Avaliação da via de reparo por recombinação homóloga contribui para a definição terapêutica no câncer de ovário avançado

A HRD tem sido considerada um biomarcador tanto prognóstico quanto preditivo de resposta aos PARPi.

O câncer de ovário é o segundo tumor ginecológico maligno mais comum e responde pelas mais altas taxas de mortalidade desse grupo de neoplasias. O tratamento-padrão do carcinoma seroso de alto grau abrange a ressecção cirúrgica e a quimioterapia à base de platina e taxanos, oferecendo uma sobrevida em cinco anos em torno de 30%, o que torna imperativa a avaliação individual da paciente e, em alguns casos, a associação de outras drogas.

Cerca de metade desses carcinomas avançados exibe defeitos na recombinação homóloga, um dos mecanismos mais precisos de reparo de danos ao DNA. Tal característica culmina no emprego de vias alternativas pelas células tumorais, mais propensas a erros e capazes de gerar cicatrizes genômicas.

A deficiência na via de reparo por recombinação homóloga (HRD, na sigla em inglês) confere um fenótipo clínico distinto ao tumor, que, do ponto de vista terapêutico, se traduz em resposta superior à quimioterapia com sais de platina e sensibilidade a inibidores da PARP (PARPi). Dessa forma, a HRD tem sido considerada um biomarcador tanto prognóstico quanto preditivo de resposta aos PARPi.

Uma vez que o advento dos PARPi vem transformando o manejo do câncer de ovário avançado, seja no tratamento primário, seja nas recaídas, a avaliação de HRD nesses tumores ganhou relevância.

Sabe-se, atualmente, que a presença de variantes patogênicas nos genes BRCA1 e BRCA2 está entre as principais causas de HRD na neoplasia ovariana. No entanto, diversos
outros genes e até mesmo mecanismos desconhecidos podem se associar à deficiência.

 Nesse contexto, diferentes métodos foram desenvolvidos para análise de HRD em fragmentos de tumor. A European Society of Medical Oncology apoia o uso de testes que se baseiam na análise dos genes BRCA1 e BRCA2 e do status HRD pela pesquisa de cicatrizes genômicas.
O Fleury introduziu, em sua rotina, um exame que permite identificar variantes pontuais, pequenas deleções e inserções e variações do número de cópias nos genes BRCA1 e BRCA2, assim como outras alterações que causam HRD, por meio de um escore de instabilidade genômica avaliado por três fatores – perda de heterozigosidade, desequilíbrio alélico telomérico e grandes transições. A interpretação dos dados conta
com inteligência artificial e equipe especializada.

O teste, que tem seus resultados liberados em até 15 dias, consegue detectar alterações moleculares acionáveis, auxiliando, em conjunto com outros achados clínicos, radiológicos e histológicos, a decisão terapêutica.


Referências
• Miller RE et al. ESMO recommendations on predictive biomarker testing
for homologous recombination deficiency and PARP inhibitor benefit in
ovarian cancer. Ann Oncol. 2020 Dec;31(12):1606-1622.

• Heitz F et al. Implementing HRD Testing in Routine Clinical Practice on
Patients with Primary High-Grade Advanced Ovarian Cancer. Cancers
(Basel). 2023 Jan 29;15(3):818.

• Ngoi NYL, Tan DSP. The role of homologous recombination deficiency
testing in ovarian cancer and its clinical implications: do we need it? ESMO
Open. 2021 Jun;6(3):100144.


Consultoria Médica

Dr. Aloísio S. F. Silva
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Dra. Dafne Carvalho Andrade
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Dr. Renato José Mendonça Natalino
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