A leucemia eosinofílica crônica (LEC), também chamada de eosinofilia clonal ou, ainda, de neoplasia mieloide ou linfoide com eosinofilia e rearranjos nos genes FIP1L1 e PDGFR-alfa, caracteriza-se por proliferação autônoma e clonal de precursores eosinofílicos, resultando no aumento persistente dessas células na medula óssea, no sangue periférico e nos tecidos. Mais comum em homens, com pico de incidência ao redor dos 40 anos, a doença causa lesão orgânica decorrente da infiltração leucêmica ou da liberação de citocinas, enzimas ou outras proteínas pelos eosinófilos.
O advento de terapia antitirosinoquinase, como o mesilato de imatinibe, abriu novas perspectivas para o controle ideal da leucemia eosinofílica crônica. Daí a importância do diagnóstico preciso e rápido para a indicação terapêutica ideal, antes que se instalem as complicações orgânicas, em especial cardíacas, que são irreversíveis.
A eosinofilia é situação relativamente freqüente na prática clínica e, na maioria das vezes, é reacional a processos inflamatórios, tais como inflamação inespecífica, alergia, reação a medicamentos, infecção por vírus, fungos ou bactérias, infestações parasitárias, doenças imunes, doenças endocrinológicas e tumores. A tabela 1 mostra algumas doenças que podem cursar com eosinofilia. Nessas situações, a avaliação diagnóstica deve, a partir da história clínica detalhada e do exame físico cuidadoso, incluir exames gerais de investigação (quadro 1).
Por outro lado, a investigação diagnóstica de eosinofilia de causa inexplicada deve considerar as doenças hematológicas e, para tanto, deve ser feita a avaliação da medula óssea por mielograma, biópsia de medula com imuno-histoquímica, citogenética e imunofenotipagem, além da pesquisa de marcadores moleculares em medula óssea, como o rearranjo FIP1L1/PDGFR-alfa (deleção CHIC2 no 4q12) por FISH; rearranjos PDGFR-beta, geralmente ETV6/PDGFR-beta, por FISH e a mutação KIT D816V.
Além das situações reacionais, a eosinofilia pode ser classificada em:
1) Neoplasia mieloide e linfoide com eosinofília e anormalidades de PDGFR-alfa, PDGFR-beta ou FGFR1 (na qual se inclui a LEC com FIP1L1/PDGFR-alfa), que se caracteriza por mielo ou linfoproliferação, isto é, podem ter manifestação de LEC, de leucemia mieloide aguda ou mesmo de linfoma, com eosinofilia persistente, em geral, >1.500/µL; infiltração orgânica pelos eosinófilos ou mastócitos; presença de rearranjos envolvendo PDGFR-alfa, PDGFR-beta ou FGFR1; ausência de cromossomo Philadelphia ou rearranjo BCR/ABL1 e <20% de blastos na medula óssea. Há ainda elevação da triptase sérica e dos níveis de vitamina B12.
2) Leucemia eosinofílica crônica não especificada, que se caracteriza por eosinofilia persistente, >1.500/µL; lesão orgânica como endomiocardiofibrose; presença de blastos no sangue periférico ou na medula óssea (<20%), ausência de evidência de outras neoplasias mieloproliferativas crônicas ou mielodisplasia; ausência de cromossomo Philadelphia (BCR/ABL1), PDGFR-alfa, PDGFR-beta, FGFR1, inv(16), t(16;16) ou t(5;12).
3) Síndrome hipereosinofílica idiopática, que é semelhante à anterior, mas sem a presença de blastos, sem clonalidade e com mais de seis meses de eosinofilia;
4) Eosinofilia que cursa com neoplasias hematológicas, podendo estar presente em: leucemia mieloide crônica, neoplasias mieloproliferativas crônicas, leucemia mieloide aguda, linfoma, leucemia linfoide aguda, síndrome mielodisplásica e mastocitose. Portanto, toda a investigação específica deve ser conduzida.
5) Eosinofilia crônica idiopática, que não apresenta doença subjacente, organomegalia ou marcador molecular e tem curso estável.
A instituição de mesilato de imatinibe para os casos com presença do rearranjo FIP1L1/PDGFRA deve ser imediata. Inicia-se com dose de 100 mg/dia. A dose será aumentada para 400 mg/dia se não houver resposta ou se houver presença de doença residual. Em geral, os pacientes alcançam remissão hematológica, com completo desaparecimento dos sintomas e sinais, em cerca de 30 dias. O diagnóstico preciso e rápido é fundamental para a indicação terapêutica ideal, antes que se instalem as complicações orgânicas, em especial cardíacas, que são irreversíveis.
Exames gerais para investigação de eosinofilia:
Hemograma
Testes bioquímicos
Dosagem de imunoglobulinas, IgE inclusive
Parasitológico de fezes
Proteína C reativa
Fibrinogênio
Triptase sérica
Dosagem de vitamina B12
Raios X de tórax
Eletrocardiograma
Ecocardiograma
Ultrassom de abdome
Pesquisa de doenças autoimunes
Exames específicos:
Mielograma
Imunofenotipagem
Cariótipo
FISH para pesquisa de FIP1L1/PDGFR-alfa
FISH para pesquisa de rearranjo PDGFR-beta
Pesquisa da mutação JAK2
Pesquisa da mutação KIT D816V
Pesquisa de rearranjo BCR/ABL
Dados da OMS de 2022 revelam que há cerca de 254 milhões de portadores de hepatite B no mundo.
Avaliação complementar da análise histológica convencional de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas.
Pode ser utilizada para detectar o DNA da bactéria Leptospira spp. no plasma.
A uveíte é uma inflamação ocular que representa uma das principais causas de morbidade ocular.