A prevalência de disfunções da tiroide é alta na população geral e aumenta em indivíduos acima de 60 anos de idade. Mais de 10% dos pacientes acima de 80 anos podem apresentar disfunções subclínicas, embora ainda não esteja totalmente claro se essas alterações possuem algum significado clínico ou se decorrem dos eventos relacionados à senescência. A deficiência hormonal mais comum é o hipotiroidismo primário, mais frequente em mulheres do que em homens e, também, com incidência crescente com a idade. A condição se caracteriza por níveis de TSH acima do valor de referência. Os níveis de T4 livre encontram-se dentro dos valores de referência nos quadros subclínicos e baixos quando a doença apresenta manifestações.
Diagnóstico de hipotiroidismo subclínico
Segundo o Consenso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a investigação de hipotiroidismo subclínico é recomendada quando há suspeita da condição ou como rastreamento em grupos específicos de indivíduos:

O diagnóstico fica confirmado diante de concentrações séricas elevadas de TSH e níveis normais do T4 livre. Destaca-se que outras causas de elevação do TSH devem ser excluídas.
Diagnóstico diferencial de hipotiroidismo subclínico

Valores de referência do TSH para a população brasileira acima de 60 anos
A definição de valores de referência próprios para adultos com mais de 60 anos é importante para evitar excessos tanto no diagnóstico quanto no tratamento do hipotiroidismo subclínico na população geriátrica. Nesse sentido, os médicos consultores de Endocrinologia do Grupo Fleury realizaram um levantamento com a base de dados do laboratório e as técnicas de big data. Assim, foram obtidos dados iniciais de 10,43 milhões de testes de TSH dosados pelo mesmo método na população acima de 60 anos. Considerando-se como fatores de inclusão das amostras a concentração de T4 livre dentro dos valores de referência, a ausência de anticorpos antitiroidianos e o não uso de medicamentos, a seleção final de amostras foi de 365.763 dosagens.
Dessa maneira, o grupo de pesquisadores encontrou os seguintes valores para os intervalos de referência do TSH na população idosa:

Desfechos clínicos
Na população idosa, o hipotiroidismo subclínico é menos sintomático que nas pessoas mais jovens e os efeitos sobre o humor e a cognição, bem como os sintomas, podem se confundir com aqueles relacionados com a idade.
O hipotiroidismo subclínico pode evoluir para o clínico, mas a maioria dos pacientes idosos persiste nessa condição após longos períodos. Contudo, valores de TSH ≥10 mU/L são um preditor independente de risco para progressão para o hipotiroidismo manifesto. Além disso, a flutuação no nível do hormônio configura um evento comum e, por isso, os resultados devem ser sempre checados com uma nova dosagem para a confirmação da alteração e a exclusão da interferência do ritmo circadiano e das causas transitórias de elevação do TSH.
A forma clínica do distúrbio afeta a função cognitiva e o bem-estar, bem como o sistema cardiovascular, induzindo alterações reversíveis na hemodinâmica cardiovascular e constituindo-se em fator de risco para doença cardíaca isquêmica e insuficiência cardíaca.
Tratamento do hipotiroidismo no idoso
É importante lembrar que o uso excessivo de levotiroxina no idoso, que pode ser suspeitado pela presença de valores de TSH abaixo do limite de referência, pode levar a alterações cardiológicas, como arritmia, e perda de massa óssea. A dose de levotiroxina deve ser iniciada de forma gradual, com monitorização das dosagens de TSH a cada 6-8 semanas.
Consultoria médica:
Dr. José Viana Lima Junior
Consultor médico em Endocrinologia
Dra. Maria Izabel Chiamolera
Consultora médica em Endocrinologia
Dr. Pedro Saddi
Consultor médico em Endocrinologia
Dra. Rosa Paula M. Biscolla
Consultora médica em Endocrinologia
Dr. Rui Maciel
Consultor médico em Endocrinologia
Referências
• Sgarbi JA, et al. Consenso brasileiro para a abordagem clínica e tratamento do hipotireoidismo subclínico em adultos: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3:166-83.
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