Princípios e aplicação do Escore Trabecular Ósseo (TBS) na prática clínica

Tecnologia acessível e não invasiva prevê risco de fratura além daquele fornecido pela DMO

A osteoporose é uma doença osteometabólica  que se caracteriza por redução da massa óssea (quantidade), associada à deterioração  da microarquitetura (qualidade) do tecido esquelético, com consequente predisposição a fraturas.

Embora a densidade mineral óssea (DMO)  medida por DXA (dual energy x-ray  absorptiometry) seja o padrão ouro para o  diagnóstico de osteoporose por ser o melhor  preditor isolado do risco de fratura por fragilidade  na população geral, a maioria dos indivíduos com  fratura apresenta valores de DMO na faixa de  osteopenia, ou seja, fora da faixa de osteoporose.  Esse fato indica que outros fatores, além da  DMO, conhecidos como qualidade óssea,  contribuem para o risco de fratura e resistência  óssea, tais como microarquitetura, mineralização,  remodelação óssea, geometria e vários outros.

TBS: Medida indireta da microarquitetura óssea 

Um grande desafio, portanto, tem sido incorporar à  prática clínica uma tecnologia acessível e não invasiva  que aprimore a previsão de risco de fratura além daquele  fornecido pela DMO combinada a fatores de risco clínicos.  A microarquitetura óssea pode ser avaliada com precisão  por métodos de custo elevado ou invasivos. No entanto,  o TBS (trabecular bone score ou escore trabecular ósseo),  gerado a partir da imagem da coluna lombar adquirida por  DXA, é uma ferramenta simples e acessível, capaz de avaliar  indiretamente a microarquitetura óssea.  

Como calcular o TBS? 

O TBS é calculado por meio da instalação de um software  (TBS iNsigt, Medimaps, Suíca) no densitômetro convencional  e avalia a distribuição dos pixels que compõem a imagem  adquirida da coluna lombar, sem uso de radiação adicional  para sua análise. Diferente do exame tradicional de DXA, que  calcula a densidade mineral por área óssea, o TBS fornece  dados da arquitetura do osso trabecular. 

Pode ser utilizado em exames atuais ou exames já adquiridos  previamente, em indivíduos a partir dos 20 anos de idade e  com IMC na faixa de 15 – 37 kg/m2 .

Quais os benefícios do TBS? 

O TBS é um método que avalia a qualidade óssea e  complementa a avaliação da DMO por DXA, permitindo  melhor acurácia na predição do risco de fratura na prática  clínica. TBS elevado traduz uma melhor  estrutura óssea. Já um valor de TBS baixo indica  deterioração da microarquitetura trabecular  e associa-se a aumento do risco de fratura  vertebral e não vertebral em mulheres na pósmenopausa e homens com 50 anos ou mais, de  maneira parcialmente independente dos fatores  de risco clínicos e da medida da DMO por DXA.

Para quais pacientes é mais indicado? 

O TBS mostra-se especialmente interessante  em pacientes mais jovens com osteopenia  e próximos ao limiar de intervenção e  naqueles com potencial comprometimento  da microarquitetura óssea, como usuários de  glicocorticoide sistêmico e indivíduos com  diabetes mellitus tipo 2, uma vez que, em  tais condições, a DMO subestima o risco de  fratura. Outros estudos identificaram redução  do TBS também em pacientes portadores  de artrite reumatoide, hiperparatireodismo  primário, diabetes mellitus tipo 1, acromegalia,  hipercortisolismo endógeno, talassemia, doença  renal crônica e após transplante renal.

Como interpretar o resultado do TBS  na prática clínica? 

Em 2015, a ferramenta on-line que calcula a  probabilidade em valor absoluto da ocorrência  de fraturas osteoporóticas nos próximos 10 anos FRAX (Fracture Risk Assessment Tool - https://abrasso. org.br/calculadora/calculadora) incorporou o TBS  como uma de suas variáveis. Assim, após o cálculo do  risco de fratura, se o TBS estiver disponível, pode ser  inserido no aplicativo, aprimorando a probabilidade  de fratura calculada pelo FRAX e, em alguns  casos, determinando a necessidade de tratamento  antiosteoporótico. Estudos recentes indicam que o  uso do TBS modifica o risco de fratura estimado pelo  FRAX sobretudo em mulheres mais jovens e naquelas  próximas ao limiar de intervenção.

