Incidência do câncer de pele está em ascensão

Número de casos novos tem aumentado no Brasil e no mundo, especialmente dos tumores não melanoma.

Câncer cutâneo não melanoma 

Os cânceres cutâneos não melanoma (CCNM) são os tipos mais comuns de tumores malignos que o ser humano adquire no curso da vida. Segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), os CCNM correspondem a 31,3% de todos os tumores malignos diagnosticados no País.1

Os dois tipos principais de CCNM incluem o carcinoma basocelular (CBC) e o carcinoma espinocelular (CEC), responsáveis por aproximadamente 70% e 20%, respectivamente, do número de casos.1

Os CCNM têm grande importância médica, pois, embora com taxas de mortalidade relativamente baixas (2.000 óbitos/ano nos EUA), associam-se frequentemente com alta morbidade, como perda de função e desfiguramento, considerando que o principal local de acometimento no corpo é a face.2

Outro fator relevante é o aumento rápido da incidência desses tumores nas últimas décadas em todo o mundo. Estima-se que a incidência global de CBC aumentou 145% entre 1976-1984 e 2000-2010 e que a incidência global de CEC cresceu 263% no mesmo período.3

A Agência de Proteção Ambiental (EPA), com base na diminuição progressiva da camada de ozônio, relata que, de 1991 até 2030, serão diagnosticados aproximadamente 12 milhões de novos casos de CCNM somente nos EUA, com 200 mil mortes.4

O número de casos novos de CCNM estimados para o Brasil pelo Inca, em 2023, foi de 220.490 (101.920, em homens, e 118.570, em mulheres). Já a estimativa para o País durante o triênio 2023-2025 é de 704 mil novos casos de câncer a cada ano.1

O CCNM configura-se como o tumor mais incidente em homens nas Regiões Sul (159,51/100.000), Sudeste (133,48/100.000) e Centro-Oeste (110,94/100.000). Nas Regiões Nordeste (40,37/100.000) e Norte (28,34/100.000), fica na segunda posição. Nas mulheres, é o mais frequente em todas as regiões, com risco estimado de 112,28/100.000, no Sudeste, de 99,31/100.000, no Centro-Oeste, de 86,03/100.000, no Sul, de 46,68/100.000, no Nordeste, e de 24,73/100.000, no Norte.5

No mundo, a maioria dos estudos foca em populações caucasianas da Europa, EUA e Austrália, enquanto há limitação de dados disponíveis a respeito desses tumores em outros tipos de pele em regiões como a África. A incidência mundial do CCNM varia, com os maiores índices encontrados na Austrália (>1.000/100.000 para CBC) e os menores índices em partes da África (<1/100.000 para CBC).

Estudos epidemiológicos têm demonstrado uma correlação direta entre a incidência de CCNM e a exposição à radiação ultravioleta (RUV), assim como uma relação inversa com o grau de pigmentação cutânea. Assim, CCNM são mais encontrados em indivíduos da raça branca, especialmente com pele, olhos e cabelos claros, que sempre se queimam e nunca se bronzeiam à exposição solar, e raramente acometem a raça negra. A frequência dos tumores aumenta à medida que o local se aproxima da Linha do Equador.6

A probabilidade de desenvolver CCNM varia com as características genotípicas e fenotípicas do indivíduo, assim como com a área geográfica em que vive. Essas taxas variam de 11% a 28% para o CBC e 1,5 a 11% para o CEC. Estima-se que um em cada seis norte-americanos desenvolverá CCNM durante a vida.7

O CBC é, em média, três vezes mais comum que o CEC e, embora ambos se originem de células epidérmicas, apresentam diferenças clínicas e comportamentais.

Melanoma 

Tumor maligno potencialmente letal, o melanoma tem origem nos melanócitos. Responde por aproximadamente 3% a 4% dos tumores cutâneos malignos, mas assume importância pela alta mortalidade e pelo aumento de incidência em todo o mundo nas últimas décadas. É mais frequente em adultos jovens, de 20 a 50 anos de idade. Acima dos 50 anos, é mais comum nos homens e, abaixo dos 40 anos, nas mulheres.

