O rastreamento do câncer de pulmão por métodos de imagem ainda é um tópico controverso. Embora várias tentativas para a detecção precoce de neoplasias pulmonares já tenham sido realizadas, tanto com a radiografia convencional de tórax quanto com a tomografia computadorizada (TC), os estudos disponíveis na literatura encontraram dificuldades semelhantes, decorrentes de vieses epidemiológicos na seleção dos grupos de estudo, de aderência/contaminação entre os grupos rastreados e não rastreados, de “tempo ganho”, de “duração de tempo” e de sobrediagnóstico, levando a resultados falso-positivos que geram muita ansiedade e custos, além do risco de morbidade e mortalidade associadas a eventuais procedimentos diagnósticos ou cirúrgicos.
O emprego da TC, principalmente com aquisições volumétricas e cortes finos, permitiu a detecção de nódulos pulmonares de menores dimensões. Embora muitos diagnósticos precoces sejam realizados, o risco de resultados falso-positivos é ainda maior. Portanto, até recentemente, o uso do método para o rastreamento do câncer de pulmão não era preconizado em larga escala, mas apenas em grupos selecionados, como aqueles de alto risco para o desenvolvimento dessa doença.
Com o intuito de avaliar o papel da TC de tórax para rastrear a neoplasia pulmonar, um grande estudo multicêntrico, com mais de 50.000 participantes, foi realizado nos Estados Unidos de modo randomizado e prospectivo. Denominado National Lung Cancer Screening Trial (NLST), o trabalho buscou comparar a TC de tórax com a radiografia simples na detecção precoce de carcinoma de pulmão. Seus resultados iniciais, divulgados no fim de 2010, demonstraram redução significativa da mortalidade (20,3%) no grupo rastreado por TC e, embora preliminares, indicam possível utilização do método como ferramenta de rastreamento não invasivo do câncer de pulmão.
Deve-se considerar que o NLST é o maior estudo já feito e o único a demonstrar queda da mortalidade no grupo avaliado por TC. Outras pesquisas deverão ser levadas a efeito, especialmente entre os europeus, endereçando pontos específicos não abordados pelo estudo norte-americano.
Entendemos que o rastreamento do câncer de pulmão talvez ainda não deva ser realizado em massa, mas pode ser aplicado em populações específicas, principalmente naquelas compostas de fumantes, que tenham idade semelhante à dos indivíduos do estudo americano (55-75 anos) e que estejam bem informadas sobre o risco de resultados falso-positivos (sobrediagnóstico), a necessidade de continuidade do rastreamento a cada ano e a importância da cessação do tabagismo.
Por fim, não podemos deixar de lado o risco da radiação ionizante da TC, do qual o paciente igualmente deve tomar conhecimento ao ser rastreado anualmente por esse método. Apesar de se tratar de uma baixa dose de radiação, ainda não há estudos conclusivos – por agora, ainda estão em andamento – que comparem esse risco com o benefício do rastreamento.
Por outro lado, o advento de novas técnicas de TC, com emprego de doses ainda menores de radiação, é muito promissor para a realização de exames de rastreamento do câncer de pulmão, por minimizar sobremaneira o risco da radiação ionizante.
*Sobre o autor:
Gustavo Meirelles é médico radiologista do Fleury Medicina e Saúde
LEITURA RECOMENDADA
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