Implicações da Covid-19 na gestação

Grávidas, puérperas e mulheres pós-abortamento podem apresentar complicações na vigência da infecção

A resposta imune do indivíduo é muito importante na evolução da Covid-19. Entre os pacientes com sintomas leves, o sistema imunológico reage apropriadamente à infecção, porém pode haver uma resposta exagerada, levando a quadros graves, que se associam às elevadas taxas de morbidade e mortalidade.

Em março de 2020, depois da descrição de relatos de mortes de gestantes, puérperas e mulheres pós- -abortamento em todo o Brasil, esse grupo foi considerado de risco para desenvolver quadros graves da doença, embora a causa ainda não esteja completamente esclarecida. As modificações gravídicas cardíacas e respiratórias, como aumento da frequência cardíaca e do consumo de oxigênio e redução da capacidade pulmonar total, bem como as alterações imunológicas e hormonais, podem estar relacionadas às complicações. Essas mulheres parecem tolerar pouco a hipóxia que ocorre em alguns casos.

Aparentemente, as gestantes não têm probabilidade mais elevada de adquirir o vírus. O que se observa entre elas é a maior incidência de quadros mais graves. As pacientes com doença preexistente, em especial cardíaca, neurológica, renal, pulmonar e metabólica (diabetes e obesidade), além das imunossuprimidas, apresentam evolução menos favorável.

Em análise de casos de Covid-19 em grávidas e não grávidas americanas, as primeiras necessitaram mais de internação hospitalar e em unidade de terapia intensiva, bem como de ventilação mecânica, apesar de a mortalidade ter sido praticamente similar entre os dois grupos. Tais dados reforçam a necessidade de atendimento especializado na condução da doença nesse grupo.

Manejo da gestante ante a Covid-19

As gestantes devem manter todas as consultas e exames do pré-natal, mas o teste para Covid-19 deve ser feito apenas nas sintomáticas.

A presença de infecção não indica resolução da gestação. A situação ideal é aguardar o término do quadro agudo da doença, que varia de 10 a 20 dias. As maternidades têm condições de prestar o atendimento em ambiente isolado. A vitalidade fetal sempre deve ser avaliada, já que há risco de prematuridade, rotura prematura de membranas, sofrimento fetal e óbito perinatal.

O momento do parto deve seguir todos os protocolos já definidos, com via de parto determinada por indicação obstétrica.

A transmissão maternofetal já foi relatada, porém ocorre muito raramente e os recém-nascidos, até agora, evoluíram sem infecção. Apesar das centenas de milhões de infectados no mundo, não se conhecem relatos de aumento de casos de malformação fetal.

Adiar ou não adiar a gestação?

Em meados de abril, o Ministério da Saúde recomendou que as mulheres posterguem a gravidez, diante do crescimento no número de óbitos de gestantes e puérperas por Covid-19 _ foram 362 óbitos nesse grupo até 10 de abril ante 453 em todo o ano passado. Cada paciente, no entanto, deve fazer a sua avaliação a respeito do risco da doença, da situação dos serviços de saúde e de suas condições financeiras e psicológicas.

Por outro lado, a ansiedade e a depressão que acometem diversas pessoas, a mudança do cotidiano, o isolamento e as demais situações que causam estresse podem alterar a capacidade reprodutiva da população. No futuro, será possível avaliar adequadamente o impacto da pandemia no número de nascimentos deste período.

A vacinação é recomendada no terceiro trimestre gestacional. Há necessidade de informar os riscos e benefícios à gestante, de modo que a decisão seja tomada em conjunto.


Referências: 

1. Organização Mundial de Saúde 

2. Brasil, Ministério da Saúde 

3. Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo 

4. Royal College of Obstetricians & Gynaecologists

 5. Li et al. BMJ Open. 2021,11.1-5. 6. Figueiro-Filho et al. J Perinat Med. 2020,48,900-11.


Consultoria médica

Joelma Queiroz Andrade 

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