Estudo busca identificar marcadores de microcefalia por Zika vírus | Revista Médica Ed. 1 - 2017

O diagnóstico de microcefalia antes do terceiro trimestre de gravidez é difícil.

O diagnóstico de microcefalia antes do terceiro trimestre de gravidez é difícil. Para investigar se uma combinação de marcadores ultrassonográficos seria capaz de rastrear esses casos no segundo trimestre de gestação, pesquisadores do Fleury, em parceria com colegas da Universidade Federal da Bahia, realizaram um estudo em 36 fetos com diagnóstico pré-natal de microcefalia, fechado na Bahia durante o surto de Zika vírus, em 2015, e em 1.961 fetos normais (controles).

 

O grupo converteu a medida da circunferência craniana (de 18 a 23 semanas + 6 dias) em escore-Z, de acordo com a curva de Intergrowth, assim como a razão entre circunferência da cabeça (CC)/circunferência abdominal (CA) e a razão entre comprimento do fêmur (F)/perímetro cefálico, de acordo com a regressão dessas variáveis nos controles. Em todos os casos, levou-se em conta a presença ou a ausência de achados ultrassonográficos adicionais, como ventriculomegalia, disgenesia do corpo caloso, anormalidades da fossa posterior, pés tortos, artrogripose e calcificações. Os fetos com alterações ao ultrassom ou com CC inferior a -2 DP foram considerados positivos. Os pesquisadores estimaram as taxas de detecção e de falso-positivos tanto para esse modelo quanto para um segundo modelo, incluindo a adição das relações CC/CA (inferior a -2 DP) e F/CC (superior a 2 DP) como critérios adicionais.

 

Os resultados evidenciaram CC abaixo de -2 DP em 25% (9/36) dos casos e em 4,5% (88/1961) dos controles, razão CC/CA menor que -2 DP em 8,3% (3/36) dos casos e em 1,4% (28/1961) dos controles e razão F/CC acima de 2 DP em 25% (9/36) dos casos e em 2,9% (57/1961) dos controles. Achados ultrassonográficos adicionais apareceram em 55% (20/36) dos fetos. Tomando como base um modelo no qual todos os casos com CC inferior a -2 DP ou com alterações ao ultrassom fossem considerados positivos, a taxa de detecção alcançaria 63,9%, mediante uma taxa de falso-positivos de 4,5%. A adição das relações CC/CA abaixo de -2 DP ou F/CC acima de 2 DP aumenta a taxa de detecção para 69,4%, à custa de uma elevação dos falso-positivos para 7,9%.

 

“Esses dados mostram que o rastreamento de microcefalia no segundo trimestre tem desempenho limitado se restrito à avaliação biométrica”, assinala o assessor médico do Fleury em Medicina Fetal, Javier Miguelez. Assim, prossegue, o foco da investigação deve ser a busca dos achados ultrassonográficos adicionais e, em casos com epidemiologia positiva, a avaliação ultrassonográfica seriada.

 

 

Distribuição de medidas da CC no segundo trimestre (de 18 sem a 23 sem + 6 dias) em 1961 fetos normais (preto) e em 36 fetos com diagnóstico de microcefalia, feito durante o surto de Zika vírus em 2015, na Bahia (vermelho).