A vitalidade da histerossalpingografia no diagnóstico de mulheres inférteis | Revista Médica Ed. 2 - 2013

O método ainda se destaca na avaliação inicial das trompas de Falópio

Na avaliação diagnóstica das mulheres com dificuldade para engravidar, um dos primeiros objetivos é analisar a morfologia e a permeabilidade tubária, uma vez que anormalidades congênitas, espasmos, oclusão ou infecção das trompas de Falópio estão entre as principais causas da infertilidade feminina, ocorrendo em cerca de 30% a 40% dessas pacientes.

Apesar de existirem exames que sugerem a presença do fator tubário, como a histerossonografia e a sorologia positiva para Chlamydia trachomatis, a histerossalpingografia (HSG) continua sendo importante na avaliação inicial das mulheres inférteis e permanece como a primeira opção para descartar a causa tubária de infertilidade. 

O método, que emprega contraste hidrossolúvel com iodo, permite avaliação ideal das trompas de Falópio, na medida em que possibilita a visualização de seus três segmentos, ou seja, a porção intersticial, que atravessa o miométrio, a porção ístmica, que se situa dentro do ligamento largo, e a porção ampular, adjacente ao ovário. Com isso, consegue avaliar a permeabilidade, a presença de obstrução ou alterações intrínsecas das tubas, bem como modificações do espaço peritubário, que pode sugerir o diagnóstico de aderências, muito comuns na endometriose e na doença inflamatória pélvica.

O contraste, injetado lentamente através do orifício externo do colo uterino, permite a obtenção de imagens claras e distintas da cavidade uterina e das tubas, possibilitando  o estudo das pregas mucosas e das alterações ali presentes. A oclusão tubária manifesta-se como uma parada abrupta do contraste em qualquer lugar ao longo do trajeto da tuba uterina, sem opacificação de sua parte distal, uni ou bilateralmente, podendo ou não estar associada a alterações do calibre. Nas adesões peritubárias, por sua vez, o contraste não se distribui livremente na cavidade abdominal. Já quando estão normais, as trompas de Falópio aparecem à HSG como linhas finas, de contornos regulares, cujo calibre aumenta na porção ampular.

O exame tem sensibilidade de 65% e especificidade de 87% para doença tubária e de 46% e 95%, respectivamente, para doença peritubária, quando comparado com a laparoscopia. Vale destacar ainda, dentre suas qualidades, o fato de ser um procedimento ambulatorial, que não necessita de anestesia, bem como sua rápida execução, taxa mínima de morbidade e custo relativamente baixo.


Outras aplicações

Além de avaliar a permeabilidade tubária, a HSG pode ser útil para a avaliação da cavidade uterina, tendo em vista que anormalidades como pólipos, miomas, adesões intrauterinas (sinéquias) e alterações congênitas também acometem até 10% das mulheres com redução da fertilidade. Nesse tipo de avaliação, o exame apresenta alta sensibilidade (60-98%), mas a especificidade pode variar amplamente (15-80%).

De modo geral, na presença de defeitos de preenchimento da cavidade uterina vistos inicialmente na HSG, recomenda-se que a investigação prossiga com outros exames, como a histeroscopia ou com a histerossonografia, que se mostram mais sensíveis, específicos e acurados, embora de valor limitado para a análise das anormalidades tubárias.

  

*Radiologista formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência médica no Hospital das Clínicas (FM-USP), tem título de especialista em Radiodiagnóstico concedido pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Atualmente é assessor médico em Radiologia e Ultrassonografia do Fleury.
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