Globalmente, estima-se em 1,2 milhão o número anual de casos relacionados à doença meningocócica invasiva (DMI), com 135 mil mortes. Diante dessa alta taxa de letalidade, justifica-se o uso rotineiro dos diferentes imunizantes antimeningocócicos em um número crescente de países, incluindo a vacina contra o meningococo B (MenB).
Introduzida neste ano no calendário brasileiro de imunizações e disponível no Fleury desde junho último, a MenB destaca-se como nova estratégia para prevenção da doença meningocócica no País. O produto foi licenciado inicialmente no Reino Unido, em 2013, tendo sido desenvolvido por vacinologia reversa, uma tecnologia capaz de identificar, por sequenciamento gênico da bactéria, antígenos proteicos comuns à maioria das cepas desse microrganismo no mundo.
Na prática, o novo imunizante é composto de três proteínas recombinantes, a Neisserial adhesin A (NadA) e as proteínas de fusão Factor H Binding Protein (FHbp) e Neisserial Heparin Binding Antigen (NHBA), além de vesículas de membrana externa, cobrindo, aproximadamente, 80% dos meningococos B que ocorrem no Brasil e oferecendo potencial proteção contra infecções por outros grupos capsulares diferentes do B. Está indicado desde os 2 meses de vida até 50 anos, sendo eficaz e seguro nesse grupo etário.
Para os outros sorogrupos
Já a proteção para os sorogrupos A, C, W e Y conta com vacinas polissacarídicas e conjugadas. Utilizando um carreador proteico para apresentar o antígeno polissacarídico ao sistema imunológico, os imunizantes conjugados, que fazem parte do calendário vacinal atual, induzem uma resposta mediada pelas células T, o que aumenta sua eficácia.
As vacinas conjugadas contra o meningococo C (MenC) são liberadas para uso no Brasil a partir dos 2 meses de vida e compõem-se do polissacarídeo capsular do grupo C conjugado com o CRM197 (variante não tóxica da toxina diftérica) ou com a toxina tetânica. De forma semelhante, a meningocócica ACWY conjugada (MenACWY) é constituída pelos polissacarídeos capsulares dos grupos A, C, W e Y e liberada para crianças maiores de 1 ano de idade, quando conjugada com a toxina tetânica, ou a partir dos 2 anos de idade, se conjugada com o CRM197.
Estudos realizados no Reino Unido comprovaram a eficácia da MenC e mostraram que, desde 1999, quando o produto foi introduzido no calendário de imunização de rotina daquele país, houve uma redução acima de 90% dos casos confirmados de infecção pelo meningococo C em todos os grupos vacinados (crianças, adolescentes e adultos até 25 anos), além de uma queda em dois terços nos casos da doença nas outras faixas etárias, como resultado da diminuição da taxa de carreadores assintomáticos da bactéria em nasofaringe. Contudo, como a MenC não previne outros sorogrupos além do C, a MenACWY ganha destaque nesse contexto, ampliando o espectro de proteção contra a infecção pela N. meningitidis, além de apresentar boa eficácia e segurança. Ademais, de acordo com um estudo publicado em 2009 por Southern e colaboradores, a resposta imunológica conferida pela MenACWY ao antígeno capsular C compara-se à observada com a vacina monovalente MenC.
3 | 5 | 7 | 12 | 15 | 18 | 2 | 4 | 5 | 6 | 11 a 19 | ||
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| meses | anos | Adultos | |||||||||
Calendário vacinal brasileiro para aplicação das vacinas meningocócicas | ||||||||||||
MenC | 1ª dose | 2ª dose | | | | | | Reforço | | | | |
MenB | 1ª dose | 2ª dose | 3ª dose | | Reforço | | | | | 2 doses, com intervalo de 2 meses | 2 doses, com intervalo de 2 meses | |
MenACWY | | | | | 1ª dose* | | | | | 1 dose e reforço após 5 anos | Dose única |
*O reforço da vacina meningocócica, realizado entre 15 e 18 meses de vida, deve ser feito preferencialmente com a vacina MenACWY, caso não seja possível aplicar a MenC.
A importância do reforço na infância |
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A eficácia da vacina depende da idade do indivíduo no momento da imunização. Recentemente, um trabalho realizado no Reino Unido apontou que a memória imunológica, após uma dose de reforço da vacina meningocócica conjugada, requer de cinco a dez dias para expressar anticorpos circulantes. Portanto, a resposta pode não ser rápida o suficiente para evitar a doença meningocócica, que usualmente apresenta um período de incubação inferior a três dias após exposição a um contato íntimo. Isso ocorre devido à queda nos níveis de anticorpos séricos após a vacinação, fato mais pronunciado em lactentes jovens e crianças do que em adolescentes e adultos, o que justifica a introdução de doses de reforço no calendário infantil. |
| Idade dos lactentes, crianças e adultos | Dose | Duração | Eficácia |
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Antimicrobianos recomendados para contato íntimo com caso-índice | ||||
Rifampicina* | <1 mês | 5 mg/kg, oral, de 12/12h | 2 dias | 90-95% |
≥1 mês | 10 mg/kg (máx. 600 mg), oral, de 12/12h | |||
Ceftriaxona | <15 anos | 125 mg, intramuscular | Dose única | 90-95% |
≥15 anos | 250 mg, intramuscular | |||
Ciprofloxacino* | ≥1 mês | 20 mg/kg (máx. 500 mg), oral | Dose única | 90-95% |
Azitromicina | 10 mg/kg (máx. 500 mg), oral | 20 mg/kg (máx. 500 mg), oral | Dose única | 90 |
*Não é recomendado para uso em grávidas.
Quimioprofilaxia: mais um recurso para a prevenção da doença |
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Recomendada para os contatos íntimos de um caso-índice, que incluem os intradomiciliares, os de creches e escolas e qualquer pessoa exposta à secreção oral do indivíduo contaminado nos sete dias antes do início dos sintomas, a quimioprofilaxia tem o objetivo de eliminar a colonização da nasofaringe pelo meningococo dos portadores assintomáticos. O uso do antimicrobiano deve ser adotado o mais precocemente possível, de preferência nas primeiras 24 horas após a identificação do primeiro paciente. Como os casos secundários podem ocorrer várias semanas após os sintomas terem começado no paciente primário, a vacina meningocócica também está indicada quando o surto é provocado por algum dos sorotipos imunopreveníveis. |
N. meningitidis vista à microscopia eletrônica de transmissão.
SPL/LATINSTOCK
Assessoria Médica |
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Dra. Isabela Garrido Gonzalez [email protected] Dr. Jessé Reis Alves [email protected] |
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