A importância da ultrassonografia gestacional de primeiro trimestre

A ultrassonografia transvaginal precoce é realizada entre 5 e 9 semanas de gestação.

Realizada entre 5 e 9  semanas de gestação,  a ultrassonografia transvaginal  precoce desempenha  um papel importante nas  avaliações gestacionais de  primeiro trimestre. 

O caso 

Gestante de 36 anos, primigesta e sem antecedentes mórbidos, obstétricos ou ginecológicos relevantes, realizou a primeira coleta de ßHCG com 6 semanas e 2 dias (1.498 UI/L).  Em seguida, fez coletas repetidas de ßHCG, assim como a  ultrassonografia transvaginal, como detalhado no quadro  1. Com 7 semanas e 6 dias, apresentou sangramento vaginal moderado e intermitente e, assim, uma nova coleta de  ßHCG foi realizada com 8 semanas (5.440 UI/L). A ultrassonografia transvaginal, feita com 8 semanas e 1 dia, levantou a suspeita de gestação ectópica cornual (imagem 1).  A repetição desse exame após uma semana evidenciou aumento da imagem heterogênea em região cornual uterina à  direita (imagem 2).


IMAGEM 1- Ultrassonografia  transvaginal,  8 semanas e 1  dia, mostra imagem heterogênea em região  cornual direita


IMAGEM 2- Ultrassonografia  transvaginal,  9 semanas e 1  dia, aponta imagem heterogênea em região  cornual direita.


Quadro 1 - Resultados das coletas de ßHCG e dos exames de ultrassonografia transvaginal


A discussão 

Após o diagnóstico de gravidez por meio de  um teste positivo de ßHCG, a ultrassonografia transvaginal precoce, a partir de 5 semanas  de gestação, é de suma importância, uma vez  que o exame traz inúmeros benefícios.

No caso clínico apresentado, ilustramos a importância de definir a localização do saco gestacional. Na ultrassonografia, o primeiro sinal  indireto de gestação observado é o espessamento endometrial, que, no entanto, não configura um achado específico, tendo em vista  que pode ser encontrado também em pacientes não gestantes (no fim da fase lútea) e em  situações de gestação ectópica.

Importância da ultrassonografia gestacional  de primeiro trimestre

Já o saco gestacional representa o primeiro sinal diagnóstico  de gestação intrauterina, podendo ser visualizado à ultrassonografia transvaginal com 4 semanas e 3 dias, a partir da data  da última menstruação. Aparece como uma estrutura em  forma de anel, de contorno hiperecogênico e centro anecoico. Nessa fase inicial, localiza-se excentricamente na parte  superior do endométrio espessado, o que facilita a distinção  do “pseudossaco gestacional”, que pode ocorrer nos casos  de gestação ectópica e aparece como uma imagem anecoica, alongada, localizada na região mediana, correspondendo a uma coleção líquida intracavitária (imagens 3 a 5).

IMAGEM 3- Ultrassonografia transvaginal bidimensional, 6 semanas,  aponta presença de saco gestacional intrauterino, compatível com gestação  normal tópica.


IMAGEM 4- Ultrassonografia transvaginal tridimensional,  6 semanas, mostra gestação normal tópica


Os níveis séricos maternos de ßHCG, nos quais deve-se  evidenciar gestação intrauterina à ultrassonografia, vão de 1.000 a 2.000 mUI/mL (Kadar et al., 1981;  Cacciatore et al., 1990).

A associação dos níveis de ßHCG no sangue materno  com o exame ultrassonográfico ajuda a fazer diagnóstico  diferencial entre uma gravidez normal tópica e uma ectópica  ou anormal. 

Em uma gestação ectópica, o saco gestacional encontra-se fora da cavidade uterina, e esta pode ser tubária, ovariana,  abdominal, cornual, em cicatriz de cesárea ou cervical.  Essa situação acomete de 1% a 2% das gestações, das quais  cerca de 97% a 99% são tubárias e, destas, quase 75% ocorrem na porção ampular da tuba uterina (Stock,  1993; Cunningham, 2010). As imagens 6 a 9 mostram alguns dos tipos de gestações ectópicas. 

A sensibilidade do exame ultrassonográfico realizado por via transvaginal no diagnóstico da  gravidez ectópica varia de 70% a 95% (Cacciatore, 1990; Pellerito et al., 1992; Kaplan et al., 1998;  Condous et al., 2005). 

Benefícios da realização da  ultrassonografia transvaginal precoce


Imagens 5A e 5B- Ultrassonografia transvaginal, 6 semanas, evidencia um pseudossaco gestacional intrauterino e imagem anexial compatível  com gestação ectópica


IMAGEM 6- Ultrassonografia transvaginal, 6 semanas e 2 dias, apresenta imagem de gestação ectópica tubária. Observa-se, em região  anexial adjacente ao ovário direito, imagem heterogênea correspondendo a saco gestacional, com vesícula vitelínica e embrião com  batimentos cardíacos.


IMAGEM 7- Ultrassonografia transvaginal, 6 semanas e 3 dias, aponta  gestação ectópica cornual. Observa-se saco gestacional localizado  em região cornual direita, com presença de embrião com batimentos  cardíacos.


IMAGEM 8- Ultrassonografia transvaginal, 7 semanas e 5 dias, indica  gestação ectópica em cicatriz de cesárea. Observa-se, nessa região,  imagem heterogênea correspondendo a saco gestacional e embrião  com batimentos cardíacos.


IMAGEM 9- Ultrassonografia transvaginal, 6 semanas e 5 dias, aponta  gestação ectópica cervical. Observa-se saco gestacional localizado no  colo uterino, com presença de vesícula vitelínica.


A conclusão 

A ultrassonografia transvaginal precoce, realizada  entre 5 e 9 semanas de gestação, desempenha  um papel importante nas avaliações gestacionais  de primeiro trimestre. Em gestações normais, determina a correta idade gestacional (datação da  gravidez), o número de sacos gestacionais, o número de embriões e a corionicidade nos casos gemelares. Também ajuda a fazer o diagnóstico  de diversas anomalias, incluindo abortamentos espontâneos, gestações ectópicas, gestações molares, alterações de morfologia uterina e alterações  na sonoembriologia. Imagens de alta qualidade  e profissionais experientes resultam em maiores  taxas de detecção dessas possíveis complicações.

Deve-se salientar que, tão importante quanto diagnosticar corretamente casos anormais, é evitar erros que podem levar a danos inadvertidos a gestações normais.


Consultoria Médica:

Dr. Mário Henrique Burlacchini de Carvalho 

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Dr. Lin Tao Jine 

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Dra. Clarissa Oliveira Lamberty 

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