Novos estudos mostram prevalência da infecção e fatores de risco surpreendentes

A clamídia tem incidência estimada em 130 milhões de novos casos no mundo.

Considerada a infecção sexualmente transmissível (IST) de  causa bacteriana mais comum, a clamídia tem incidência estimada em 130 milhões de novos casos no mundo pela Organização Mundial da Saúde. Na maioria das vezes assintomática  em ambos os sexos, a infecção pela Chlamydia trachomatis  (CT), se não tratada, pode causar, nas mulheres, doença inflamatória pélvica, gestação ectópica, dor pélvica crônica e infertilidade, além de uretrite e epididimite, nos homens.

Pela ausência de sintomas, a frequência da infecção pode  estar subestimada. Uma metanálise de 29 estudos, feita com  quase 90 mil indivíduos, encontrou prevalência de CT de 3%  na população geral, com índices que variaram de 0,2% a 12%.  A frequência agrupada chegou a 2,6%, nos homens, e a 3,1%,  nas mulheres.

O maior índice no sexo feminino, em comparação ao sexo  masculino, apareceu em todas as regiões do mundo, exceto  no Sudeste Asiático, porém com diferença significativa apenas  na região das Américas e da África. As taxas nessas duas localizações atingiram 5,3% e 3,8% nas mulheres, respectivamente,  em comparação a 4,5% e 1,4% nos homens, respectivamente.  Considerando os países do continente americano, a América  Latina foi a região que apresentou a maior prevalência de CT  – um índice de 6,7%

Quase dois terços das infecções pela CT ocorrem em adolescentes e adultos jovens, de 15 a 24 anos. Avaliando especificamente essa faixa etária, um artigo espanhol, recentemente publicado no Journal of Lower Genital Tract  Disease, pesquisou a prevalência e os fatores de risco  para a infecção. A amostra compreendeu 623 indivíduos,  com média de 20 anos de idade, nos quais foi realizada a PCR em tempo real para CT na urina (homens) e na  secreção vaginal (mulheres). O trabalhou observou uma  taxa de frequência de 5,5%, com índices semelhantes nos  dois sexos.

O preservativo é uma das medidas importantes para  a prevenção de IST, embora muitas vezes não adotado  por grande parte da população sexualmente ativa. Nesse  estudo espanhol, apenas um terço das pessoas respondeu que sempre contava com essa proteção nas relações  sexuais, metade disse que a usava algumas vezes e 15%,  que nunca a utilizava.

A identificação de fatores de risco e as orientações  para prevenir a CT sabidamente reduzem os índices de  doença na população. Outra estratégia relevante, que visa  a detectar os casos assintomáticos e mitigar a chance de  transmissão, é a recomendação do CDC norte-americano  de rastrear anualmente todas as mulheres sexualmente  ativas com idade <25 anos ou aquelas com idade maior  que apresentem fatores de risco, como novo parceiro sexual, múltiplos parceiros ou parceiro com IST.

Fatores de risco para a infecção por CT  em adolescentes e jovens adultos

  • Ingresso no mercado de trabalho (um fator  independente, que, segundo o estudo, aumenta a  chance em quase nove vezes) 
  • História de diagnóstico de IST em algum momento  da vida  
  • Uso de aplicativos ou páginas da internet para  encontrar parcerias sexuais (mais de uma vez  por mês)


Referências 

Centers for Disease Control and Prevention. Sexually Transmitted  Infections (STI). Treatment Guidelines, 2021

Huai P et al. Prevalence of genital Chlamydia trachomatis infection in the  general population: a meta-analysis. BMC Infect Dis. 2020;20:589.

Reyes-Lacalle A et al. Prevalence and characterization of undiagnosed  youths at risk of Chlamydia trachomatis infection: a cross-sectional study.  J Low Genit Tract Dis. 2022;26:223-228.