O uso dos marcadores tumorais bioquímicos no manejo da saúde da mulher | Revista Médica Ed. 6 - 2014

Na maior parte das neoplasias, tais testes mostram-se úteis sobretudo para acompanhar as pacientes no pós-tratamento

Na maior parte das neoplasias, tais testes mostram-se úteis sobretudo para acompanhar as pacientes no pós-tratamento 


Células de câncer de ovário sob visão da microscopia eletrônica 

SPL DC/LATINSTOCK


Presentes no tecido normal, no sangue ou em outros fluidos biológicos e, muitas vezes, também produzidos em resposta à presença de um tumor, os marcadores tumorais bioquímicos têm utilidade para a detecção precoce de recidivas e metástases, para a avaliação da resposta terapêutica e do sucesso do tratamento, para o estadiamento e o prognóstico da doença e para a estimativa do volume tumoral. Como, em sua quase totalidade, não são específicos para um determinado tipo de neoplasia nem suficientemente sensíveis para apontar a presença de poucas células neoplásicas, possuem aplicação muito limitada no diagnóstico primário do câncer feminino.


Diferentes marcadores são usados em doenças ginecológicas ou em outras, não ginecológicas, mas importantes para a saúde da mulher (fio para tabela). Para o câncer de mama, por exemplo, as dosagens de CA-15-3 ou de CA-27.29 não apresentam sensibilidade e especificidade suficientes para o diagnóstico da neoplasia, porém servem para o acompanhamento de pacientes já diagnosticadas e em tratamento e para a identificação precoce de reaparecimento da doença. O CA-27.29 conta com a vantagem de diagnosticar recidivas de maneira mais eficaz que o CA-15-3. 


No câncer de ovário, por sua vez, o CA-125 mostra-se útil sobretudo para a avaliação da resposta ao tratamento. Embora o marcador não deva ser utilizado na triagem dessa neoplasia, sua determinação pré-operatória pode predizer a natureza das massas pélvicas. Em mulheres já tratadas, o aumento nos níveis de CA-125 ocorre de 2 a 12 meses antes de qualquer evidência clínica de recorrência.


Já o HE4, ou human epididymis protein 4, é uma glicoproteína expressa em tumores ovarianos de linhagem epitelial – exceto o mucinoso – que vem sendo empregada como marcador tumoral, pois se eleva em 80% dos casos de câncer de ovário. O teste ainda tem utilidade na avaliação pré-operatória de massas anexiais, quando dosado em conjunto com o CA-125, bem como no acompanhamento das pacientes, após o tratamento, para detectar recidivas. O HE4 parece aumentar a especificidade do CA-125 quando usado para discernir massas malignas de condições não neoplásicas, como a endometriose.


Ainda menos específico, o antígeno carcinoembriônico (CEA) tem expressão aumentada em adenocarcinomas, em especial no câncer colorretal, apesar apresentar níveis elevados em neoplasias de pâncreas, estômago, mama, ovário, útero e pulmão, assim como em condições benignas. É útil depois do diagnóstico da neoplasia, especificamente na pesquisa de ressurgimento do câncer. 


Por fim, a gonadotrofina coriônica fração beta (beta-hCG), como marcador tumoral, contribui para o diagnóstico e o seguimento de tumores trofoblásticos e de outros cânceres que produzem esse hormônio. Entretanto, valores discretamente aumentados (2-15 UI/L) em mulheres com mais de 45 anos devem ser interpretados com cautela, uma vez que pode haver menor especificidade de alguns ensaios, bem como a produção hipofisária de beta-hCG.  

 

Indicações e valores de referência dos principais marcadores tumorais


Marcador
Principais indicações
Valor de referência
Alfafetoproteína (AFP)
Hepatocarcinoma e câncer testicular
Até 7,0 µg/L
Antígeno carcinoembriônico (CEA)
Adenocarcinoma de pulmão e câncer colorretal
Não fumantes: até 3,0 µg/L
Fumantes: até 5,0 µg/L
CA-125
Câncer de ovário e endometriose
Até 35 U/mL
CA-15-3
Câncer de mama
Até 28 U/mL
CA-19-9
Carcinomas do trato digestivo e câncer de pâncreas
Até 37 U/mL
CA-27.29
Câncer de mama
Até 38 U/mL
CA-72-4
Carcinomas do trato digestivo
Até 6,0 U/mL
Calcitonina
Carcinoma medular da tiroide
Homens adultos: até 12 pg/mL
Mulheres adultas: até 5 pg/mL
Cyfra 21-1
Câncer de pulmão (não de células pequenas)
Até 3,3 ng/mL
Enolase neurônio específica (NSE)
Carcinoma de células pequenas do pulmão e tumores neuroendócrinos
Até 10,8 ng/mL
Gonadotrofina coriônica fração beta (beta-hCG)
 
Diagnóstico de gravidez
Mola hidatiforme
Tumores trofoblásticos e testiculares
Na gravidez:
- 1º trimestre: até 150.000 UI/L
- 2º trimestre: de 3.500 a 20.000 UI/L
- 3º trimestre: de 5.000 a 50.000 UI/L
- Não grávidas: indetectável
Gonadotrofina coriônica fração beta livre (beta-hCG livre)
Avaliação de risco de doenças genéticas
Determinada por meio das análises conjuntas da PAPP-A e do exame de translucência nucal e demais dados da ultrassonografia morfológica
HE4
Tumores ovarianos de linhagem epitelial (exceto o mucinoso)
Até 150 pmol/L
 
NMP-22
Câncer de bexiga
Ausente
Tiroglobulina
Câncer diferenciado da tiroide (papilífero e folicular)
De 1,1 a 130 ng/mL


Assessoria Médica
Dr. Nairo Massakazu Sumita
[email protected]
Dr. Gustavo Arantes Rosa Maciel
[email protected]