Hemograma típico da dengue vai muito além da plaquetopenia, mostra revisão | Revista Médica Ed. 5 - 2015

Durante um surto epidêmico de dengue, a suspeita diagnóstica se baseia, essencialmente, no quadro clínico e em algumas alterações hematológicas.

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Durante um surto epidêmico de dengue, a suspeita diagnóstica se baseia, essencialmente, no quadro clínico e em algumas alterações hematológicas. Contudo, em regiões onde a incidência da doença é menor, os casos podem ser mais desafiadores, simulando outros quadros infecciosos. Ademais, nem sempre os exames confirmatórios, como a dosagem dos anticorpos séricos da classe IgM e a detecção do antígeno NS1, estão disponíveis. O fato é que a epidemia da dengue ocorrida no Brasil neste último ano expôs a necessidade de haver parâmetros de rápido acesso e baixo custo, que corroborem o diagnóstico, especialmente nos casos menos exuberantes. 


Visando a uma melhor compreensão das alterações hematológicas da dengue, as equipes de Hematologia e Infectologia do Fleury revisaram todos os hemogramas de pacientes que realizaram, ambulatorialmente, a sorologia para dengue ou a pesquisa do antígeno NS1 entre fevereiro e abril de 2015. Os dados obtidos no grupo com IgM ou NS1 positivos (grupo DEN, n = 182) foram comparados, por estatística não paramétrica (Mann-Whitney), com os valores encontrados nos indivíduos que tiveram esses dois testes negativos (grupo NEG, n = 181) e também com pessoas que, no mesmo período, apresentaram positividade para citomegalovírus (grupo CMV, n = 10), toxoplasmose (grupo TOXO, n = 5) ou mononucleose agudas (grupo MONO, n = 14).


Nos pacientes com diagnóstico confirmado de dengue, como classicamente descrito, os valores de hemoglobina mostraram-se discretamente maiores e a contagem de plaquetas, significativamente menor, assim como o número de leucócitos totais, neutrófilos e linfócitos. Foram ainda considerados achados bastante relevantes nesses indivíduos a presença tanto de intensa atipia linfocitária quanto de plasmocitose. Apenas a mononucleose evidenciou níveis de atipia e plasmocitose comparáveis aos da dengue, mas com contagem de linfócitos, neutrófilos e plaquetas significativamente maior. 


“Uma vez que a dengue aguda apresenta quadro hematológico bastante sugestivo, naquelas situações em que as sorologias não estão disponíveis, a presença, no hemograma, de atipia linfocitária significativa e de plasmocitose, mas sem linfocitose, deve direcionar o raciocínio para essa hipótese diagnóstica”, comenta o assessor médico do Fleury em Hematologia, Matheus Vescovi Gonçalves. 


Autores: Ferreira, TZ; Aveiro, JL; Miura, TES; Takihi, IY; 

Muramoto, FJ; Granato, CFH; Sandes, AF; Gonçalves, MV.