Composição corporal por densitometria: princípios e aplicação clínica

Método faz avaliação personalizada da gordura, massa magra e conteúdo mineral ósseo.

Caso clínico
Paciente masculino, 39 anos, procurou o consultório para perda de peso em janeiro de 2019. Não tinha comorbidades. Iniciou programa de dieta e exercícios e apresentou a evolução a seguir, após um ano e meio.





Interpretação da composição corporal por densitometria

A composição corporal por densitometria por dupla emissão de raios X (DXA) calcula a quantidade de gordura, osso e massa magra, incluindo músculo, vísceras e água, e classifica os achados.

Avaliação da gordura corporal

O cálculo clássico do índice de massa corporal (IMC = peso em kg/altura em m²) para avaliar a gordura corporal é limitado: mede o excesso de peso, mas não distingue gordura de massa magra (1), tendo o mesmo ponto de corte para homens e mulheres.

A partir dos dados da DXA, porém, pode-se determinar o índice de gordura corporal, ou fat mass index (FMI = gordura total em kg/altura em m²), que, ao contrário do IMC, avalia exclusivamente a gordura corporal e separa valores para ambos os sexos (2).

Vale ressaltar que a bioimpedância, outro método utilizado para avaliação da composição corporal, fornece sistematicamente valores menores de percentual de gordura corporal que os da DXA, já que utiliza técnicas diferentes (corrente elétrica versus raios X), além de ter acurácia inferior (3).



Avaliação da distribuição da gordura

A gordura ginoide se concentra na região inferior do corpo, ao redor dos quadris e coxas, e não se associa ao aumento do risco cardiovascular. Já a gordura androide é aquela armazenada na região abdominal. Está associada com maior risco de hipertensão, diabetes e doença arterial coronariana por conter o VAT, que corresponde à subtração do tecido adiposo subcutâneo da gordura androide.

A medida do VAT por DXA correlaciona-se bem com a tomografia computadorizada, que representa o método-padrão para a medida de gordura visceral (4). Não existe ainda consenso quanto ao ponto de corte para definir que quantidade desse parâmetro se associa a risco cardiovascular. No entanto, é possível comparar a quantidade de gordura visceral do paciente com o percentil 50 de uma população saudável para a mesma idade e sexo (5).

Avaliação da massa magra

- Appendicular lean mass (ALM): massa magra do braço bilateral somada à da perna bilateral. Não inclui a massa magra do tronco (exclui vísceras). Trata-se da melhor medida da musculatura esquelética.

- ALM/altura² (índice de massa magra apendicular): quando inferior ou igual a 7,0 kg/m², para homens, e inferior ou igual a 5,5 kg/m², para mulheres, sugere baixa massa muscular (6).

- Sarcopenia: falência progressiva e generalizada da musculatura esquelética, relacionada ao aumento de eventos adversos como quedas, fraturas, limitação física e mortalidade. A redução da força muscular é o critério mais importante para o diagnóstico de sarcopenia, que é complementado pela detecção da redução da quantidade (índice de massa magra apendicular por DXA) ou da qualidade muscular (6).

Avaliação do conteúdo mineral ósseo

O conteúdo mineral ósseo (CMO) total é medido em gramas. O T/Z-score da densidade mineral óssea de corpo total não deve ser utilizado para classificar a massa óssea em adultos, conforme os critérios da OMS (osteoporose, osteopenia e normal). Os sítios para essa finalidade incluem coluna lombar e fêmures.

Indicações para realizar composição corporal por DXA (3)
- Status nutricional: obesidade, desnutrição, cirurgia bariátrica
- Resultado de dietas e prática esportiva: em 12 semanas ou quando variar 10% do peso
- Doenças crônicas: anorexia nervosa, afecções inflamatórias
- Distribuição de gordura: lipodistrofia
- População idosa: auxiliar no diagnóstico de sarcopenia



Referências

1. Yajnik CS, Yudkin JS. The Y-Y Paradox. Lancet. 2004 Jan 10;363(9403):163.

2. Kelly TL, Wilson KE, Heymsfield SB. Dual energy X-ray absorptiometry body composition reference values from NHANES. PLoS One. 2009 Sep 15;4(9):e7038.

3. Kendler, David L, et al. The official positions of the International Society for Clinical Densitometry: indications of use and reporting of DXA for body composition. Journal of Clinical Densitometry 16.4 (2013): 496-507.

4. Xia Y, Ergun DL, Wacker WK, Wang X, Davis CE, Kaul S. Relationship between dual-energy X-ray absorptiometry volumetric assessment and x-ray computed tomography-derived single-slice measurement of visceral fat. J Clin Densitom. Jan-Mar 2014;17(1):78-83.


5. Swainson, MG. et al (2019). Age-and sex-specific reference intervals for visceral fat mass in adults. Int J Obes (Lond). 2020 Feb;44(2):289-96.

6. Cruz-Jentoft AJ, Bahat G, Bauer J, Boirie Y, Bruyère O, Cederholm T, et al. Sarcopenia: revised European Consensus on definition and diagnosis. Age Ageing. 2019 Jan 1;48(1):16-31.


Consultoria médica

Dra. Cynthia Maria Álvares Brandão
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