Sabemos que a pele das crianças é naturalmente mais fina e sensível, além de ter uma barreira cutânea ainda em desenvolvimento, o que a torna mais suscetível a irritações e alergias. Por isso, não deve receber cosméticos de adultos, mesmo que hipoalergênicos, uma vez que estes podem causar diversas reações, como dermatites de contato, acne, conjuntivite alérgica e reações de fotossensibilidade, e até exacerbar as crises em pacientes com dermatite atópica.
Ademais, é possível que muitas substâncias químicas presentes em cosméticos atuem como disruptores endócrinos, interferindo no sistema hormonal, ainda que em pequenas quantidades. Mesmo nos cosméticos infantis, esses compostos não raro costumam estar presentes em fragrâncias artificiais, em conservantes como parabenos e em filtros solares químicos. A exposição precoce a tais substâncias pode estar associada a efeitos no desenvolvimento, puberdade precoce e riscos à saúde em longo prazo.
Diferentemente do que as tendências parecem sugerir, crianças não precisam de rotinas sofisticadas de skincare. Bastam cuidados básicos como proteção solar, essencial desde a infância para prevenir danos futuros e proteger contra o câncer de pele, higiene suave com sabonetes infantis ou apropriados para peles sensíveis, suficientes para manter a pele limpa, e hidratação – para peles mais ressecadas, um produto específico pode ser recomendado.
O cuidado com a pele vem ganhando cada vez mais espaço, especialmente entre crianças e adolescentes. Impulsionado pelas redes sociais e pelo marketing de produtos, o fenômeno, conhecido como “Sephora Kids” – expressão que se refere ao consumo de produtos sofisticados e, muitas vezes, desnecessários por crianças –, levanta um alerta. Afinal, até que ponto o skincare infantil é benéfico?
Brincar de se maquiar
Também é muito comum que crianças pequenas comecem a brincar de se maquiar, o que igualmente implica cuidados. Segundo a Anvisa, as maquiagens infantis estão liberadas a partir dos 3 anos de idade, desde que aplicadas exclusivamente por adultos. A partir dos 5 anos, as crianças podem manusear os produtos, sempre sob supervisão de um responsável, que, no entanto, deve se certificar de que os cosméticos têm registro na Anvisa. Isso porque as maquiagens infantis são formuladas com ingredientes seguros, com pouca capacidade de fixação, e dispensam demaquilantes para sua remoção, já que saem facilmente com água e sabão. Os esmaltes devem ter base aquosa e, da mesma forma, sair sem necessidade de acetona ou removedor.
Vale ressaltar que não se deve incentivar a maquiagem nas crianças com o objetivo de “ficarem mais bonitas”, mas, sim, como uma atividade lúdica e criativa, inclusive como uma forma de expressão.
Adolescente com pele oleosa
Já na adolescência, as mudanças hormonais aumentam a produção de sebo, favorecendo o aparecimento de acne, porém ainda numa pele sensível, em desenvolvimento. Isso significa que cada faixa etária tem necessidades específicas e nem sempre exige uma rotina complexa de cuidados.
Nesse grupo, a rotina de skincare pode incluir, além de hidratante e protetor solar específicos, um sabonete mais voltado para pele oleosa e, se necessário, tratamentos para acne sob orientação médica, de forma individualizada. Para quem gosta de maquiagem, o ideal é optar por produtos não comedogênicos e livres de óleo, que não obstruem os poros, bem como evitar excessos, visto que produtos pesados, como bases de alta cobertura, pioram a oleosidade e contribuem para o surgimento de acne.
O perigo das redes sociais
Adicionalmente, convém lembrar que pais e responsáveis devem ter muita atenção com o que crianças e adolescentes acompanham nas mídias sociais, pois nem tudo que é indicado por influencers pode dar certo na pele de quem ainda não é adulto. Existe a possibilidade de que o uso indiscriminado de ácidos, séruns, máscaras e tônicos comprometa a barreira cutânea, causando sensibilização e irritações. Além disso, nunca é exagerado lembrar, a influência das redes sociais pode resultar em hiperconsumo e em preocupação precoce e desnecessária com a estética.
Por último, o skincare em crianças e adolescentes deve se basear em necessidades reais, e não em modismos. Ensinar bons hábitos desde cedo, como o uso de protetor solar e a escolha de produtos adequados, tem mais importância do que seguir tendências passageiras. Para esclarecer qualquer dúvida nesse sentido, a orientação de um dermatologista é fundamental.
Consultoria médica em Dermatologia
Dra. Lilian Kelly Faria Licarião Rocha - [email protected]
Dra. Mariana Torquato - [email protected]
Referências
1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Cosméticos infantis. Disponível em: https://www. cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201612/07113336- cartilha-cosmeticos-infantis.pdf
2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Desreguladores endócrinos. Disponível em: https://www.sbp.com. br/especiais/pediatria-para-familias/cuidadoscom-a-saude/desreguladores-endocrinos/. Publicado/atualizado em março/2023.
3. Sociedade Brasileira de Pediatria. Conhecendo os produtos que podem ser usados na adolescência. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/ pediatria-para-familias/medicina-do-adolescente/ conhecendo-os-produtos-que-podem-ser-usadosna-adolescencia-a-nova-onda-de-cuidados-com-apele/. Publicado/atualizado em dezembro/2024
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