Painel genético pode auxiliar o diagnóstico da obesidade grave de início precoce

Exame indicado em crianças com obesidade grave de início antes dos 5 anos de idade.

A obesidade infantil, que constitui um  problema de saúde pública global e está  associada a complicações graves, como a  síndrome metabólica, é definida, segundo  as curvas da OMS, como um índice de  massa corporal (IMC) superior ao percentil  95% para idade. Já obesidade grave, é  definida como um IMC pelo menos 20%  superior ao IMC de obesidade.

A doença é complexa e reflete a interação entre fatores ambientais e genéticos podendo ser categorizada em três categorias amplas: a forma poligênica, que  responde pela maioria dos casos e resulta  de centenas de polimorfismos genéticos,  cada um com um pequeno efeito no metabolismo energético, a monogênica, que  segue um padrão de herança mendeliano, é bastante rara e tipicamente grave  e de início precoce, antes dos 5 anos de  idade (veja tabela na página 54) e a forma  sindrômica, com importante componente  genético e associado a fenótipos como  retardo mental, dismorfismos e anormalidades de desenvolvimento de órgãos. Em  todos os casos, a fisiopatologia deriva de  mecanismos relacionados ao controle da  ingestão alimentar pelo sistema nervoso  central (SNC) e vias neuronais.



Obesidade monogênica e teste genético

Os primeiros genes estudados em associação à  obesidade monogênica foram os que codificam a  leptina e seu receptor e os relacionados aos múltiplos  componentes da via da melanocortina (veja boxe  explicativo na próxima página). Variantes patogênicas  em tais genes geram hiperfagia e obesidade grave, que  começam ainda na infância.  

Nesse contexto, crianças que apresentam obesidade  grave, iniciada sobretudo antes dos 5 anos de idade  e sem fenótipos adicionais, devem ser avaliadas para  doença monogênica. Nesse grupo, a identificação  de uma variante patogênica em gene específico  relacionado ao quadro tem impacto no diagnóstico  preciso, no aconselhamento da família e pode modificar  a estratégia terapêutica.

Pacientes com deficiência de leptina por alteração no  gene LEP, por exemplo, podem se beneficiar do tratamento com leptina humana recombinante, que reduz a  fome, o ganho de peso e a gordura corporal, repercutindo,  inclusive, no metabolismo hormonal. A setmelanotida, um  agonista seletivo do MC4R, é outra droga recentemente  aprovada pelo FDA nesse cenário, indicada para os casos  de obesidade monogênica decorrentes de alterações nos  genes LEPR, PCSK1 e POMC. Vale destacar que ambas as  medicações não estão disponíveis no Brasil. 

O Grupo Fleury introduziu recentemente em sua  rotina o painel genético para obesidade monogênica.  O exame, que analisa 22 genes associados ao quadro,  ajuda a investigar a obesidade grave sobretudo antes  dos 5 anos de idade.

A via da leptina-melanocortina e sua associação à obesidade grave

A leptina, um hormônio secretado pelos  adipócitos, tem a função-chave de controlar a  fome. Seus níveis circulantes se correlacionam  de maneira proporcional à gordura corporal,  além de responderem a alterações agudas na  reserva energética, diminuindo em situações de  privação alimentar e voltando a aumentar com  a alimentação. O receptor da leptina (LEPR)  existe sob diferentes isoformas, sendo a LEPRb  expressa em várias regiões do SNC. 

Dentro do núcleo arqueado do  hipotálamo (ARQ), o LEPRb participa da  via da melanocortina por meio de duas  subpopulações de neurônios: uma que produz  a propiomelanocorticotropina (POMC) e outra  que dá origem ao peptídeo relacionado à cepa  agouti (AgRP).

Por meio de enzimas convertases, a  POMC é processada em várias moléculas  biologicamente ativas, que incluem,  especialmente, as melanocortinas - o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e as  frações α, β e γ do hormônio estimulante de  melanócitos (MSH). Tais moléculas atuam  de modo importante no estímulo positivo do  receptor de melanocortina 4 (MC4R), localizado  em neurônios do núcleo paraventricular que  controlam o apetite e promovem saciedade.

Ao contrário, o AgRP funciona como um  antagonista endógeno do MC4R, causando  aumento na ingestão alimentar.  

Esse balanço fino entre estímulos agonistas  e antagonistas do MC4R, em resposta ao  estado nutricional do organismo, exerce  papel central na indução do apetite e na  fisiopatogenia da obesidade. 

A maioria das alterações monogênicas  associadas à obesidade grave de início precoce  se encontra em genes que codificam moléculas  dessa via, incluindo LEPR, POMC, AGPR, MC4R,  PCSK1, SH2B1, PHIP, MRAP2 e SIM1.



CONSULTORIA MÉDICA

Dr. José Viana Lima Junior 

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Dra. Maria Izabel Chiamolera 

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Dr. Pedro Saddi 

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Dra. Rosa Paula Mello Biscolla 

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