Síndromes de febre periódica | Revista Médica Ed. 5 - 2016

Constituindo um amplo grupo de doenças raras, as síndromes de febre periódica (SFP) predominam na infância e se caracterizam por episódios recorrentes de processos inflamatórios sistêmicos.

Constituindo um amplo grupo de doenças raras, as síndromes de febre periódica (SFP) predominam na infância e se caracterizam por episódios recorrentes de processos inflamatórios sistêmicos, em grande parte dos casos com intervalos assintomáticos, embora algumas possam levar a quadros contínuos. Durante as exacerbações, em geral há febre e quase sempre estão presentes outros sintomas, sendo a artrite e a serosite, a dor abdominal, o rash cutâneo e a linfadenopatia os mais frequentes. Tipicamente, esses episódios ocorrem de forma espontânea, ou seja, asséptica e sem associação com nenhum agente irritante, físico ou químico. 


A origem das SFP está exatamente na anomalia de genes que participam do controle da inflamação, como os relacionados à interleucina 1ß (IL-1ß) e ao fator de necrose tumoral (TNF-alfa). Na prática, a hipótese de uma dessas condições costuma vir após estarem excluídas causas diversas e mais comuns de febre e inflamação, como infecções crônicas, doenças autoimunes e síndromes paraneoplásicas, entre outras. Por outro lado, diante de clínica sugestiva, deve-se suspeitar de tal possibilidade, pois um diagnóstico preciso permite uma escolha mais criteriosa do tratamento e o estabelecimento do risco de complicações – em especial da amiloidose –, além de evitar investigações invasivas repetidas ou desnecessárias. 


Graças à crescente disponibilidade dos testes genéticos, o diagnóstico definitivo das SFP ficou mais acessível, já que boa parte dessas doenças apresenta caráter monogênico e tem, atualmente, a causa genética conhecida. Como muitas vezes as diferentes enfermidades pertencentes a esse grupo cursam com sintomas que se sobrepõem, o diagnóstico diferencial entre elas costuma ser um desafio.


Foi nesse contexto que o Fleury introduziu, em sua rotina, um painel para a análise simultânea de 21 genes associados às SFP. O teste baseia-se na conjugação do método de sequenciamento de nova geração e da técnica de Sanger para sequenciar todas as regiões codificantes (éxons) e regiões não codificantes adjacentes de tais genes, em busca de variantes genéticas patogênicas, apresentando o resultado em um laudo interpretativo. As variantes benignas não são reportadas. 

 

Genes analisados no painel para síndromes de febre periódica:
CARD14, ELANE, IL10, IL10RA, IL10RB, IL1RN, IL36RN, LPIN2, MEFV, MVK, NLRP12, NLRP3, NLRP7, NOD2, PLCG2, PSMB8, PSTPIP1, SH3BP2, SLC29A3, TNFRSF11A, TNFRSF1A.


Principais doenças associadas às SFP
Doença
Gene
Herança
Duração dos episódios de febre
Outras manifestações clínicas além da febre
Febre familiar do Mediterrâneo
MEFV
AR
De um a três dias
- Dor abdominal secundária à peritonite, artrite, mialgia e eritema semelhante à erisipela
- Podem estar presentes outras serosites, como pleurite e pericardite
Deficiência da mevalonato quinase
MVK
AR
De três a sete dias
- Linfadenopatia cervical, dor abdominal com ou sem diarreia, cefaleia, hepatomegalia, esplenomegalia, poliartralgia ou artrite e rash
- Elevação de IgD policlonal
Síndrome periódica associada ao receptor do fator de necrose tumoral
TNFRSF1A
AD
Duas semanas
- Dor abdominal, mialgia, rash eritematoso, manifestações oculares como uveíte e conjuntivite, artralgia ou artrite e pleurite
- Pode haver sintomas neurológicos, como cefaleia, meningite asséptica e alterações comportamentais
Síndrome autoinflamatória familiar associada ao frio
NLRP3/ NLRP12
AD
De 12 a 24 horas – geralmente desencadeada pelo frio
Rash urticariforme, conjuntivite e poliartralgia
Síndrome de Muckle-Wells
NLRP3
AD
De um a dois dias
- Rash urticariforme, conjuntivite, artrite, cefaleia e meningite asséptica
- Perda auditiva neurossensorial
Doença inflamatória multissistêmica de início neonatal
NLRP3
AD
Contínua
- Rash, artropatia grave e deformidades ósseas
- Envolvimento neurológico característico, com meningite asséptica neutrofílica crônica, irritabilidade e convulsão, que pode evoluir com perda auditiva e visual, hidrocefalia e atrofia cerebral
Artrite granulomatosa pediátrica
NOD2/ CARD15
AD
Esporádica
Inflamação granulomatosa crônica dos olhos (uveíte), articulações (artrite) e pele (dermatite)
Deficiência do antagonista do receptor de IL-1
IL1RN
AR
Incomum
- Dermatite pustular de início precoce, periosteíte e osteomielite multifocais
- Menos frequentes: doença pulmonar intersticial e vasculite do SNC
Síndrome de Majeed
LPIN2
AR
Incomum
Osteomielite multifocal recorrente de início neonatal, dermatose neutrofílica e anemia diseritropoética congênita
Artrite piogênica, pioderma gangrenoso e acne
PSTPIP1
AD
Rara
Artrite deformante, úlceras cutâneas e cistos de acne ou abscessos cutâneos
Doença inflamatória intestinal de início precoce
IL10RA IL10RB
AR
Indeterminada, mas recorrente
Enterocolite grave, artrite e foliculite

Adaptado de: Jesus AA et al. Síndromes autoinflamatórias hereditárias na faixa etária pediátrica. J Pediatr (Rio J). 2010;86(5):353-66.


ASSESSORIA MÉDICA
Reumatologia
Dr. Alexandre Wagner Silva de Souza
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Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade
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Genética
Dr. Caio Robledo Costa Quaio
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Dr. Carlos Eugênio Fernandez de Andrade
[email protected]
Dr. Wagner Antonio da Rosa Baratela
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