Tratamento​

Tópicos presentes neste capítulo

  • Qual é o tratamento existente para erros inatos metabólicos?  
  • E a terapia gênica? Ela já existe?  
  • Quais os maiores obstáculos atualmente existentes para o desenvolvimento da terapia gênica?  
  • O que fazer quando não há um tratamento possível?  

Qual é o tratamento existente para erros inatos metabólicos?

Alguns EIM são inteiramente tratáveis ou têm sua condição clínica melhorada com algumas medidas terapêuticas, que incluem:

• Dietas especiais, como as empregadas nas hiperfenilalaninemias (inclusive fenilcetonúria), na leucinose, na galactosemia e nas acidemias metilmalônica e propiônica.

• Aporte calórico continuado com administração de amido durante a noite, para evitar hipoglicemia, como proposto em diversas glicogenoses hepáticas.

• Dieta cetogênica, recomendada para a deficiência da proteína transportadora de glicose GLUT1 e para a deficiência da desidrogenase pirúvica.

• Medicamentos, como os utilizados na doença de Wilson (penicilamina), na tirosinemia tipo I (NTBC), na cistinose (N-acetil-cisteína) e na homocistinúria (betaína).

• Reposição da enzima deficiente, já disponível para tratamento da forma não-neuropática da doença de Gaucher e da doença de Fabry e em desenvolvimento para outras formas de doenças lisossomais, entre as quais encontram-se a doença de Hurler (MPS I), a doença de Maroteaux-Lamy (MPS VI) e a doença de Pompe.

• Reposição de vitaminas e co-fatores, útil na homocistinúria (vitamina B6), na acidúria metilmalônica (vitamina B12), na acidemia glutárica do tipo I (riboflavina) na deficiência da biotinidase (biotina), na síndrome ataxia-deficiência de vitamina E. A suplementação de carnitina, que facilita o transporte de lípides para a mitocôndria, é útil em diversos erros metabólicos que interfiram com a produção de energia.

• Prevenção da hipoglicemia decorrente de jejum ou estado hipercatabólico, recomendado na acidúria glutárica e nos defeitos da beta-oxidação de lípides.

• Diálise peritonial ou hemodiálise, para o tratamento de erros do ciclo da uréia, com hiperamonemia.

• Transplante de órgãos, como de fígado para alguns defeitos do ciclo da uréia e medula óssea, para algumas mucopolissacaridoses sem manifestação em sistema nervoso central e para a adrenoleucodistrofia ligada ao X.

Algumas das doenças acima referidas são investigadas em programas de triagem neonatal para EIM.

E a terapia gênica? Ela já existe?

Sim, porém de forma limitada. A terapia gênica traz esperanças para o tratamento de um grande número de EIM mas, para a quase totalidade destas doenças, existem ainda muitos obstáculos a superar. Para a deficiência da adenosina deaminase, por exemplo, que é um defeito metabólico raro causador de deficiência imunológica combinada, já se obteve relativo sucesso com este tipo de procedimento. Obteve-se a correção temporária da deficiência imunológica por meio da inserção do gene normal em células da medula óssea de pacientes. Para os demais EIM, a terapia gênica ainda não se encontra disponível.

Quais os maiores obstáculos atualmente existentes para o desenvolvimento da terapia gênica?

Para o sucesso da terapia gênica, são necessários:

• Conhecimento da seqüência do gene que se encontra defeituoso.

• Preparação de um vetor, geralmente um vírus modificado, que é utilizado para inserir esta seqüência de forma estável em células de interesse.

• Garantir a expressão da seqüência inserida em células nas quais o defeito metabólico motivou o aparecimento de sinais clínicos.

Estas tarefas não são simples, nem serão alcançadas de forma rápida para todas as doenças.

O que fazer quando não há um tratamento possível?

Muitos erros do metabolismo não têm tratamento que detenham sua progressão ou que aliviem os sintomas. Este é o caso da maior parte das doenças que interferem com o funcionamento do lisossomo, da mitocôndria ou do peroxissomo e muitos dos defeitos da metabolismo intermediário. O diagnóstico é, sem dúvida, muito importante para o aconselhamento genético da familiar apropriado e para o planejamento dos cuidados de apoio necessários para o paciente. E quanto mais acurado o diagnóstico, mais precisa será esta orientação.