Densitometria óssea na população transgênero

Na ausência de dados adequados, há recomendações específicas para cálculo do T-score, Z-score e Frax

Indivíduos transgêneros ou em não conformidade com o gênero passam por muitas mudanças que podem afetar a massa óssea. Tal fato levanta a questão da necessidade de indicar a densitometria óssea mais precocemente nessa população e de como interpretar o exame. 

Mulheres transgênero (nascidas sob o sexo biológico masculino e que adotam características tipicamente atribuídas a padrões femininos) apresentam densidade mineral óssea menor do que homens cisgênero (que se identificam com o sexo biológico de nascimento), mesmo antes de iniciar qualquer manipulação hormonal, mas não há evidência de que isso se traduza em um iminente maior risco de fratura. 

A terapia hormonal com estrógeno tende a estabilizar a massa óssea ao longo do tempo, de modo que não existe razão para solicitar a densitometria rotineiramente nesse grupo, desde que, evidentemente, as pacientes não apresentem outras doenças relacionadas ao metabolismo ósseo. 

Por outro lado, estudos mostram que homens transgênero (nascidos sob o sexo biológico feminino e que adotam características tipicamente atribuídas a padrões masculinos) têm densidade mineral óssea mais alta do que mulheres cisgênero (que se identificam com o sexo biológico de nascimento) já antes do início da terapia hormonal. O uso de testosterona mantém sua massa óssea estável e pode até levar a um ganho. 

Da mesma forma que nas mulheres transgênero, só há necessidade de avaliação de rotina em indivíduos que permanecerem por um longo período com baixos níveis de hormônios gonadais, já que o hipogonadismo superior a um ano causa perda ou prejuízo na acreção óssea, impactando o alcance do pico de massa óssea, ou, ainda, nos indivíduos com outras condições ou fatores de risco que ocasionem diminuição da massa óssea, como uso de corticoide. 

Merecem acompanhamento igualmente os pacientes com baixa massa óssea identificada na densitometria, os que estejam fazendo uso de medicações para bloqueio da puberdade, como análogos do GnRH, os que não sejam aderentes à terapia hormonal para afirmação de gênero e aqueles com outros fatores de risco para fraturas por fragilidade.

Banco de dados 

Em relação ao banco de dados indicado para calcular o T-score e o Z-score nessa população, a Sociedade Internacional de Densitometria Clínica recomenda, em indivíduos acima de 50 anos, o uso do banco de dados feminino para o cálculo do T-score em todos os indivíduos, assim como feito em homens e mulheres cisgênero, e o banco de dados do gênero de identidade do paciente para o cálculo do Z-score. Já em indivíduos em não conformidade com o gênero, deve-se usar o banco de dados do sexo de nascimento (tabela). Devido à variabilidade hormonal a que essas pessoas são expostas e à ausência de um banco de dados adequado, a interpretação do resultado precisa considerar tais limitações.

Já para o cálculo do risco de fratura com o Frax, ou fracture risk assessment tool, é necessário inserir o gênero do paciente na ferramenta, com a atribuição de um risco maior às mulheres em relação aos homens. Como discutido anteriormente, a população feminina transgênero apresenta densidade mineral óssea mais próxima à da cisgênero, mas não há evidência de aumento do risco de fratura. Pela falta de dados científicos, o fato é que ainda não é possível recomendar qual gênero usar para estabelecer o Frax.

Recomendações para o uso do banco de dados


T-score
Z-score
Homem cis
Banco feminino
Banco masculino
Homem trans
Banco feminino
Banco masculino
Mulher cis
Banco feminino
Banco feminino
Mulher trans
Banco feminino
Banco feminino
Indivíduos em não conformidade de gênero
Banco feminino
Banco do sexo de nascimento


Consultoria Médica

Dra. Patricia Muszkat Consultora - médica em Densitometria Óssea do Fleury [email protected]