Painel de anticorpos ajuda a estabelecer a etiologia autoimune de encefalites

O espectro clínico das encefalites imunomediadas é amplo e envolve geralmente quadros neurológicos.

As encefalites têm uma variedade de causas e, nos últimos  anos, ficou patente que muitos casos apresentam base  imunomediada, com presença de autoanticorpos: os voltados contra oncoproteínas intracelulares costumam se  associar a síndromes paraneoplásicas, incluindo neoplasias  de pulmão, testículo, mama e ovários, enquanto os direcionados contra proteínas da superfície das células neuronais  ou das sinapses podem ocorrer em encefalites autoimunes  sem contexto paraneoplásico, embora também sejam encontrados em algumas encefalites paraneoplásicas.

O espectro clínico das encefalites imunomediadas é  amplo e envolve geralmente quadros neurológicos subagudos e progressivos, com grande heterogeneidade de  manifestações em função da região do sistema nervoso  central acometida, incluindo sistema límbico, tronco cerebral, cerebelo, lobos temporais, pares cranianos, medula e  nervos periféricos.

Diante de uma clínica sugestiva, a investigação deve  ser abrangente e imediata, sempre excluindo causas mais  comuns, como as infecciosas, tóxicas, metabólicas e vasculares, entre outras, com exames laboratoriais e de neuroimagem. A confirmação de uma doença imunomediada  tem implicações terapêuticas decisivas, contribuindo para  a reversão do quadro e a recuperação do paciente.

Na presença de suspeita clínica de encefalite autoimune,  a pesquisa de anticorpos está indicada no soro e no liquor.  Sua detecção configura um elemento importante para a formulação diagnóstica, já que confirma o quadro se associada  a, pelo menos, dois dos três critérios diagnósticos, desde  que excluídas outras causas.

Critérios diagnósticos para uma possível  encefalite autoimune

1. Quadro neurológico de início subagudo (rápida  progressão em menos de três meses),  caracterizado por déficit de memória – sobretudo  de curto prazo –, alteração do estado mental  (nível de consciência, letargia ou mudança de  personalidade) ou manifestações psiquiátricas

2. Pelo menos um dos seguintes sintomas: 

➔ Alterações focais novas em sistema  nervoso central 

➔ Crises epilépticas não explicadas por uma  condição previamente conhecida 

➔ Pleocitose no liquor 

➔ Achados sugestivos de encefalite na ressonância  magnética

3. Exclusão de outras causas de encefalite


Figura 1. Anticorpos anti-IgLON-5 reconhecidos em cell-based assay (CBA), em soro humano diluído a 1:50. Imunofluorescência indireta  em células HEk-293 transfectadas para expressarem IgLON-5.  Painel A: células transfectadas com plasmídeo vazio. Painel B: células  transfectadas com plasmídeo contendo cDNA de IgLON-5. Imagem  com aumento de 400 vezes, gentilmente cedida por Gabriela  Peron Barbosa e Alessandra Dellavance, da Divisão de Pesquisa e  Desenvolvimento do Fleury.


Figura 2. Anticorpos anti-LGI-1. Imuno-histoquímica em cérebro e cerebelo  de rato incubado com soro humano a 1:50. O padrão de coloração do  hipotálamo, do córtex cerebral, do putâmen caudado e da camada granular  do cerebelo é compatível com a distribuição da molécula LGI-1 no sistema  nervoso central. Imagem com aumento de 100 vezes, gentilmente cedida  por Darlan Augusto Costa Rocha e Alessandra Dellavance, da Divisão de  Pesquisa e Desenvolvimento do Fleury.


Composição do painel para encefalites autoimunes e  síndromes neurológicas paraneoplásicas


Vale ponderar que diferentes anticorpos podem  estar associados a uma mesma síndrome encefalítica e que síndromes distintas podem se relacionar  a um mesmo anticorpo. Ademais, um teste negativo não exclui o diagnóstico, assim como existe a  possibilidade de falso-positivos. A interpretação  do exame, portanto, precisa ser sempre feita à luz  do quadro clínico e de informações fornecidas por  métodos de imagem.


Quatro plataformas metodológicas

Anteriormente realizado em laboratório no exterior, agora o painel de autoanticorpos para encefalites autoimunes e síndromes paraneoplásicas é  totalmente feito no Fleury. De acordo com as recomendações internacionais, cada autoanticorpo  desse teste deve ser pesquisado por dois métodos  complementares para aumentar a acurácia diagnóstica e evitar falso-positivos.

Para atender a essa demanda, a equipe de Imunologia da Divisão de Pesquisa e Desenvolvimento  do Fleury desenvolveu e padronizou quatro plataformas metodológicas contemplando um amplo  painel de autoanticorpos de relevância clínica. Os  métodos utilizados incluem imuno-histoquímica  (figura 2), immunoblot, imunofluorescência indireta em células transfectadas (cell-based assay) (figura 1) e ensaio imunoenzimático em fase sólida  (Elisa).

Na prática, hoje o painel de autoanticorpos para  encefalites autoimunes pesquisa 15 autoanticorpos em soro e 14 em liquor, devendo ser solicitado  separadamente, de acordo com a amostra biológica analisada (soro ou liquor). O resultado sai em  até 15 dias úteis.


CONSULTORIA MÉDICA 

Dr. Aurélio Pimenta Dutra 

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Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade 

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Pesquisadora de P&D – Imunologia  

Alessandra Dellavance 

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