico. Contudo, como muitos alimentos contêm essa substância ou fazem o organismo aumentar sua produção, uma orientação nutricional pode ser de bastante utilidade na prevenção das crises."