O avanço no tratamento do câncer de mama tem ampliado a sobrevida das pacientes e permitido uma abordagem terapêutica cada vez mais personalizada. Contudo, ainda existem controvérsias quanto à indicação da quimioterapia, de modo que o manejo ideal requer discussão multidisciplinar entre mastologista, radiologista, oncologista clínico e patologista para garantir uma avaliação integrada antes da definição terapêutica.
Nesse contexto, os testes genômicos ganham importância como estratégia de individualização do tratamento. É o caso do Oncotype DX ® , um exame que avalia o perfil molecular do tumor de mama individualmente, estimando o risco de recorrência em dez anos e contribuindo muito na conduta clínica. O teste consiste na análise de 21 genes por RT-PCR, 16 dos quais relacionados ao tumor, acrescidos de cinco genes de referência. O resultado é expresso como escore de recorrência (RS) em dez anos na vigência do tamoxifeno adjuvante.
Na prática
A seguir, apresentamos o caso de uma paciente de 60 anos, sem comorbidade ou antecedentes oncológicos familiares, que, aos 57 anos e pós-menopausada, passou por uma quadrantectomia com linfadenectomia em virtude de um carcinoma invasivo tipo não especial.
O exame anatomopatológico mostrou um tumor de 0,7 cm, grau histológico II, grau nuclear 3, sem invasão angiolinfática ou perineural, com margens livres e sem acometimento linfonodal (0/12). Já a imuno-histoquímica apresentou receptor de estrógeno 98%, receptor de progesterona negativo, HER-2 negativo e Ki-67 15%.
Durante uma reunião multidisciplinar, a equipe médica optou diretamente pela hormonioterapia, tendo considerado que se tratava de um paciente na pós-menopausa, com tumor grau II e receptor de estrogênio forte.
No entanto, em discussão com o paciente e com o uso da calculadora da Universidade do Tennesse*, foi fornecido que ela tinha uma probabilidade pré-teste de 41% para estar no grupo do Oncotype DX ® de alto risco.
Com isso, para uma decisão mais assertiva, foi recomendado que um paciente sofrasse com a realização do Oncotype DX ®, mesmo em um caso de tumor T1b. O resultado do RS confirmou a previsão de alto risco, com uma pontuação de 33.
A paciente recebeu quatro ciclos de quimioterapia com docetaxel e ciclofosfamida (TC X 4), tratamento realizado entre os meses de novembro de 2021 e fevereiro de 2022. Fez ainda radioterapia adjuvante e, desde fevereiro do mesmo ano, passou a usar anastrozol 1 mg oral, além de ácido zoledrônico 4 mg a cada seis meses.
Conclusão
A realização do Oncotype DX ® foi fundamental na decisão do melhor tratamento para esse paciente, que segue até hoje sem evidência de doença.
*A calculadora da Universidade do Tennessee é uma ferramenta utilizada para estimar o benefício potencial de intervenções terapêuticas, como quimioterapia, com base em fatores clínicos e biológicos específicos do paciente em tratamento, um exemplo de taxas de sobrevida e risco de recorrência. 52
Consultoria Médica:
Dr. Ricardo Emanuel é oncologista clínico e coordenador da Oncologia D'Or/Hospital São Lucas, em Sergipe, e oncologista clínico do Hospital de Urgência de Sergipe. Tem Residência em Oncologia Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo/USP e MBA em Gestão de Saúde pela FGV.
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