Vacinas são administradas a indivíduos suscetíveis para proteção contra determinado patógeno e, via de regra, visam a prevenir a infecção ou a doença primária. De forma não convencional, aquelas contra o herpes-zóster (HZ) se direcionam a pessoas que já foram previamente infectadas pelo vírus varicela-zóster (VZV) e abrigam sua forma latente, tendo, assim, o objetivo de impedir a reativação do agente na forma de zóster.
Diferentemente do imunizante contra o HZ antes disponível e composto por vírus vivo atenuado (Zostavax®), a vacina inativada recombinante (Shingrix®), desenvolvida e comercializada pela GlaxoSmithKline (GSK), é uma vacina de subunidade – e portanto, não viva -, que contém a glicoproteína E (gE) associada ao adjuvante AS01B. Elemento mais abundante no VZV e nas células infectadas pelo vírus, a gE é essencial para a replicação e a disseminação viral, além de configurar o principal alvo da resposta imunológica específica contra o agente mediada pelos linfócitos T CD4+.
Essa composição confere à vacina um perfil imunogênico significativamente superior ao produto anteriormente comercializado. De fato, ensaios clínicos randomizados e controlados por placebo de fase 3 mostraram uma eficácia do produto da ordem de 97,2% e de 91,3% para a prevenção da doença em adultos com idades iguais ou superiores a 50 e 70 anos, respectivamente. Já em relação à neuralgia pós-herpética, tais índices alcançaram 100% e 88,8%. Dessa maneira, tanto a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) quanto a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) recomendam a vacina inativada como estratégia de prevenção do HZ e suas complicações para todo adulto imunocompetente com idade maior ou superior a 50 anos e para pessoas em condições de imunossupressão ou risco aumentado para a doença a partir dos 18 anos. Devido à sua elevada eficácia, esse imunizante está indicado inclusive para aqueles que receberam previamente a vacina atenuada, podendo ainda ser usado em pessoas que foram imunizadas para varicela, desde que respeitado, para as duas situações, um intervalo de dois meses entre as aplicações. Mesmo indivíduos que já desenvolveram HZ têm a imunização com Shingrix® recomendada após a resolução do quadro agudo.
A vacina inativada é administrada por via intramuscular em duas doses, com intervalo de dois meses entre elas. As principais reações adversas incluem alterações no local de injeção (como dor, eritema e edema) e sintomas sistêmicos leves (fadiga, mialgia e cefaleia), tipicamente autolimitados.
Adultos imunossuprimidos também podem (e devem!) Se imunizar contra o hz
Em 2021, o FDA aprovou a Shingrix® para uso em adultos com 18 anos ou mais que apresentam risco aumentado atual ou futuro para a HZ devido à imunossupressão, causada por doença conhecida ou tratamento.
Ensaios clínicos mostraram perfil de segurança e imunogenicidade adequados em pacientes submetidos a transplante autólogo de células- tronco hematopoiéticas, em pessoas com tumores sólidos (antes ou durante a quimioterapia), em indivíduos com neoplasias hematológicas (durante ou após terapia imunossupressora), em transplantados renais cronicamente imunossuprimidos e pessoas vivendo com HIV/Aids. Esses estudos respaldaram a indicação nesse grupo populacional de grande suscetibilidade à doença.
O esquema de vacinação para essa população é o mesmo preconizado para os imunocompetentes, entretanto há necessidade de orientações individuais, sobretudo relacionadas ao melhor momento para aplicação do imunizante, de acordo com a condição de base.
Sobre o herpes-zóster
Herpes-vírus de característica neurotrópica, o VZV causa duas diferentes doenças: a varicela, que é a infecção primária e disseminação do microrganismo, e o HZ, resultante da reativação e da subsequente replicação viral localizada. Tanto a recuperação da varicela quanto a latência do vírus nos gânglios sensoriais dependem da resposta imunológica mediada pelos linfócitos T.
O HZ se manifesta tipicamente por um exantema vesicular unilateral, limitado ao dermátomo inervado por uma raiz dorsal ou nervo craniano, acompanhado frequentemente por dor neuropática intensa, que pode persistir por semanas, meses ou anos, conhecida como neuralgia pós-herpética. Essa manifestação neurológica configura uma das complicações mais incapacitantes da doença, particularmente em idosos e imunocomprometidos. Outros eventos graves que podem decorrer do quadro incluem envolvimento oftalmológico, alterações neurológicas e maior risco de acidente vascular cerebral e doença coronariana aguda.
O risco de desenvolvimento de HZ é determinado por fatores que influenciam a relação vírus-hospedeiro e incluem integridade da imunidade celular (comprometida em situações de imunocomprometimento primário ou iatrogênico), imunossenescência e determinantes genéticos.
Estudos mostram uma incidência global que varia de 3-5/1.000 pessoas por ano na população geral e de 5,23-10,9/1.000 pessoas por ano no grupo com idade igual ou superior a 50 anos. Ao longo da vida, a frequência acumulativa ultrapassa os 30% e aumenta com a idade, a ponto de metade dos indivíduos com mais de 85 anos terem apresentado a doença.
Diversos estudos epidemiológicos têm mostrado um aumento de casos de HZ nas últimas décadas, mesmo em países onde quase não se observa mais a varicela. Nesse cenário, a imunização para a população elegível merece ser estimulada.
Consultoria médica:
Dr. Daniel Jarovsky
Consultor médico em imunizações
Pode ser utilizada para detectar o DNA da bactéria Leptospira spp. no plasma.
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