Quando o resultado do NIPT não concorda com o da amniocentese | Revista Médica Ed. 2 - 2018

Assessoria médica do Fleury explica por que razões um teste de rastreamento de aneuploidias fetais pode ser falso-positivo.

  


Há alguns dias, solicitei o NIPT para uma primigesta de 30 anos que apresentou, no exame morfológico de primeiro trimestre, um feto com comprimento crânio-nádega de 70 mm e translucência nucal de 2,4 mm. O resultado foi compatível com trissomia do cromossomo 13. Realizamos uma amniocentese sem intercorrências e o cariótipo mostrou feto XX normal. Como posso explicar esse falso-positivo para a família?

O NIPT, do inglês non-invasive prenatal testing, é um teste não invasivo para detecção do risco de o feto ser portador de alguma aneuploidia, como trissomia do 21, do 13 ou do 18 e dos cromossomos sexuais X e Y (XXX, XXY e XYY). Apesar de sua alta sensibilidade (de 95,8% a 100%) e de seu baixo índice falso-positivo (de 0,004% a 0,14%), o exame faz um rastreamento, e não um diagnóstico, por isso resultados falsamente positivos podem ocorrer.

Em primeiro lugar, é preciso se certificar de que o exame foi colhido na idade gestacional correta, a partir de dez semanas, visto que a confiabilidade do teste se relaciona à fração fetal, que aumenta conforme a gestação evolui e tem de ser de, no mínimo, 4%. Além da idade gestacional, a obesidade (peso maior que 100 kg) e a triploidia igualmente baixam os níveis de fração fetal.

Na prática clínica, observa-se que o mosaicismo placentário é uma das principais causas de NIPT falso-positivo. Caracterizado pela presença de duas linhagens celulares geneticamente diferentes em um único tecido ou indivíduo, o mosaicismo afeta apenas a placenta, sem causar alteração genética no feto. Os efeitos da anomalia variam desde gravidez de evolução normal até restrição de crescimento intrauterino (mais comum), abortamentos espontâneos e óbito fetal. Cerca de 16% a 21% dessas gestações têm complicações pré e perinatais.

Outro fator importante de positividade falsa do teste é o óbito de um dos gêmeos na gestação inicial. Até o momento, estudos mostram que o DNA fetal livre do feto abortado persiste no sangue materno por até oito semanas. Um único relato de caso demonstrou a influência do DNA fetal após 15 semanas. Nessa situação, convém orientar as gestantes quanto à possibilidade de resultados discordantes secundários ao gêmeo que foi a óbito.

Por fim, o NIPT ainda pode ser falsamente positivo diante de mudanças no genoma materno, como ocorre na presença de neoplasia materna, já que o DNA do tumor circula na corrente sanguínea da gestante.

Vale lembrar que, na dissomia uniparental (cromossomo 15, em geral) e na consanguinidade parental (mais de um cromossomo), é possível obter um NIPT inconclusivo devido à elevada homozigosidade.

No caso apresentado, embora a biópsia de vilo corial pudesse ser feita antes da amniocentese, o resultado poderia também ser falso-positivo. Como a suspeita era de mosaicismo placentário, optou-se pelo estudo do líquido amniótico com FISH e cariótipo para diminuir a chance de duas intervenções.


Outras causas de falso-positivo do NIPT

  • Transfusão sanguínea de doador masculino há menos de quatro semanas
  • Variação do número de cópias do DNA materno
  • Acaso


Assessoria Médica
Dr. Fernando Takashi Kojima Marques
[email protected]
Dr. Mário H. Burlacchini de Carvalho
[email protected]/p>


MANDE TAMBÉM A SUA DÚVIDA DIAGNÓSTICA PARA: [email protected]