Quando se pensa sobre o modelo ideal de uma consulta médica e o tipo de relacionamento médico-paciente que deve existir, não é incomum vir à mente a forma de trabalho do ginecologista. Médico especializado em saúde feminina, o ginecologista inicia sua atuação já no início da adolescência da mulher, cobrindo todas as demais fases da vida de suas pacientes, e zela não só pela saúde ginecológica, mas também pelos cuidados necessários para a manutenção da saúde geral de tal grupo. Não é à toa que, no Brasil, uma população feminina vive cerca de sete anos mais do que a masculina, o que evidencia a excelência desse trabalho de promoção de saúde e prevenção de doenças.
O cuidado ginecológico de rotina é, portanto, o principal e mais constante contato da mulher com o sistema de saúde ao longo de sua vida, um paralelo não encontrado no cuidado à saúde da população masculina prestado pelo urologista. Apesar dessa atenção tão valiosa, pautada em especial pela promoção de saúde, pelo rastreamento de doenças ginecológicas e pela orientação contraceptiva, existe uma oportunidade valiosa, ainda pouco explorada e, muitas vezes, negligenciada pelo ginecologista geral – a fertilidade, mas sob o prisma da orientação conceitual.
A falta de atenção a esse tema pode ser explicada pela realidade relativamente nova que envolve a saúde reprodutiva feminina, marcada pelo adiamento cada vez mais progressivo da maternidade. Esse comportamento é consequência direta do empoderamento da mulher e de sua ascensão no mercado de trabalho, bem como de décadas de uma política de saúde pública baseada em cuidados contraceptivos, que obteve o livre-arbítrio e a cultura disseminada de postergar a primeira gravidez.
Nesse novo panorama apresentado pela sociedade moderna, cabe principalmente ao ginecologista geral, que conhece o histórico clínico, familiar e os projetos de vida de cada mulher, trazendo à tona reflexões sobre o tempo fértil e os fatores que impactam os níveis de fertilidade. Situações como sintomas de endometriose, irregularidade menstrual, histórico familiar de falência ovariana prematura e desejo de maternidade após os 35 anos devem ser apreciadas nas consultas de rotina, de preferência ainda antes dos 30 anos.
Necessidade de conhecer o potencial reprodutivo
Com apenas uma conversa a respeito do desejo de maternidade e da existência de algum tipo de pensamento reprodutivo futuro, conduzida de maneira natural e acolhedora durante uma consulta, o ginecologista consegue entender os melhores anseios, medos e angústias que geralmente permeiam essa fase da vida das mulheres. Nesse momento, oferecemos uma avaliação laboratorial e de imagem básica, que também inclui exames específicos para investigar queixas e achados clínicos do paciente.
Apesar da complexidade do trato reprodutivo feminino, alguns testes simples permitem avaliar a reserva ovariana, proporcionando sua compatibilidade com a idade da mulher. Da mesma forma, uma avaliação hormonal por meio das dosagens de FSH, LH, estradiol e hormônio antimülleriano nos primeiros dias do ciclo menstrual, associada à ultrassonografia transvaginal com contagem de folículos antais, fornece informações valiosas sobre o potencial ovariano, dando ainda mais subsídios para abordar a questão da fertilidade no consultório. O fato é que, ao conversar sobre fertilidade com mulheres jovens, o ginecologista lhes confere autonomia sobre esse tema e, evidentemente, ferramentas essenciais para que tomem decisões conscientes sobre seu futuro reprodutivo, de acordo com o resultado dos exames realizados.
A falta da abordagem desse assunto durante a idade reprodutiva pode acarretar, no futuro, um importante impacto negativo para o bem-estar social, emocional e conjugal das mulheres com desejo da constituição do perfil, na medida em que há possibilidade de perderem o melhor timing da concepção e enfrentarem a infertilidade como um dos grandes desafios da vida.
Assim sendo, parece bastante problemático que os ginecologistas gerais conheçam minimamente a avaliação básica do potencial reprodutivo feminino, bem como as principais técnicas reprodutivas existentes para a preservação da fertilidade social, e que o tema ocupa lugar de destaque nas consultas de rotina. Nesse contexto, a criopreservação de óvulos configura-se como o método de maior relevância para a tentativa de preservação da fertilidade futura para as mulheres solteiras, seguida do congelamento de embriões, indicado especialmente para as casadas.
Passou o tempo em que o ginecologista geral deveria se preocupar apenas com a saúde feminina e com o planejamento contraceptivo. As situações evoluíram e as demandas das mulheres em idade reprodutiva mudaram. Ao assumir o comprometimento de se preocupar com o planejamento conceitual de forma ativa, o ginecologista oferece à população feminina contemporânea um cuidado completo, preventivo e definitivamente mais alinhado às suas necessidades.
"A ginecologia evoluiu. Hoje, oferecer um cuidado completo também significa conversar sobre fertilidade e planejamento conceitual na consulta de rotina.“
Consultoria médica:
Dr. Daniel Suslik Zylbersztejn Coordenador médico do Fleury Fertilidade - [email protected]
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