Em 2016, foi publicada uma metanálise com dados  de 17.809 pacientes (mulheres na pós-menopausa  e homens) provenientes de 14 estudos prospectivos  ao redor do mundo, demonstrando a  utilidade do TBS. Nesse estudo, o TBS  foi um fator preditor de risco de fraturas  consistente e foram definidos pontos de  corte baseados nos tercis da população  estudada (quadro 1).

No entanto, não há estudo que determine  um valor isolado de TBS abaixo do qual  o tratamento antiosteoporótico deveria  ser indicado e, por isso, não deve ser  considerado de forma isolada para definir  a indicação do tratamento medicamento.  Além disso, o TBS parece não ser útil  para o monitoramento do tratamento  com antirreabsortivos, enquanto  estudos iniciais têm demonstrado sua  potencial utilidade no monitoramento de  medicações anabólicas. 

Dentre os pacientes com diagnóstico de  osteopenia, aqueles com menores valores  de TBS são os que apresentam maior  risco de fratura. A figura 1 exemplifica  um caso de uma mulher de 69 anos com  DMO de coluna pela DXA que determina  osteopenia, porém com TBS que indica  alto risco para fraturas.

Estudos clínicos são consistentes em demonstrar que  valores baixos de TBS associam-se a maior risco de  fraturas osteoporóticas incidentes. Além disso, o TBS  pode ser útil em osteoporose de causas secundárias  e auxilia a decisão terapêutica quando utilizado em  conjunto com a DMO e avaliação dos fatores clínicos  de risco, podendo ser incorporado ao FRAX.


REFERÊNCIAS: 

1. Silva BC, Leslie WD, Resch H, Lamy O, Lesnyak O, Binkley N, et al. Trabecular bone  score: A noninvasive analytical method based upon the DXA image. Journal of Bone  and Mineral Research. 2014; 29(3):518–30. 

2. Silva BC, Broy SB, Boutroy S, Schousboe JT, Shepherd JA, Leslie WD. Fracture  risk prediction by non-DMO DXA measures: The 2015 ISCD official positions Part 2:  Trabecular bone score. Journal of Clinical Densitometry. 2015;18(3):309–30. 

3. McCloskey E V., Odén A, Harvey NC, Leslie WD, Hans D, Johansson H, et al. A  meta-analysis of trabecular bone score in fracture risk prediction and its relationship  to FRAX. Journal of Bone and Mineral Research. 2016;31(5):940–8. 

4. Hans, Didier et al. The trabecular bone score (TBS) complements DXA and  the FRAX as a fracture risk assessment tool in routine clinical practice. Current  osteoporosis reports. 2017; 521-531. 

5. DXA avançada utilizando TBS iNsight. www.medimapsgroup.com 

6. Palomo T, Dreyer P, Muszkat P, Weiler FG, Bonansea TCP, Domingues FC, Vieira  JGH, Silva BC, Brandao CMA. Effect of soft tissue noise on trabecular bone score  in postmenopausal women with diabetes: A cross sectional study. Bone. 2022;  Apr;157:116339. 

7. Palomo T, Muszkat P, Weiler FG, Dreyer P, Brandao CMA, Silva BC. Update on  trabecular bone score. Arch Endocrinol Metab. 2022 Nov 11;66(5):694-706. doi:  10.20945/2359-3997000000559e


Consultoria médica: 

Dra. Cynthia Maria Alvares Brandão 

Consultora médica em Densitometria Óssea  e Osteometabolismo

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Dr. Diogo Souza Domiciano 

Consultor médico em Densitometria Óssea  

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Dra. Fernanda Guimarães Weiler 

Consultora médica em Densitometria Óssea  

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Dra. Patricia Dreyer 

Consultora médica em Densitometria Óssea  

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Dra. Patricia Muszkat 

Consultora médica em Densitometria Óssea  

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Dra. Telma Palomo de Oliveira 

Consultora médica em Densitometria Óssea  

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Dra. Teresa Cristina Piscitelli Bonansea 

Consultora médica em Densitometria Óssea  

[email protected]