Cardiologia Nuclear na avaliação da sarcoidose cardíaca

Exame de PET-FDG é o método de escolha para o diagnóstico e o acompanhamento da condição

Doença inflamatória sistêmica de causa desconhecida, a sarcoidose é caracterizada pela formação de granulomas não caseosos em múltiplos órgãos. Embora a transmissão seja o principal comprometimento local, o envolvimento cardíaco ocorre em até 25% dos casos, podendo chegar a 50% em estudos de autópsia. A sarcoidose cardíaca é particularmente relevante devido ao risco de arritmias malignas, insuficiências cardíacas e morte súbita. O diagnóstico da sarcoidose cardíaca pode ser desafiador, principalmente em pacientes que desconhecem a condição sistêmica, levando a um reconhecimento tardio associado a prejuízos. Desta forma, um tratamento eficaz depende fundamentalmente da detecção precoce da doença.

Diante disso, a Cardiologia Nuclear tem se consolidado como ferramenta essencial na identificação, na avaliação e no monitoramento da forma cardíaca da condição.

Papel da Cardiologia Nuclear na Sarcoidose Cardíaca

Duas técnicas de Medicina Nuclear podem ser utilizadas na avaliação da sarcoidose cardíaca: a tomografia por emissão de pósitrons com 18F-fluorodesoxiglicose (FDG-PET) e a cintilografia cardíaca com gálio-67. Dentre eles, o exame de FDG-PET tem maior acurácia e se configura, atualmente, como o método de escolha nesse contexto. 

O estudo de FDG-PET consegue detectar atividade inflamatória por meio da redução da glicose pelas células inflamatórias dos granulomas sarcoidóticos. Além disso, a cintilografia de perfusão miocárdica fornece informações sobre a fibrose associada à infiltração granulomatosa. 

Para garantir a especificidade, o paciente é submetido a um preparo dietético com o objetivo de suprimir a captação fisiológica do miocárdio, o que permite melhor contraste entre o tecido inflamado e o tecido normal. A coleta focal ou focal sobreposta à difusão de FDG no miocárdio é sugestiva de inflamação ativa, enquanto a ausência de coleta sugere ausência de atividade inflamatória significativa ou sucesso terapêutico.

Vale assinalar que a associação de FDG-PET com a perfusão miocárdica com o uso de agentes como o rubídio-82 (pouco disponível em nosso meio) ou 99mTc-sestamibi melhora a acurácia diagnóstica. O padrão de discordância (mismatch) entre áreas de hipoperfusão e captação de FDG indica processo inflamatório ativo (sarcoidose ativa), enquanto o padrão de correspondência (match) pode apontar fibrose miocárdica.

Indicações clínicas e impacto no manejo

Além do importante papel de diagnóstico, o exame de FDG-PET identifica inflamação na atividade ao mostrar detecção aumentada em áreas miocárdicas com atividade granulomatosa. Também é de grande ajuda na estratificação de risco, já que a detecção difusa associada à fibrose e inflamação contínua sugere maior risco de progressão. 

A técnica ainda tem importância na aplicação no seguimento da resposta terapêutica à imunossupressão, visto que a redução da coleta em comparação com os exames prévios sinalizando sucesso clínico. 

Apesar de sua grande utilidade, o método enfrenta limitações quando o preparo do paciente é inadequado, podendo levar a exames falsamente positivos. O avanço na quantificação automatizada da captura tende a melhorar a padronização e a interpretação dos exames, resultando em uma maior especificidade.

Consultoria Médica em Cardiologia

Dr. Marco Antonio Condé de Oliveira -  [email protected] 

Dra. Paola Smanio - [email protected]