A insuficiência renal crônica é a perda progressiva e irreversível das funções renais, invariavelmente determinada por outras doenças crônicas. Com a instalação desse quadro, os rins paulatinamente deixam de exercer suas funções. A falta de um trabalho renal adequado traz muitas complicações em longo prazo, como anemia, doenças cardiovasculares, maior suscetibilidade a infecções, lesões no cérebro, problemas articulares, enfraquecimento ósseo, comprometimento do sistema imunológico e risco aumentado de hemorragias, entre várias outras conseqüências, sem falar da possibilidade de o quadro evoluir para a doença renal terminal, quando os rins funcionam com menos de 10% de sua capacidade total. A perda das funções renais, porém, é sempre lenta, razão pela qual o organismo vai se adaptando ao problema. Assim, freqüentemente acontece de a insuficiência avançar sem que indivíduo nada sinta, enquanto todos os sistemas orgânicos vão sendo silenciosamente comprometidos. Por isso, é fundamental que os portadores de doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial e nefrite façam acompanhamento médico periódico, a fim de que o funcionamento dos rins seja preservado pelo maior tempo possível. |
"Os sintomas normalmente só aparecem quando a capacidade renal está reduzida a menos da metade de seu total. Inicialmente, podem incluir sinais clínicos bastante inespecíficos, como mal-estar generalizado, fadiga, perda de peso, náuseas e vômitos, dor de cabeça, falta de apetite, soluços freqüentes e coceira. Posteriormente, com a evolução da doença, há mudanças nos hábitos urinários, com aumento ou redução do volume excretado e necessidade de urinar durante a noite, surgimento de hematomas pelo corpo, anemia leve, hipertensão arterial, cansaço, falta de ar, inchaço nos pés e nos olhos, palidez, alterações na cor da pele, mau hálito, cãibras, dificuldade para dormir, dores nas extremidades, hemorragias gastrointestinais e formigamentos, entre outros. O diabetes é uma das principais causas da insuficiência renal crônica, que, em tais casos, começa com o aumento constante da pressão arterial e com a perda de proteínas pela urina, manifestações que costumam aparecer depois de, pelo menos, 15 anos de doença. A hipertensão também determina a falência progressiva dos rins em longo prazo, assim como a nefrite crônica. Essas três condições respondem por 80% dos casos, mas os rins igualmente podem ter suas funções comprometidas por infecções urinárias de repetição, cistos em grande quantidade, cálculos renais – as chamadas pedras nos rins –, doenças auto-imunes e outras doenças hereditárias."
O diagnóstico da insuficiência renal crônica depende de uma avaliação clínica que inclua uma boa análise da história do indivíduo, para identificar possíveis doenças crônicas, e da realização de diversos exames laboratoriais de sangue e de urina. Entre eles, merece destaque a dosagem de duas toxinas, a uréia e a creatinina, que são consideradas marcadores dessa doença renal e servem para indicar o grau da insuficiência – que vai de reserva renal diminuída, quando os rins trabalham com 50% de sua capacidade, até doença renal terminal, quando menos de 10% de suas funções estão preservadas. A investigação se completa com métodos de imagem para investigar alterações morfológicas locais, como ultra-sonografia. A redução do volume dos rins, por exemplo, é um dos sinais da insuficiência renal crônica.
"Desde que os rins tenham mais de 10% de sua capacidade de funcionamento, o tratamento pode ser feito com medicamentos como diuréticos e anti-hipertensivos e com dieta com restrição de líquidos, para não sobrecarregar a função renal, e de alimentos ricos em proteínas, sódio, potássio e fósforo, para reduzir o nível das toxinas que sobram na circulação, por causa da má filtração do sangue. Em tais casos, o objetivo é atenuar os sintomas, reduzir o risco de complicações e conter a progressão do quadro, controlando ainda as doenças associadas. Com menos de 10% da função renal, tais medidas são ainda necessárias, mas insuficientes para manter a saúde do indivíduo. Nessa fase, o portador da doença precisa remover de forma artificial as toxinas da circulação ou, dependendo de seu estado geral, ser submetido a transplante renal. A remoção das toxinas pode ser efetuada por diálise peritoneal, na qual um líquido, introduzido no interior do abdome várias vezes ao dia pelo próprio indivíduo, absorve os resíduos, ou, então, por hemodiálise, procedimento em que uma máquina filtra todo o sangue em três sessões semanais, feitas em clínicas especializadas. A melhor forma de evitar a insuficiência renal crônica é manter controladas as doenças que a causam. A hipertensão e o diabetes podem ser bem administrados com um conjunto de medidas que incluem alimentação adequada, medicamentos e prática regular de exercícios físicos, com monitoramento médico periódico. Na nefrite crônica, é vital seguir o tratamento recomendado, à base de dieta e de remédios que reduzem a resposta imunológica que desencadeia essa inflamação, além de controlar a pressão arterial. Outra recomendação importante consiste em tratar adequadamente as infecções urinárias, procurando um médico ao menor sintoma de incômodo urinário e, diante da confirmação do diagnóstico, aderindo ao tratamento com antimicrobiano pelo tempo determinado. Os rins também não devem ser sobrecarregados com o uso freqüente de medicamentos sem prescrição médica, sobretudo com antiinflamatórios."