A incidência do melanoma está se elevando mais rapidamente do que a de qualquer outro tumor sólido, tendo sido estimada em cerca de 325.000 novos casos por ano no mundo em 2020, quando aproximadamente 57.000 pessoas (32.000 homens e 25.000 mulheres) morreram em decorrência da doença. De todos os novos casos diagnosticados no mundo em 2020, 259.000 (79,7%) foram detectados em pessoas acima de 50 anos e, de todas as mortes ocorridas naquele ano, 50.000 (87,7%) tinham idade superior a 50 anos.8

As taxas de incidência mais elevadas, tanto para homens (42 por 100.000 pessoas/ano) como para mulheres (31 por 100.000 pessoas-ano), foram observadas na Austrália/Nova Zelândia, seguidas por Europa Ocidental (19 por 100.000 pessoas-ano para homens e mulheres), América do Norte (18 por 100.000 pessoas-ano para homens, 14 por 100.000 pessoas para mulheres) e Norte da Europa (17 por 100.000 pessoas-ano para homens, 18 por 100.000 pessoas-ano para mulheres).

Já as taxas de incidência mais baixas ocorreram na maioria das regiões de África e da Ásia, com um caso por 100.000 pessoas-ano (exceto na África Central e Austral, bem como na Ásia Ocidental). As taxas de mortalidade mais elevadas (quatro por 100.000 pessoas-ano para homens, dois por 100.000 pessoas-ano para mulheres) foram vistas na Austrália/Nova Zelândia, enquanto, na maioria das outras regiões do mundo, mostraram-se muito mais baixas, tendo variado entre 0,2-1,0 por 100.000 pessoas-ano).8

No Brasil, para 2023, estavam previstos 8.980 casos novos, segundo as estimativas de incidência de câncer. As maiores taxas em homens e mulheres encontram-se na Região Sul.1

Assim como em outros países, esperava-se que o aumento de incidência por aqui levasse a uma maior taxa de mortalidade, porém, paradoxalmente, tem sido registrada uma elevação da sobrevida em cinco anos. Para cada década, desde 1940, essa expectativa de sobrevida veio crescendo 10%. Isso se deve, provavelmente, ao diagnóstico precoce e à melhor terapêutica que vem sendo instituída nos últimos anos.

O melanoma é responsável por 75% dos óbitos de câncer cutâneo. A sobrevida se relaciona diretamente com a espessura que o tumor apresenta. Doentes com lesões menores que 0,76 mm de espessura (índice de Breslow) contam com 100% de sobrevida em cinco anos, enquanto tumores com mais de 4 mm apresentam somente 40% de sobrevida no mesmo período – daí a grande importância do diagnóstico precoce.


Consultoria médica

Dra. Lilian Kelly Faria Licarião Rocha
[email protected]


Referências

1. Brasil. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Brasília: Ministério da Saúde, 2023.

2. Guy GP, Machlin S, Ekwueme DU, Yabroff KR. Prevalence and costs of skin cancer treatment in the US, 2002–2006 and 2007–2011. Am J Prev Med. 2015;48:183–7.

3. Muzic, JG et al. Incidence and Trends of Basal Cell Carcinoma and Cutaneous Squamous Cell Carcinoma: A Population-Based Study in Olmstead County, Minnesota, 2000-2010. Mayo Clin Proc. Published Online May 15, 2017. http://dx.doi.org/10.1016/j.mayocp.2017.02.015

4. Diepgen TL, Mahler I. The epidemiology of skin cancer. Br J Dermatol. 2002;146:1-6.

5. Lomas A, Leonardi-Bee J, Bath-Hextall F. A systematic review of worldwide incidence of nonmelanoma skin cancer. Br J Dermatol. 2012;166(5):1069-80.

6. Fears TR. Estimating increase in skin cancer morbidity due to increase in ultraviolet radiation exposure. Cancer Invest. 1983;1:199-26.

7. Buettner PG, Raasch BA. Incidence rates of skin cancer in Townsville, Australia. Int J Cancer. 1998;587-93.

8. Eggermont AMM, Spatz A, Robert C. Cutaneous melanoma. Lancet. 2014; 383:816-27.