As neoplasias de células T maduras são doenças heterogêneas caracterizadas por um amplo espectro de achados citológicos e histológicos, que, às vezes, se sobrepõem àqueles observados em linfoproliferações reacionais. A classificação de neoplasias hematológicas da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016) descreve vários subtipos distintos dessas doenças, que apresentam comportamento clínico heterogêneo, variando de malignidades relativamente indolentes a altamente agressivas (veja boxe).
Dependendo do tipo e local de apresentação, a demonstração da natureza neoplásica de um infiltrado de células T tradicionalmente exige uma combinação de critérios histológicos e imuno-histoquímicos, podendo ser complementada por análise molecular. Adicionalmente, vários estudos comprovaram a utilidade da imunofenotipagem por citometria de fluxo como uma técnica sensível e específica no diagnóstico e na classificação dessas condições, o qual costuma se basear na identificação de aberrações imunofenotípicas presentes nos linfócitos T clonais.
Em neoplasias de linfócitos B maduros, a demonstração de clonalidade é relativamente direta e se traduz na expressão diferencial (restrita ou ausente) de imunoglobulina de superfície (kappa ou lambda) nos linfócitos B clonais. Por outro lado, a detecção de clonalidade de neoplasias de células T por citometria de fluxo tradicionalmente requer a implantação da análise do repertório das famílias da região variável da cadeia beta do receptor de células T (TCR-V-beta). No entanto, essas técnicas apresentam algumas limitações por serem trabalhosas e onerosas, além de exigirem conhecimentos interpretativos que não estão disponíveis em todos os laboratórios clínicos. Como consequência, a abordagem primária para o diagnóstico de neoplasias T por citometria de fluxo implica a identificação de desvios dos padrões normais de expressão imunofenotípica de antígenos de células T.
A análise de rearranjos de genes do receptor de células T (TCR) pela técnica de PCR e o sequenciamento de próxima geração de TCR rearranjados igualmente podem ser usados para avaliar a clonalidade de células T. No entanto, existe a possibilidade de esses métodos produzirem resultados potencialmente falso-positivos em estados fisiológicos como senescência ou mesmo em condições inflamatórias, sem contar o fato de que também estão associados a custos mais elevados, complexidade operacional e disponibilidade limitada. Assim, tais metodologias não representam uma alternativa ideal para a detecção de clonalidade T.
Para dar ao clínico uma melhor opção nesse contexto, o Fleury desenvolveu e acaba de integrar aos painéis imunofenotípicos clássicos a pesquisa do antígeno TRCB1 por citometria de fluxo, que configura uma metodologia de baixo custo, capaz de substituir as técnicas tradicionais de clonalidade T, como biologia molecular e pesquisa de repertório TCR-V-beta.
Recentemente, o TRBC1 foi proposto como marcador potencial para avaliação da clonalidade de células T, uma vez que permite a identificação rápida e precisa de populações de células T clonais. Esse anticorpo se volta contra um dos dois domínios constantes e mutuamente exclusivos da cadeia beta de TCR (TRBC1 e TRBC2) selecionados aleatoriamente durante o rearranjo do gene TCR.
Para avaliar essa nova estratégia de pesquisa de clonalidade T, a equipe do Fleury desenvolveu um tubo de oito cores que inclui o TRBC1 (clone JOVI-1, conjugado em ficoeritrina-PE) combinado com anticorpos para os antígenos CD3, CD4, CD8 e CD45, assim como com antígenos que ajudam a identificar a população com imunofenótipo anômalo (como CD2, CD7 e CD5 e marcadores citotóxicos como CD56 e CD57).
A pesquisa do TRBC1 foi avaliada em amostras de sangue periférico ou medula óssea. O diagnóstico de neoplasia linfoproliferativa de células T maduras baseou-se em dados clínicos, morfológicos, imunofenotípicos e anatomopatológicos. A porcentagem de TRBC1 foi determinada na população de linfócitos T com imunofenótipo suspeito e nas populações de linfócitos T normais residuais (CD4+ e CD8+).
Inicialmente, na validação da técnica, os pesquisadores estudaram amostras com perfil não clonal (normais e com linfocitose reacional), as quais exibiram duas populações de linfócitos T, de acordo com a expressão de TRBC1: uma negativa e uma positiva. A expressão de TRBC1 nos linfócitos T (CD4+ ou CD8+) variou de 30% a 66%.
No grupo de neoplasias de células T maduras, apenas uma população de linfócitos T foi identificada de acordo com o padrão de expressão de TRBC1: ou era toda negativa ou toda positiva para TRBC1 (figura 1). A expressão do marcador nos linfócitos T clonais ficou abaixo de 15% (até 13%) ou superior a 95% (97-100%). Esses resultados mostram que a pesquisa de TRBC1 constitui uma forma simples e robusta para a detecção de clonalidade de linfócitos T.
Como única limitação, o exame só não pode ser realizado em linfomas T que expressam TCR-gama-delta, o que, no entanto, corresponde a menos de 1% desses casos.
Figura 1. Expressão de TRBC1 em linfócitos T maduros (linfócitos T normais residuais [azul], linfócitos T clonais [vermelho], linfócitos reacionais [laranja]). Linfócitos T normais/reacionais apresentam duas populações de linfócitos T de acordo com a expressão de TRBC1: uma negativa e uma positiva. Linfócitos T clonais apresentam apenas uma população de linfócitos T segundo o padrão de expressão de TRBC1 (negativa ou positiva).
Classificação dos linfomas e neoplasias T
De acordo com a OMS, a classificação de linfomas T baseia-se no local de acometimento primário pelos linfócitos T patológicos, como pele (micose fungoide/síndrome de Sézary), linfonodo (linfoma angioimunoblástico de células T, linfoma anaplásico de grandes células e linfoma de células T periférico não especificado) e localização extranodal (linfoma extranodal de células NK/T, tipo nasal e linfoma anaplásico associado à prótese). Por sua vez, outras neoplasias T são tipicamente encontradas no sangue periférico ou na medula óssea, como a leucemia prolinfocítica de células T, leucemia/linfoma de células T do adulto e leucemia de linfócitos grandes granulares.
Referências bibliográficas
Consultoria médica
Hematologia e Citometria de Fluxo
Dr. Alex Freire Sandes
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Dr. Marçal Cavalcante de Andrade Silva
[email protected]
Dr. Matheus Vescovi Gonçalves
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