FISH TP53 para leucemia linfocítica crônica vem se somar ao contexto dos demais parâmetros de prognóstico e das opções terapêuticas | Revista Médica Ed. 1 - 2018

A leucemia linfocítica crônica (LLC) usualmente acomete idosos, sendo a leucemia mais frequente no Ocidente.

Presença marcante de linfócitos em um paciente com LLC.


A leucemia linfocítica crônica (LLC) usualmente acomete idosos, sendo a leucemia mais frequente no Ocidente. É diagnosticada quando há mais de 5.000 linfócitos clonais/µL no sangue periférico (linfócitos B, CD5, CD19, CD20 e CD23 positivos), durante mais de três meses.


Do ponto de vista do curso clínico, a doença pode ser dividida em dois grandes grupos: a indolente, assintomática, para a qual a observação e o acompanhamento periódico estão indicados, e aquela que apresenta manifestações clínicas relevantes e para a qual se faz necessária uma intervenção terapêutica.


Na tentativa de identificar a evolução dos pacientes, foram criados sistemas de estadiamento baseados em características clínicas e laboratoriais, como o de Rai e de Binet. Contudo, com o avanço do conhecimento das alterações genéticas da doença e de outros marcadores prognósticos, esses sistemas tornaram-se insuficientes. Hoje, na prática, há cinco fatores de prognóstico independentes incluídos no International Prognostic Index (IPI): deleção ou mutação do gene TP53, estado mutacional da região variável do gene IGH (IGHV), ß2-microglobulina sérica, estadiamento clínico e idade.


A hibridação in situ por fluorescência (FISH) constitui uma ferramenta útil para a detecção das aberrações cromossômicas na LLC com o emprego de uma sequência de nucleotídeos marcados com fluoróforo, complementar ao alvo no DNA que se pretende investigar. Pode ser feita em amostra de sangue periférico. Habitualmente, usa-se um conjunto de sondas que permite diagnosticar as alterações mais relevantes na doença, tais como del(13q), del(11q), +12, del(17p) e t(11;14) ou rearranjo IGH/CCD1, para diferenciar a LLC de linfoma do manto, entre outras.


  



Significado das alterações cromossômicas em LLC


- Deleção do braço longo do cromossomo 13 [del(13)(q14)]: alteração mais frequente (55% dos casos), caracteriza um curso clínico benigno.

 

- Deleção 11q [del(11)(q23)]: envolve o gene ATM e ocorre em 25% dos indivíduos sem tratamento, geralmente com doença avançada ao diagnóstico, com linfonodomegalias, rápida progressão e pequena sobrevida global.

 

- Trissomia 12: observada em 10% a 20% dos pacientes.

 

- Deleções do braço curto do 17 [del(17)(p13)]: vistas em 5-8% dos casos não tratados. Nessa região, localiza-se o gene TP53, um supressor tumoral que confere resistência à imunoquimioterapia FCR (fludarabina, ciclofosfamida e anti-CD20) e prognóstico desfavorável. Além disso, em 80% dos pacientes com del(17p) pode haver mutação no outro alelo [del/mut(17p)], detectável por sequenciamento do gene, diferentemente daqueles sem essa deleção, nos quais a mutação é bem mais rara. A pesquisa da del(17p) por FISH ganha destaque justamente nesse contexto, seja pela rapidez com que fornece a informação, seja pela relevância do resultado para a escolha da terapia (Hallek, 2017).

 

- Cariótipo complexo, com três ou mais aberrações cromossômicas não relacionadas em mais de uma célula: indica prognóstico desfavorável e má resposta, mesmo com os esquemas terapêuticos inovadores (Rigolin et al, 2017).

 

- Mutações em outros genes: NOTCH1, MYD88, ATM, SF3B1, FBXW7, POT1, CHD2, RPS15, IKZF3, ZNF292, ZMYM3, ARID1A e PTPN11.


  



Opções terapêuticas: mudança de paradigma


Nas últimas duas décadas, vários esquemas de tratamento da LLC surgiram graças aos novos medicamentos desenvolvidos. Com isso, migra-se da quimioterapia citotóxica para a medicação alvo-dirigida, pois agora se pode atingir a via de sinalização biológica de receptor de célula B (idelalisibe, ibrutinibe, acalabrutinibe), induzir apoptose com inibidores de BCL2 (venetoclax) e usar anti-CD20 de segunda geração (ofatumumabe, obinutuzumabe), outros anticorpos monoclonais (alentuzumabe) e drogas imunomoduladoras (lenalidomida), além de combinações entre elas. É uma verdadeira mudança de paradigma.


Entretanto, só deve ser tratado o paciente que apresentar doença ativa ou sintomática. Dentre essas novas opções terapêuticas, na primeira linha, para indivíduos com del/mut(17p) figuram ibrutinibe, alta dose de metilprednisolona com rituximabe, obinutuzumabe e alentuzumabe (com ou sem rituximabe). Para as situações de recaída ou refratariedade, incluem-se ainda venetoclax, idelalisibe e ofatumumabe, entre outros (NCCN guidelines, v.2, 2018).


O fato é que, nesse cenário, o tratamento da LCC ficou muito mais dinâmico e promissor, proporcionando remissão longa, profunda e duradoura. Hoje trabalhamos com a real perspectiva de a doença tornar-se absolutamente controlável.



Indicações para instituir tratamento em paciente com LLC


- Falha medular progressiva: anemia e/ou trombocitopenia (geralmente Binet C ou Rai III ou IV) 

- Esplenomegalia maciça (>6 cm RCE) ou progressiva

 - Linfonodomegalia progressiva (>10 cm) sintomática

 - Linfocitose progressiva ou aumento >50% em dois meses

 - Tempo de duplicação de linfócitos inferior a seis meses

 - Anemia hemolítica autoimune ou trombocitopenia não responsiva a corticoide ou outra terapia-padrão

 - Sintomas relacionados à doença, como perda >10% do peso em seis meses, fadiga, febre acima de 38oC por duas semanas, sem evidência de infecção, ou sudorese noturna por mais de um mês


Assessoria Médica
Citogenética
Dra. Maria de Lourdes Chauffaille

Hematologia
Dr. Alex Freire Sandes
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Dra. Maria de Lourdes Chauffaille
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Dr. Matheus Vescovi Gonçalves
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