Cefaleia de forte intensidade com duração de quatro dias

Que possibilidades considerar após avaliar os estudos de imagem?

Mulher, 28 anos, procurou pronto-atendimento em consequência de um episódio de cefaleia espontânea severa associada a náuseas, predominantemente à esquerda, com duração de 12 horas. Naquela oportunidade, seu exame neurológico e a tomografia realizada não apresentaram alterações. Os testes laboratoriais, incluindo o estudo do liquor, também estavam normais. Assim, ela recebeu alta com analgésicos, porém com pouca melhora dos sintomas.

Passados quatro dias, em consequência da permanência do quadro, a paciente retornou ao serviço de saúde, onde foi solicitada uma ressonância magnética (RM), assim como uma angiografia por RM, exames abaixo documentados.

Diante das alterações observadas, qual o diagnóstico?

  • Síndrome de vasoconstricção reversível
  • Vasoconstricção decorrente de hemorragia subaracnoide
  • Vasculite primária do sistema nervoso central


Imagens da angiografia por RM com técnicas MIP (A e B) e volume rendering (C e D) demonstram assimetria do calibre e do sinal de fluxo das artérias cerebrais médias (pontas de setas), menores à esquerda. Destacam-se irregularidades parietais do segmento cisternal proximal da artéria cerebral média esquerda, bem como de algumas de suas ramificações operculares, com áreas focais de afilamento (setas). As imagens FLAIR (E e F) do parênquima enfelálico não demonstram alterações parenquimatosas significativas ou sinais de hemorragia subaracnoide.


Resposta do caso de cefaleia de forte intensidade 

A síndrome de vasoconstrição cerebral reversível (SVCR) é uma condição clínico-radiológica caracterizada primordialmente por início abrupto de dor de cabeça severa e constrição segmentar reversível das artérias cerebrais. Não se trata, portanto, de uma entidade nosológica, mas de uma apresentação comum a múltiplos distúrbios que compartilham a constrição reversível dos vasos encefálicos. Hoje se emprega o termo na unificação de uma constelação de entidades que se pensava distintas, como a síndrome de Call-Fleming e a angiopatia puerperal.

A presunção diagnóstica da SVCR é essencial para assegurar o atendimento adequado ao paciente e evitar exames desnecessários. Contudo, uma vez que seus sinais e sintomas podem se sobrepor aos de outras condições, não raro o diagnóstico se torna um desafio. Como se não bastasse, a vasoconstrição arterial segmentar – um dos pilares radiológicos da síndrome – pode estar ausente no começo das manifestações clínicas.

Em geral, a SVCR afeta pacientes entre 20 e 50 anos, com maior prevalência em mulheres, podendo ser primária, espontânea e sem causa subjacente óbvia, ou secundária a um gatilho identificável em 25% a 60% dos casos. O tempo decorrido entre a exposição a um gatilho exógeno e o desenvolvimento da síndrome é variável, mas a associação com os fatores mais comumente relatados é convincente, em especial com o uso de drogas vasoativas e com o estado puerperal, que, em conjunto, representam mais da metade dos casos (50% e 10%, respectivamente).


Angiografia por RM com MIP (A) e volume rendering (B) da mesma paciente mostra reversão das irregularidades parietais do segmento cisternal proximal da artéria cerebral média esquerda e de algumas de suas ramificações operculares descritas no exame de referência.


Critérios diagnósticos para SVCR 
Cefaleia severa, com ou sem outros sinais e sintomas neurológicos
Curso unifásico, sem novos sintomas em um mês após o início das manifestações
Ausência de hemorragia subaracnoide
LCR normal (<15 células brancas por mL; proteínas <100 mg/dL)
Vasoconstrição segmentar das artérias intracranianas
Reversão dos achados angiográficos em 12 semanas



Precipitantes da SVCR e condições associadas

  • Gravidez e pós-parto
  • Exposição a drogas lícitas ou ilícitas
  • Uso de medicamentos vasoativos
  • Tumores secretores de catecolaminas
  • Traumatismo e intervenções cirúrgicas de cabeça e pescoço
  • Dissecção da carótida ou da artéria vertebral
  • Trombose venosa cerebral, hipotensão intracraniana, meningite
  • Exposição a imunossupressores ou produtos sanguíneos
  • Doenças autoimunes
  • Outros (hipercalcemia, porfiria, intoxicação por fenitoína)

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Tratamento e prognóstico

 As recomendações atuais de tratamento incluem a retirada de desencadeantes exógenos suspeitos, alívio de sintomas com analgésicos, controle da pressão arterial e profilaxia de convulsões. Notadamente os bloqueadores dos canais de cálcio, como a nimodipina, têm sido utilizados com sucesso.

Em geral, a SVCR segue um curso autolimitado, monofásico, com resolução dos sintomas em três semanas e da vasoconstrição ao longo de 12 semanas, o que deve ser documentado por exames de imagem de controle. Na paciente em estudo, a angiografia feita após cinco semanas da primeira avaliação evidenciou a reversão dos achados de imagem iniciais. No entanto, uma minoria demonstra piora clínica tardia nas primeiras semanas após o início das manifestações, na maioria das vezes devido a infarto isquêmico ou hemorrragia. A recidiva parece rara.

 

 

CONSULTORIA MÉDICA

Dr. Antonio Carlos M. Maia Jr.

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