Fratura atípica de fêmur proximal: seu paciente usa alendronato? | Revista Médica Ed. 1 - 2012

Quando as características da imagem não determinam o diagnóstico, recorre-se à biópsia para esclarecer a suspeita.

O alendronato foi o primeiro bisfosfonato largamente utilizado no tratamento da osteoporose, tendo mostrado eficácia comprovada na redução do risco de fraturas ósseas, tanto vertebrais quanto não vertebrais. No entanto, várias publicações vêm demonstrando uma associação paradoxal entre seu uso por longos períodos e o surgimento de fraturas femorais de baixa energia. Ainda não se sabe se essa relação vale para todos os bisfosfonatos, pois a maioria dos estudos tem se centrado sobre esse fármaco, que, afinal, é o mais amplamente empregado.

O fato é que, atualmente, quando se identifica uma fratura iniciada na face lateral da região subtrocantérica, alvo frequente de tais lesões, convém pensar no uso crônico desses medicamentos como fator causal e investigar adequadamente essa possibilidade. Tal raciocínio possibilita diagnósticos mais precoces, evita confusões diagnósticas e, evidentemente, permite a adoção de medidas terapêuticas adequadas. É importante ponderar, entretanto, que a relação entre a ocorrência de fraturas do fêmur proximal e a terapia de longo prazo com bisfosfonatos ainda requer investigação. Até o momento, não há consenso sobre a duração adequada dessa terapêutica em pessoas com osteoporose e, mais especificamente, em indivíduos com fraturas do fêmur proximal.

Da mesma forma, não está bem claro qual grupo de pacientes é mais suscetível a fraturar essa região, bem como quais marcadores clínicos podem anunciar o aparecimento de tais lesões. Além disso, em uma parcela pequena dos pacientes osteoporóticos com doença de baixa remodelação e consequente deficiência na formação óssea, a exemplo dos fumantes e dos hepatopatas, o uso do bisfosfonato poderia ser questionado. Como se observa, o assunto está longe de ser esgotado, mas indica desde já que é necessária uma maior cautela na administração e no acompanhamento do tratamento com tais medicações. 


À esquerda, a imagem coronal ponderada em T2 mostra espessamento focal da cortical óssea no contorno lateral da diáfise femoral, com pequena imagem linear no seu interior, que representa a fratura incompleta. O traço de fratura localiza-se na cortical lateral da região subtrocanteriana (diáfise), e não na cortical medial do colo femoral, como ocorre nas fraturas por estresse.

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De onde vem o efeito paradoxal dos bisfosfonatos?
Os bisfosfonatos induzem a apoptose dos osteoclastos, reduzindo a reabsorção óssea, o que leva a um incremento na espessura e na mineralização das trabéculas ósseas, com consequente aumento de sua densidade, mas promovem, ao mesmo tempo, um remodelamento e um reparo anormal de tais estruturas. Essa ação comprovadamente reduz o risco de fraturas vertebrais e do colo femoral, nas quais há predomínio de forças de compressão. Contudo, em áreas onde existem forças não só de compressão, mas também de tensão, como na convexidade da região subtrocanteriana femoral, o osso enrijecido, ou frozen bone, e com um trabeculado anormal pode ter uma resistência reduzida, que, assim, explicaria o surgimento da fratura atípica nessa localização.
Assessoria Médica
Dr. Alípio Gomes Ormond Filho: [email protected]
Dr. Xavier Stump: [email protected]