O estudo dos cromossomos humanos sofreu grandes avanços nos últimos 40 anos. A citogenética perdeu seu aspecto meramente investigativo e tornou-se uma disciplina diagnóstica indispensável para a identificação de anomalias cromossômicas em diversas situações hematológicas, tais como leucemia aguda e leucemia crônica, linfoma e mieloma múltiplo, entre outras.
Dada a facilidade de obtenção de células para estudo, seja pela coleta de sangue periférico, seja pelo aspirado de medula óssea ou mesmo do linfonodo, a citogenética ganhou especial destaque porque permite o diagnóstico preciso, a estratificação prognóstica, a classificação, a orientação terapêutica, o monitoramento do tratamento ou acompanhamento evolutivo e o en-34,8912tendimento dos fenômenos fisiopatológicos subjacentes (Chauffaille, 2003).
O cariótipo convencional por banda G é o método inicial de avaliação genética e permite a identificação de numerosas alterações relevantes para a conduta clínica e para o tratamento da doença. Na suspeita de leucemia mieloide crônica, é indispensável a detecção do cromossomo Philadelphia para a conclusão diagnóstica.
As alterações cromossômicas mais observadas na leucemia mieloide aguda (LMA) são translocações e deleções. Ainda que hoje já se conheçam algumas mutações gênicas também relevantes nessas leucemias, segue o cariótipo como um exame fundamental em tal contexto. A tabela 1 apresenta a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as LMAs e as alterações genéticas mais frequentes nesse grupo de doenças.
Já as tabelas 2 e 3 demonstram as alterações mais comuns em síndrome mielodisplásica (SMD) (Nimer, 2008) e a tabela 4 mostra as mutações na leucemia linfoblástica aguda (LLA) (Pullakart et al, 2008).
Nas neoplasias mieloproliferativas crônicas, entre as quais a policitemia vera, a mielofibrose e a trombocitemia essencial, as anomalias cromossômicas mais comumente observadas incluem 20q-, +8, +9, ganho de material no 1q e 13q- e +7 (Tam et al, 2009; Gangat et al, 2009; Andrieux & Demory, 2005). Atualmente, porém, a pesquisa da mutação JAKV 617F, assim como da MPL ou derivadas, também é fundamental no diagnóstico desse conjunto de doenças.
Nas doenças linfoproliferativas, destacam-se as alterações apontadas na tabela 6. Na leucemia linfoide crônica (LLC), as aberrações cromossômicas ocorrem em cerca de 60% dos casos, sendo as mais comuns +12, 14q+ e t/del(13q). A trissomia 12 está associada à LLC avançada ou atípica.
A leucemia prolinfocítica evidencia geralmente 14q+ ou t(11;14)(q13;q32). A tricocitoleucemia também apresenta 14q+, 6q- e del(14q). Por sua vez, a leucemia/linfoma de célula T do adulto possui alterações 14q+, tanto na banda q11 como na q32.
O mieloma múltiplo (MM) traz, com maior incidência, alterações do 14q32, 1q, 17p+ e 6q- (Hideshima et al, 2004). Entretanto, a aneuplodia é característica frequente, sendo comum a trissomia dos cromossomos 3, 5, 7, 9, 11, 15, 19 e 21 nos casos hiperdiploides.
Já a micose fungoide e a síndrome de Sézary são proliferações de linfócito T e apresentam alterações envolvendo 14q32, del 6q e 2p.
Contudo, embora muitas alterações cromossômicas sejam reveladas pelo cariótipo, alguns casos não evidenciam anormalidades por esse método, seja porque a célula clonal não entrou em divisão, seja porque se trata de rearranjos de segmentos menores que 3 a 5 milhões de pares de base (Mb), não identificáveis pelo cariótipo (Flint & Knight, 2003; Knight & Flint, 2004).
A hibridação in situ por fluorescência (FISH) é um método citogenético-molecular que contorna alguns dos obstáculos do cariótipo convencional, uma vez que permite, com maior sensibilidade, a determinação de sequências específicas do DNA, tanto em metáfases como em interfases.
A FISH tem sido amplamente usada em casos de LLC e MM para os quais a informação específica é relevante para estabelecer conduta. Usando-se o método em LLC, é possível detectar 2,6 vezes mais a trissomia 12 em relação à citogenética convencional, pois se avaliam células que não entram em divisão (Shanafelt et al, 2004). A deleção 13q é alteração considerada de prognóstico favorável, enquanto a deleção 11q associa-se a doença rapidamente progressiva, linfadenopatia extensa, estágios avançados e sobrevida curta (Nascimento et al, 2006).
Outro exemplo importante é a leucemia promielocítica aguda, situação na qual a rapidez do resultado da FISH para identificar o rearranjo PML/RARA oferece agilidade para a condução terapêutica (Chauffaille et al, 2001; Haferlach et al, 2007).
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Avaliação complementar da análise histológica convencional de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas.
Pode ser utilizada para detectar o DNA da bactéria Leptospira spp. no plasma.
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