Perda de memória e desorientação em paciente idosa

Diagnóstico exige uma abordagem multidisciplinar e deve ser feito de forma criteriosa

O CASO

Mulher de 79 anos queixava-se de déficit  progressivo de memória, iniciado três  anos antes, que atribuía ao falecimento  de um amigo. Ainda que realizasse as  atividades básicas de cuidados pessoais,  seus familiares relatavam que ela pouco  comparecia a eventos sociais, perdia-se com frequência na rua e não administrava  mais suas finanças nem sua medicação. O  exame físico flagrou repetições constantes  em seu discurso, mas não detectou  alterações de comportamento. A paciente  ainda compreendia o que lhe era dito sem  dificuldade, embora se mostrasse apática.


Figura 1. Imagens da sequência T1 SPGR-3D de RM com reformatações no plano coronal (A e B), com segmentação  automatizada (B). Note a redução volumétrica encefálica, com sinais de atrofia seletiva das estruturas temporais mediais,  incluindo os giros para-hipocampais, com aumento da amplitude dos cornos temporais dos ventrículos laterais e das  fissuras coróideas, bem como redução da altura dos hipocampos (escore de MTA = 3). A tabela morfométrica (C) permite  a demonstração quantitativa da atrofia seletiva das estruturas temporais mediais e a comparação gráfica com indivíduos  normais do mesmo sexo e faixa etária.


Para a investigação do quadro, o clínico optou por  uma avaliação neuropsicológica, que revelou uma  síndrome amnéstica grave, do tipo anterógrada,  sem quadro demencial estabelecido. A ressonância magnética (RM) do encéfalo demonstrou redução  volumétrica encefálica com envolvimento das  estruturas temporais mediais (MTA = 3), confirmado  pelo estudo volumétrico (Neuroquant®) (figura 1). Um  estudo complementar com tomografia por emissão  de pósitrons (PET-CT) com fluordesoxiglicose  (FDG) demonstrou hipometabolismo bilateral e  simétrico dos pré-cúneos e dos giros dos cíngulos posteriormente, assim como dos lobos temporais  e parietais, poupando as regiões sensitivo-motoras  primárias e os lobos occipitais (figura 2).

Figura 2. Imagens de  PET-CT reformatadas nos  planos axial (A), coronal (B)  e sagital (C) demonstram hipometabolismo bilateral e  simétrico dos pré-cúneos e  do segmento posterior dos  giros dos cíngulos (setas),  assim como das regiões  mediais (asteriscos) e, menos  proeminentemente, das  regiões laterais dos lobos  temporais (pontas de setas),  poupando as regiões sensitivomotoras primárias e os  lobos occipitais.


A DISCUSSÃO

Existem diversas causas de demência, que vão desde  quadros progressivos, em que o sintoma compõe  a principal manifestação de uma entidade clínica  específica, como na doença de Alzheimer (DA), até parte  de um quadro neurológico estático, como nas sequelas  de lesões corticais por encefalite. 

O diagnóstico, portanto, exige uma abordagem  multidisciplinar e deve ser feito de forma criteriosa para  descartar enfermidades tratáveis.  

O diagnóstico da DA baseia-se em probabilidade, pois  não existem marcadores biológicos in vivo específicos  para a doença. Assim, considera-se a condição provável quando, excluídas outras hipóteses, especialmente a  doença cerebrovascular, critérios clínicos e cognitivos  são satisfeitos e reforçados pelos seguintes aspectos:

• Evidência de declínio cognitivo progressivo documentado em avaliações subsequentes, com base nos  testes rápidos do status mental ou neuropsicológico  formal e em dados de informantes.  

• Presença de um ou mais dos seguintes marcadores:  

- Ab42 diminuída ou tau ou fosfo-tau elevadas  no liquor;  

- Proteína amiloide positiva; 

- Redução da captação de FDG no giro do cíngulo  posterior e pré-cúneos e no córtex temporoparietal  no exame de PET/CT cerebral; 

 - Atrofia desproporcional das estruturas mediais  temporais, principalmente o hipocampo, do lobo  temporal, basal e lateral e do córtex parietal medial  na RM convencional.  

• Mutação genética autossômica dominante para DA  comprovada (PSEN1, PSEN2, APP)

Os estudos morfológicos de RM demonstraram  a atrofia desproporcional das estruturas mediais  temporais, envolvendo o córtex entorrinal, os giros  para-hipocampais e os hipocampos, cujo volume  encontrava-se abaixo do percentil normativo de 1  para a faixa etária e gênero. Esse achado constitui a  pedra angular do diagnóstico presuntivo por imagem  da DA, evidentemente dentro de contexto clínico e  laboratorial apropriado.

Diversas técnicas de medida volumétrica de estruturas temporais mediais (amígdala, hipocampo e giro  para-hipocampal) têm sido utilizadas, na última década, com potencial aplicação clínica na investigação  de doenças neuropsiquiátricas. Recentes avanços tecnológicos tornaram possível o desenvolvimento de  softwares de análise morfométrica automáticos, como  o Neuroquant®, que minimiza os problemas referentes  à reprodutibilidade do método. Ademais, o uso desse  sistema permite a comparação dos valores obtidos no  paciente com valores normais de uma base de dados  corrigidos por sexo, idade e tamanho da cabeça.

Em relação à RM, vale ressaltar que o método  reconhecidamente consegue demonstrar alterações  nas fases em que já se observam manifestações clínicas  que permitem o diagnóstico de DA.  

Não há consenso, entretanto, sobre seu papel  na detecção de pacientes na fase pré-clínica  da doença ou mesmo daqueles indivíduos com  comprometimento cognitivo leve, que carregam  maior risco de evoluir para essa demência.

Existem diversas  causas de demência,  que vão desde quadros  progressivos, em que  o sintoma compõe a  principal manifestação  de uma entidade clínica  específica, como na doença de Alzheimer  (DA), até parte de um  quadro neurológico  estático, como  nas sequelas de lesões  corticais por encefalite.

Exames funcionais como o PET-CT podem contribuir  em tais casos, na demonstração de alterações  funcionais mais precoces, que eventualmente  antecedam o comprometimento evidente nos estudos  de neuroimagem estrutural, tendo fundamental  aplicação nos casos em que as alterações na RM se  mostram inespecíficas.

O padrão observado na paciente do estudo é aquele  usualmente observado na DA, o que pode favorecer  o diagnóstico presuntivo da doença no contexto clínico apropriado.


Consultoria médica: 

MEDICINA NUCLEAR 

Dr. Marco A. C. Oliveira 

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Dra. Germana Titoneli dos Santos 

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Dr. Lucas Avila Lessa Garcia 

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Dr. Luiz Antonio Pezzi Portela 

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